O Primo

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Bem, você que me acompanhou nos meus relatos, sabe que o tal primo distante, Paulo, pelo que eu havia citado era o garoto mais feio e mais ridículo que já conheci... Eu não gostava dele nem um pingo, sua aparência me enojava, sua cara cheia de espinhas me causava repulsa e o fato da inteligência dele ser reconhecida como superior a minha, me irritava!

Esse mesmo primo estava prestes a vir morar aqui com a gente e logo assim que fiquei sabendo da notícia quase tive um troço! Com tanta cidade, com tanta universidade no mundo ele tinha que fazer logo aqui!?

Eu não reclamei e simplesmente deixei de lado, afinal, se ele iria fazer faculdade nós nem iríamos nos ver muito, o que já era um bom sinal para uma convivência aturável. Mas confesso que fiquei com raiva porque durante a semana que eu tive que ficar esperando ele chegar, eu não pude me encontrar com Pablo.

Sim... A nossa relação elevou-se um patamar a mais. Quem diria que eu e Pablo ficaríamos assim tão... íntimos, e até dividiríamos o mesmo fetiche. Psicólogos explicam que os homens só definem realmente a sua sexualidade após os dezoito anos e que os conflitos psicológicos da adolescência os induzem a passar por fases de experiências. Eu espero que o Pablo continue com essa “fase de experiência” por um bom tempo.

Certo, mas voltando ao assunto... Esse meu primo, até então, era muito feio, muito feio mesmo – eu sei que já disse isso, mas é só para enfatizar – e de repente mudou. O garoto que estava ali no meu portão naquela tarde de sol quente era completamente diferente do Paulo que eu havia conhecido, de fato fazia uns tres anos que nós não nos víamos, mas a mudança dele foi radical... Até admito que ele estava gostoso.

– Bem, eu posso ficar aqui o dia todo se você quiser, afinal a mala nem está tão pesada assim. – A embalagem podia até ser outra, mas o conteúdo era o mesmo. O Paulo ainda continuava com o seu sarcasmo irritante.

– Você não mudou nadinha. – Eu disse por fim dando passagem para ele passar.

– Mentir é feio, ou vai me dizer que eu não estou mais bonito?

– Sei lá... Eu não saio por aí vendo a beleza dos homens – isso sim é mentira.

– Certo... O tio e a tia estão em casa?

– Não, eles são ocupados demais para esperar visitas sem importância.

– Você ainda não se conforma, né? Você sabe que o prodígio da família sou eu e por isso sente inveja... Que feio.

Segurei a raiva que me tomou conta por alguns segundos e disse:

– O seu quarto fica no segundo piso, a primeira porta do coredor no lado direito.

Ele arrastou sua mala até a escada e perguntou:

– Você vai me ajudar?

– Eu acho que o prodígio da família consegue muito bem, sozinho, carregar a mala até o quarto de hóspedes.

– Você tem razão.

Ele sumiu pela escada.

Eu voltei a assistir a programação da TV e alguns segundos depois ele desceu enrolado só em uma toalha e perguntou:

– Onde é o banheiro?

Eu ouvi a pergunta, mas ao mesmo tempo meu cérebro visualizava aquele abdômen definido que eu já havia suspeitado que ele tinha. Não tinha como negar, ele estava muito gostoso, mas como conseguiu isso... Nem a ciência explica.

– Não sei se você reparou, mas a única porta branca do coredor é o banheiro, é fácil e não tem como errar, a não ser que você seja daltônico e confunda as demais portas pretas com a única porta branca.

– Certo cavalo, prazer meu nome é capim! - Após isso ele voltou a subir as escadas.

Cavalos comem capim, ele não foi muito feliz nessa piada sem graça.

O Diário de um Podólatra 2 - O PrimoOnde histórias criam vida. Descubra agora