Capítulo 29

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"Ele já está em Londres." Clarice respondeu depois de tantas perguntas indo por tantos caminhos diferentes, com ela sabendo que Richard estava, a todo momento, hesitando em perguntar tão abertamente sobre Christopher, ela podia sentir todo o corpo de Richard petrificado por isso, principalmente tocar a preocupação que ele estava tentando esconder a todo momento. Richard negaria se ela colocasse à claro tal observação, mas era tão claro que não precisou expor à ele, Clarice somente viu as pistas deixadas pelo caminho.

Clarice não observou seu chefe somente depois de sua viagem à Rússia, ela viu muita coisa antes, talvez coisas que ela já suspeitasse que viriam como resultado também de algo posterior, considerando os eventos que estavam no mesmo período, ela viu Richard bem mais diferente e longe do que ele já estava. Seu humor escuro foi sua primeira observação, ainda que essa fosse a observação mais recorrente diante dos seus dias, ela viu Richard humilhar, demitir e reduzir pessoas à lixo durante toda a temporada de Christopher na Rússia e principalmente nos episódios pelos quais ele ousou aparecer ao lado de Stalinovski.

Foram muitos.

Christopher sempre estava do lado dele os dias todos, ela não tirava a razão dos tablóides russos em notificarem muitas suspeitas de proximidade romântica quase que evidente ali, pelo menos passível de ser evidente. A postura de Stalinovski ao lado do garoto entregava os pontos, era protetora e aparentemente possessiva, ele mais parecia um namorado protetor que um possível amigo de Christopher, e se ela fosse mais além, até mesmo o menino parecia contribuir com a mesma imagem e reforçar suas observações mais detalhadas.

E as fotos vieram bem mais, uma atrás da outra.

Richard quebrou quase tudo o que era de vidro no seu escritório, ele socou a parede deixando danos visivelmente assustadores nela, algo que ela nunca havia esperado do seu chefe, Clarice entrava naquela sala em meio a pedaços estilhaçados pelo chão, lesões visíveis nos punhos de Richard e em outras vezes com o cheiro de álcool forte naquele lugar. Ela chegou ver Richard bêbado falando sozinho, sentado naquele sofá da sua cobertura olhando fixo para o celular com a foto de Christopher e na outra mão uma garrafa de vodka. Em tese, Richard não bebia, socialmente chegava a ser muito pouco, ele sempre havia odiado bebida alcoólica, metade da sua família tinha esse problema, muitos dos seus tios morreram pelos efeitos do álcool e eram parentes muito próximos dele, mas ele parecia não notar o quão próximo ele estava deles naquele momento. Ele estava bebendo todos os dias, ele chegava indisposto na sede e principalmente escuro, com o rosto cansado e aparentemente sem nenhuma noite de sono bem dormida.

Muitas vezes ela chegou a ouvir o que ele dizia, a maioria das falas era um pouco ilegível, parecia um conjunto de sons difíceis de codificar, mas ela ouviu Richard se culpando, autodenominando um idiota, imbecil, um filho da puta. Outras ela viu Richard culpando à Christopher, chamando-o de idiota, imbecil e de fodido. Aquele garoto realmente tinha a mente de Richard nas suas mãos, Clarice não mencionaria o coração dele, pois se recusava acreditar na teoria de que o coração funcionava para sentimentos a ponto de adoecer alguém. Ela viu Richard fumar, algo que ela nunca imaginou ver, ela viu Richard cancelar compromissos importantes com homens que ele não deveria brincar com indisposição, mas ele fez, ela viu Richard chamar mulheres para seu apartamento e em menos de poucos segundos despachando-as.

Quando Clarice havia entrado na cobertura dele vendo-o sem camisa e com uma garrafa de vodka na mão olhando longe, Richard não disfarçou seu momento de merda, ele continuou ali, ignorando a presença dela, ele tomou mais da bebida, ele chamou Christopher e andou cambaleando até o quarto. Ela teve que tratar de incidentes no trânsito pela qual seu chefe havia se envolvido por dirigir alcoolizado, ela teve que suprimir um bando de escândalos que a imagem de Richard estava incorporando todos os dias, mas o que ela mais se preocupou foi com o adoecimento mental de Richard, pois ela viu o cara fechando-se para dentro dele e se perdendo no mesmo caminho. Se ela fosse extremamente honesta para dizer à ele, e não levasse em conta seu medo de atingir um nervo instável dele, ela diria que era culpa dele tudo o que estava acontecendo, pois ela tinha avisado as implicações disso em duas esferas, ainda que não tivesse reforçado o que aconteceria com ele, porque nas hipóteses mais certas, Clarice não podia falar de sentimentos com Richard, seu campo de atuação era outro ao trabalhar para ele, mas ainda assim tinha consciência dessa possível realidade que viria à claro e Clarice pensava que Richard pensou nesse mesmo ponto, mas estava muito enganada, ele havia agido tão por instintos que esqueceu completamente dele mesmo e estava afogado num monte de merda da qual era o único culpado, ainda que sabia que ele provavelmente diria que Christopher tinha porcentagens nisso, o que não era verdade. Christopher não tinha culpa de nada e Clarice odiava o fato de que ele queria que o menino tomasse atitude. Que porra de atitude ele queria que o garoto tomasse? Enfrentar o pai? Ele não podia, Richard sabia disso, mas ele julgou Christopher por isso, o que realmente reforçou sua teoria de que as pessoas não entendem a realidade das outras e costumam pedir por atitudes quando lhes convém julgar do seu comodismo.

Apenas um Imprevisível (Uncontrolled Guys Series Book 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora