Capítulo 9

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       •••Denver•••


Numa escala de zero a dez, meu dia está no oito. Oito de exageradas emoções e reacções, oito do meu silêncio e oito de constrangimentos. Está sendo intenso pois mesmo depois de toda a recusa e hesitação Summer está aqui no meu carro, indo comigo ao veterinário buscar Yeti. Claro que ela não está aqui como uma amiga trocando sorrisos e contando coisas sobre ela. Está ao meu lado como alguém que aceitou a minha oferta de leva-la para casa, alguém que não sente necessidade alguma de conversar comigo ou me dirigir o olhar. Sei disso porque estamos na metade do caminho e ela não se virou uma vez sequer desde que colocou a cabeça apoiada a janela.

Aperto o volante, é estranho. Mas é um estranho bom, esse silêncio. Tenho espaço e brecha suficiente para admira-la. Não é uma mulher exótica, não. Também não é de beleza mediana. É fantasticamente bonita. Daquele jeito que daria para estampar a cara dela em algumas coisas e as pessoas não se importarem com isso. Do tipo que dá para eternizar numa pintura ou fazer uma escultura. Do tipo que faz o cômodo virar para olhar para ela quando coloca alguns fios do cabelo atrás da orelha. Do tipo que me faz perder o controle do tempo e travar de repente ao notar de relance que o sinal mudou.

— Merda! — Ela diz sentindo a inércia da travagem brusca. — O que foi isso? — Se vira para me encarar. Seus olhos estão esbugalhados e seu peito sobe e desce freneticamente.

— Mil perdões, estava distraído. — Digo de imediato saindo do estado de transe. Foi também um choque para mim.

— Com o quê por céus? Quase nos mata!! — Ela grita.

— Desculpa — digo, um pouco mais calmo e desabrigado do cinto de segurança. — Está tudo bem? — Estou mais próximo dela, tentando acalma-la.

— Espero que sim nem, — ela coloca a mão no abdômen — oh céus! —Respira fundo e de maneira pesada, como se sentisse o alívio de uma informação que me é omissa.

— Summer, me desculpe — toco seu ombro. Ela se vira e me encara. Está com um olhar de choque.

Rápidamente retiro minha mão e volto a atenção a estrada. Aperto o cinto e controlo o sinal. Quando o mesmo abre voltamos a estrada num silêncio pior que o primeiro. Sinto que cruzei o limite, mas ela também não demonstrou nenhuma recusa. Quero me desculpar pelo toque ao mesmo tempo que não quero. Aperto o volante e me viro de raspão, nesse instante nossos olhos se encontram.

Summer me encara com os globos castanhos, seu olhar ainda é um choque, mas posso decifrar curiosidade também deles. Ela os afina e cruza os braços adotando já um postura mais séria e para alguém que fosse pequeno seria intimidadora. A mim, só arranca um sorriso singelo. Não mostro os doentes, sorrio de forma contida e então ouço.

— Pode me explicar o que foi aquilo? — Sua voz quer soar ameaçadora. — Eu mal descobri que estou grávida e você já quer me matar! Onde estava com a cabeça, por céus?

Analisando seu rosto! Penso, porém, não expresso. Não é conveniente que eu diga algo assim. Não é conveniente que eu diga qualquer coisa, ainda mais justificando tamanha falta de atenção. Nos coloquei em perigo e reconheço isso, logo me desculpo.

— Estamos quase chegando — mudo de assunto assim que o sinal abre, segundos depois.

— Humm. Olhos na estrada dessa vez — me olha pelo canto e relaxa no banco quando aceno para sua recomendação.

Consigo ver pelo canto do olho que sua mão não abandona o abdômen. Ela a mantém ali durante todo trajeto. Noto também que não há nenhuma aliança, nada. Nenhum vestígio de compromisso e logo a hipótese de Karl de que ela poderia ser solteira apenas porque não casou — ainda— é refutada. Completamente refutada porque qual louco não pediria a mão dela em casamento? Ou tentaria ao menos marcar o território com um anel de compromisso? Não precisava ser diamantes.

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