Capítulo 10

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           •••Summer•••



Quando as portas do elevador se abrem eu corro para meu quarto e me tranco nele. Estou tremendo e mal consigo me segurar em pé. Descalço as botas e me jogo na cama soltando um suspiro. O que fora aquilo? Aquele momento de fraqueza. E o que estava sendo isso? Não quero sentir nenhuma culpa. Porquê estou sentindo culpa? Fecho os olhos e inspiro lentamente. Consigo sentir as batidas do meu coração. Ele está quase saindo de mim e criando suas asas pronto para me abandonar. Bem que seria ótimo isso, assim eu poderia pensar com a cabeça e parar de escuta-lo.

Céus, estou exausta e confusa. Mais confusa que exausta. O dia foi uma autêntica montanha russa me trazendo diversas emoções. E eu devo ter algum problema porque não é possível que eu tenha saído de reticente à amigável, de alegre por ter comido meus pãozinhos para a que chora no colo dele. Chorar no colo dele? Onde é que eu estava, por céus? Abro os olhos, eu devo estar enlouquecendo.

Levanto e vou até ao cofre, se eu quero uma resposta está tudo nos documentos que não me dei ao trabalho de ler porque "confio" demais no meu irmão. Coloco a combinação e meu coração palpita quando o mesmo abre. Aqui tenho a verdade, o que pode fazer meus advogados o afastarem de mim. Sim, é isso. Eu o quero longe e não me importa se ele vive aqui ou não.

Tiro os papéis e sento-me no sofá me ajustando para uma leitura longa. São quinze páginas de documentos hospitalares e um envelope selado. Como eu não notei isso antes? Puxo envelope e afasto o resto. Sinto que se eu quero saber de algo é melhor encurtar o trabalho e ler o que quer que esteja dentro disso.
Desfaço o selo e tiro. É uma carta. Ou melhor, um termo, um que pelo primeiro parágrafo já se torna bem expressivo.

5 de Março de 1998

Sou Denver e meus valores e princípios vão continuar os mesmos não importa o tempo que passe. E basicamente o que nunca vai mudar é o facto de acreditar que filho é tarefa para dois e, se estiver lendo este termo/carta, chame como preferir, é porque eu serei a segunda parte da equação.
Sei que não importa mencionar muito sobre mim porque teremos tempo de sobra para nos conhecer e embora eu tenha só vinte anos, saiba que aprendi com o melhor pai do mundo o que um pai deve fazer para impactar a vida do seu filho.
Meu pai é médico. E isso sempre levou as pessoas a pensarem que ele nunca tem tempo. Para as pessoas com certeza ele não tem, mas para mim, papai sempre tem tempo.
Todos os meus aniversários passamos juntos, ele foi meu professor de natação, me pôs para dormir todas as noites que me lembro e leu várias histórias para mim. Me deixou todos os dias na escola e quando minha mãe não conseguia me levar, ele ia me buscar de volta para casa. Em casa, ele cuidava de mim.
Meu pai se vestiu de todos meus super-heróis favoritos nas diferentes festas de aniversário que tive e meu pai, bom ele foi e é um pai incrível.
Ele não se importa que eu estude Arquitetura ao invés de medicina e muito menos deixa os aniversários passarem sem ele. Estamos distantes e ele conduz sempre até a minha fraternidade para me dar o parabéns. São quatro horas de estrada.
Eu não sei como é tua vida, mas eu quero que saiba que pode contar comigo, farei tudo que listei acima e mais se for necessário. Tenho a quem me espelhar e pedir conselhos pois sei que irei precisar.
Sei que tudo que listei acima parece bom demais para ser verdade, mas darei meu melhor.
Prometo, pois reconheço a importância de uma figura paterna e provarei o meu valor apesar das minhas imperfeições.
Sim, não sou perfeito, mas tenho vontade de me ajustar e espero que possamos conseguir isso juntos.
É isso.

Ass, Denver.

Quando termino estou secando o canto dos olhos. Sou humana e me comovo, mas isso não significa que o deixarei entrar na minha vida. Apenas que percebo seu ponto e considero plausível, mas não o suficiente. Palavra escritas por um jovem de vinte anos que nasceu com o melhor da vida são apenas palavras para mim e nada demais. Ouço batidas na porta e me assusto, limpo os olhos bem rápido e organizo os papéis colocando a carta embaixo. Não quero tamanha bobagem criando alvoroço na minha vida.

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