Capítulo 2

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Quando todo mundo acredita em você, como deve ser isso?
The ManTaylor Swift

         É meio dia e como combinado estou no restaurante escolhido pelos meus clientes para o almoço de negócios. É um lugar no alto. Francisque é um restaurante francês, daqueles que segue a risca a cultura, a gastronomia e os hábitos da França. Fica no sexagésimo sexto andar do prédio com o mesmo nome, é um hotel na verdade, um com quem tenho uma relação profissional. A minha empresa presta serviços para o mesmo aqui e em outros lugares onde eles existem, pois assim como eles possuo filiais. 

— Obrigada, — murmuro para o garçom assim que o cardápio me é entregue, ele acena e se retira.

Passeio pelo caderno cheio de nomes elegantes e de difíceis de pronunciar. Meu francês é razoável, mas apenas para manter uma conversa de três linhas, saudar, fechar um negócio e me despedir, nada mais. Para ser sincera nunca tive curiosidade em aprender muito sobre a língua, porque podia muito bem fazê-lo, afinal sou poliglota, além do inglês, falo russo, alemão, espanhol, mandarim e coreano. Francês tiraria de letra, contudo, algo sobre a França não me cria excitação, não possuo curiosidade sobre a cultura, costumes ou história. Não sou apaixonada pelas cidades e as histórias mágicas de amor, e pior pela gastronomia.

Julguem-me perguntando o que estou fazendo num restaurante francês se odeio tudo relacionado a França? A verdade é que era melhor que estar num chinês, já que meu principal cliente é chinês e queria que eu conhecesse um pouco da gastronomia do seu país. Não que não gostasse da gastronomia chinesa, gostava, mas não estava com vontade. Para minha sorte o sócio dele sugeriu este lugar, como seria rude recusar uma outra opção eu aceitei.

— Já escolheu o que vai comer? — O sócio do meu cliente pergunta.

— Não, —sou curta.

Ele me lança um sorriso amarelo antes de voltar com sua atenção para o sócio. Não suporto Joseph Spurs e o sentimento é recíproco, no entanto para o meu azar, o meu cliente o escolheu como seu sócio, dentre tantos empresários de sucesso no ramo hoteleiro, e para o azar dele, também fui escolhida para prestar serviços de limpeza no hotel que irão abrir juntos.

Eu podia declinar a oferta, mas Chang é um cliente fiel no seu país, minha empresa está em todos os seus negócios. E também não sou de recusar desafios, pois trabalhar com Spurs depois de ter deixado bem claro para mim que pretos são seres desprezíveis, inferiores, selvagens e que deviam "voltar para a pocilga de onde sairam" — em suas palavras —, eram um desafio. Antes que me perguntem, eu o denunciei por descriminação, mas não deu em nada, quando me disse isso era apenas uma auxiliar de limpeza num dos seus hotéis e ele o homem de negócios que ainda é hoje. Tinha vinte anos e ninguém acreditou em mim, mas não era só aquilo, a queixa era acrescida de uma tentativa frustrada de conseguir que o beijasse na base do uso de força física.

Tudo que disse devia ser suficiente para ele estar preso, mas não foi, os policiais não acreditaram que alguém como ele podia avançar numa preta, não com tantas moças brancas, jovens, bonitas, estudadas e do seu nível social. A denúncia não passou de mais uma arquivada, perdi fé na polícia nessa fase da minha vida e isso se arrasta até aos dias de hoje.

— Já decidi - digo de rompante interrompendo a conversa em tom baixo dos dois. Chamo o garçom. — Um magret à l'orange, por favor. 

— E os senhores? — o jovem, com todo o profissionalismo, pergunta.

— O mesmo. — Chang diz em mandarim, Spurs traduz e eu apenas aceno em concordância. — Para beber traga vinho, o melhor da safra — Spurs completa, poupando o jovem atendente de perguntar tal coisa.

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