Capítulo 8

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Não é o fim do mundo, você pode pegar uma estrela se o céu estiver caindo.
Not the end of the world — Katy Perry

Actualmente...

•••SUMMER•••


     Eu odeio o sorriso dele. E odiei a forma morna com a qual me foi dada a notícia. Eu sabia, quer dizer, eu desconfiava. Desde que voltei de Berlim não houve nada além de ficar doente, deixar de lado minhas comidas favoritas e dormir. Eu já desconfiava, mas ter certeza é um outro nível de realidade. Tinham se passado cinco semanas desde o procedimento e o jeito como foi mandado o profissional de laboratório para recolher amostras minhas de sangue na sexta-feira quando informei Dr. Cyrus que me encontrava incomodada me pôs fantasiando este momento.

É tudo o que queria e desejava? É sim. Mas também é um momento meio "merda" se posso assim dizer. Porquê eu não estou radiando felicidade e pulando de alegria? Porque eu estou paralisada olhando dos meus médicos para o homem ao meu lado? Porquê ele parece mais feliz que eu? Desculpe, mas o seu sorriso de um canto ao outro como se me dissesse "serei o melhor pai do mundo" me apavora.

E confesso que eu estou com medo.

Me levanto quase que automática e saio da sala buscando um espaço para que eu possa respirar. Estou caminhando e é como se o tempo tivesse parado e ao meu redor ninguém estivesse. No fundo alguém me chama, mas estou submersa em minha própria crise existencial que o eco do meu nome é apenas isso, um eco.

Tudo isto é demais para mim. E se eu não for suficiente? E se eu não conseguir carregar a gravidez até ao fim?

Entro na primeira porta que encontro e tranco cedendo sobre a superfície gelada enquanto me sento no chão abraçando meus joelhos. Não estou chorando. Nem isso estou conseguindo de momento. Mas também não estou calma, consigo sentir meu corça disparado, minha respiração pesada e meu estômago embrulhado.

Estou com medo num momento em que tudo o que deveria ser é otimista. Mas não consigo evitar. O pânico é mais forte que eu, as interrogações são mais gritantes que a alegria e minha mente vence meu coração. Ou se alia a ele e enfim desabo.

Lágrimas rolam e eu cubro meu rosto entre meus joelhos. Eu estou grávida! G-R-Á-V-I-D-A, grávida. Pela primeira vez desde que comecei a jornada eu consegui. Toco meu abdômen. Haviam sido mais de quatro procedimentos antes deste, doadores diferentes, rotinas diferentes. Céus, finalmente eu estou aqui.

— Summer? — Ouço a voz do meu irmão. Desato mais ainda em lágrimas. Não sei como reagir. — Vamos ao meu consultório sim? Podemos conversar lá.

Sua voz é terna. Preocupada. E eu me levanto rapidamente. Abro a porta e além de Ashton encontro Dr. Cyrus. Graças aos céus são só eles. E então eu aceito o abraço do meu irmão e sigo os passos dele até a sala.

Ashton é residente em cirurgia e sua sala é toda monocromática. Ele me põe sentada no sofá e senta ao meu lado, não consigo me afastar dele. Estou soluçando no mais baixo tom possível com o rosto afundado no ombro de Ash.

— Summer? — Dessa vez é Dr. Cyrus que chama meu nome. Seu tom também é contido. Eu levanto o rosto e o encaro. — Quando se sentir pronta estarei lhe aguardando em meu consultório.

— Está bem Lucas, — Ash responde por mim.

— Até breve.

Assim que ele saí eu solto um suspiro pesado e meu irmão me abraça mais um pouco. Vou ficando mais calma e quando ele percebe se afasta.

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