Rain

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Meu quarto ficava no sótão. Sei que a primeira ideia que vem e um local apertado e escuro, mas era o oposto.

Apesar de dançar desde os sete anos, somente ao completar dez meus pais viram meu progresso e depois de algum tempo viram que eu precisaria de um espaço para poder ensaiar, e como único lugar com espaço de sobra era esse me mudei .Era perfeito. Tinha espelhos que cobria a parede direita, junto dela uma barra móvel, minhas sapatilhas e vários troféus ficavam próximo delas.

Não vou mentir, o meu quarto parecia de princesa. A cama ficava bem no meio e era enorme com diversas almofadas de seda. Na parede do lado esquerdo, ficava a janela que dava para a parte de trás da casa. Todas as vezes que olhava por ela e via a floresta densa com um pequeno lago, me sentia em um filme dos anos vinte.

Mas a melhor parte era pode descer e subir sem me verem. Isso era maravilhoso para eu sair ou para o Rain entrar. Como a porta do meu quarto vivia travando era um bom motivo para deixá-la trancada.

Obviamente não tinha permissão para leva ninguém para o meu quarto ou ir a festa com meninos e bebidas, isso sempre foi algo que assombrava meus pais, e namoro era assunto proibido para mim. O discurso era que só deveria namorar quando tivesse a certeza que iria me casar e a frase favorita e "quando você for madura o suficiente".

Ainda assim contra todas as advertência e proibições existia o Rain, era difícil mas não impossível.

Resolvi ligar para o Rain. Não estava me sentindo muito bem. Pensar sobre a possibilidade de que Paulo podia não sobreviver acabava comigo.

-Oi, está podendo falar? -se não me enganava essa deve ter sido a terceira vez que o liguem desde que começamos a namora a um ano.

-Pra você sempre- ele brinco- aconteceu algo? Você nunca me liga .

-É o meu irmão, ele sofreu um acidente de carro e está muito mal.

-O Paulo ou o Caleb? Você es... , você está ferida? - ele disse preocupado.

- Eu estou bem... foi com o Paulo na faculdade, não foi aqui. Meus pais já foram para lá saber como ele está. - falei com voz chorosa.

- Você quer que eu vá ficar com você? Estou indo pra sua casa agora! - ele falou sem esperar minha resposta.

Cerca de quinze minutos ele bateu na janela do meu quarto. Abri e ele me abraçou tão forte que cheguei a perder o fôlego por um segundo.

- Sinto muito, você está bem? É obvio que não. - Ele geralmente era assim. Perguntava e ele mesmo respondia. Ele me abraçou novamente como se resolvesse todos os problemas do mundo. Ele me trazia paz e eu me sentia completa nos braços em seus braços.

Ele era negro com o porte atlético, tinha o sorriso mais branco e cativante que já vi. Era universitário, cursava jornalismo na faculdade da cidade e jogava futebol, o que fazia com que todas as garotas o quisessem. Por um segundo eu tinha esquecido a porta aberta. Me soltei dos braços dele e corri para trancar a porta.

-Pronto, agora podemos falar.- disse sorrindo.

- Mas os seus pais não estão em casa. Para que trancar a porta?- perguntou já se jogando na minha cama como ele costumava fazer.

-Você esqueceu o nosso varãozinho Calebe? Se ele te ver aqui vai ligar para minha mãe e aí você sabe como vai ser.- falei me sentando do lado oposto ao dele na cama.

- Não entendo porque de tanto mistério de nós dois para os seus pais. Você já é bem crescidinha para tomar suas próprias decisões.- falou ele jogando uma almofada em mim. Eu ri.

-Já conversamos sobre isso mil vezes.... Tem a ver com o que eles creem...- ele me interrompeu

-E você crê nisso também? - Ele me olhou seriamente.

CORAÇÃO OBSTINADOOnde histórias criam vida. Descubra agora