Piloto

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EVIE RODWELL - 3 meses depois.

Meu avental estava completamente sujo com tintas de diversas cores, mas eu me sentia orgulhosa por ter terminado meu desenho. Na tela havia um homem, ele continha as mesmas tatuagens que eu — que no caso, são runas — seu cabelo são castanhos e com pontas para direções diferentes. Ele trajava uma jaqueta com uma blusa preta, e um aljava nas costas com flecha e um arco na mão. Sua expressão era séria, totalmente centrada.

Esse homem simplesmente havia surgido na minha cabeça, e eu o desenhei. Acredito que ele seja uma pessoa das minhas lembranças perdidas, uma pessoa importante pra mim.

— Quem é esse homem? — senti o beijo de Daniel no meu ombro, e esbocei um sorriso.

— Não faço mínima ideia, só me veio na cabeça — sussurrei.

— Vou começar a ficar com ciúmes, você desenha todos os homens do mundo, menos eu — Daniel fez um bico fofo e balancei a cabeça em negação.

Há três meses atrás, Josette me encontrou nas margens de um rio. Eu estava com um ferimento grave no abdômen, e a cabeça estava machucada. Eu estava morrendo, e ela me salvou. Fez um portal para Toronto no Canadá, onde ela ainda mora, e me curou. Eu acordei sem saber de nada de quem sou, e ainda não me lembro muita coisa. As únicas coisas que me lembro são as que são suficiente para ao menos saber meu nome. Quando ela me contou que é uma feiticeira, eu fiquei completamente confusa, até ele me mostrar seus feitiços. Josette não escondeu que sou uma shadowhunter, ainda mais por conta das runas que residem no meu corpo, e um tempo depois, descobri que também sou uma feiticeira. Híbrida, como chamam.

Eu não fiz questão de ingressar nesse mundo sobrenatural, por mais que aprendi tudo para me defender. Ela me ensinou como ser uma feiticeira, e quanto ao lado de shadowhunter...Eu aprendi a lutar.

Segui uma vida como mundana. Comecei uma faculdade de Artes, trabalho na biblioteca da cidade pela tarde e vou para treinos no final de semana. Até que um dia eu conheci Daniel Jones na biblioteca, ele estava todo atrapalhado procurando seu livro. Quando ele me viu, ficou todo abobado. Ele me chamou para sair depois de uns dias indo todo dia na biblioteca com desculpas esfarrapadas, e começamos a namorar um tempo depois. Eu diria que ele foi a minha luz em todo esse caos.

Mesmo que eu tenha seguido uma vida, eu não me sinto casa, eu me sinto vazia, como se tudo estivesse faltando na minha vida, e Daniel não é capaz de preencher isso. A única coisa que me faz sentir em casa, em paz, segura, é um anel que tenho na mão esquerda no anelar. É um anel cinza e grosso, com chamas em detalhe, e havia a sigla "L" no meio. Não sei o que significa, mas acredito que seja algo de família ou que alguém me deu porque me considera muito.

— Não se lembrou de mais nada da sua vida? — questionou fazendo um carinho no meu cabelo.

—  Não, eu não me lembro — suspirei frustrada.

— Tudo bem, você vai se lembrar — Me deu esperanças.

— Não é só me lembrar — Me virei para ele — Eu preciso conhecer as pessoas que um dia foram importantes para mim —  Me voltei para o desenho e o toquei com cuidado — Esse homem...ele pode ter feito parte da minha vida, pode ter sido qualquer coisa importante para mim — meus dedos deslizaram por cada parte do desenho — As memórias que tive foram claras, eu tinha um pai, um homem bonito que me ensinava tudo. Eu preciso saber se ele ainda está vivo. Eu preciso voltar a Nova York.

— Evie — senti sua mão no meu ombro — Josette mesmo disse, shadowhunters podem rastrear por runas e feiticeiros por magia. Por que eles não te encontraram ainda nesses três meses?

Isso fazia sentido, e é uma pergunta que me assola todos os dias. Mas mesmo assim, eu não perdi as esperanças. Eu sei que estão procurando por mim, mas não posso continuar aqui sentada, esperando que me encontrem.

— Eu sei que estão procurando por mim — uma lágrima teimosa desceu pelo meu rosto — Eu sei que em algum lugar de Nova York existe pessoas que me amam, e que me querem de volta. Só que não posso continuar aqui esperando.

— E o que pretende fazer? — estava curioso.

— Eu vou para Nova York, vou encontrar a minha família, os meus amigos — falei decidida.

— Nova York é uma cidade grande, além de que existe seres sobrenaturais.

— Eu também sou um desses seres, Daniel. Eu sei me defender. Posso não ter as armas de shadowhunters, mas eu tenho magia e sou ótima nisso. Eu vou para Nova York independente do que diga.

— Eu não vou te impedir de nada, não posso fazer isso. Mas eu vou com você para onde você for, não vou te deixar sozinha procurando por eles —  tocou minha mão fazendo um carinho.

— Eu posso procurar pelo Instituto que existe lá. Josette disse que shadowhunters vivem em institutos, eu posso ter vindo de lá.

— Evie, nos vamos encontrá-los.

Desviei meu olhar para o anel no meu dedo, e sorri dando um beijo nele. Seja lá quem me deu, vou encontrar essa pessoa de novo.

ALEC LIGHTWOOD

Meus dedos passaram pelo porta-retrato do dia do nosso casamento que fica no meu escritório, e tentei controlar as lágrimas, mas elas ainda insistiam em descer de forma lenta. Eu me sentia culpado por tudo, culpado por não dizer o quanto eu a amava independente de tudo.

Não nego que fiquei magoado por ela ter mentido, por ela ter escondido de mim quem realmente era, mas se eu soubesse que seria a última vez que eu a veria, eu jamais teria agido como uma criança e parado de falar com ela.

Nesses três nesses, eu vi Magnus, Connor e Imogen juntos, chorando abraçados por ter perdido a mesma pessoa em comum. A inquisidora mandou seus melhores guardas de elite para procurar por ela, e sempre liga quando pode para saber mais.

Eu vi Connor e Magnus se juntarem junto com Catarina Loss e fazerem o possível e impossível, eu vi Isabelle chorando de madrugada, se culpando porque ela havia tido a ideia de se separar. Eu vi Clary e Jace junto com outros shadowhunters do Instituto passarem meses procurando por ela dia e noite. Nada funcionou, é como se ela tivesse deixado de existir.

Não conseguimos encontrá-la pela runa, e nem por magia. Evie Rodwell simplesmente desapareceu sem deixar rastros, e isso está me matando cada dia mais.

Eu ouvia outros shadowhunters considerando que talvez tivesse sido morta por Jonathan Morgenstern, mas ele não pode responder por isso, já que o Jace o matou, assim como Valentim também morreu. É algo que não quero levar em conta, eu sinto que ela está viva em algum lugar.

— Sr. Lightwood — ouvi batidas na porta, e enxuguei as lágrimas. Underhill entrou parecendo envergonhado.

— Algum problema? — questionei fungando.

—  Procuramos pela senhora Lightwood por toda a cidade, aumentando o perímetro como o senhor mandou, mas não a encontramos. Alguns shadowhunters de outros institutos entraram em contato, quando o senhor não estava presente, e nenhum deles sabe sobre ela.

Respirei fundo tentando me conter. Eu não poderia voltar a chorar na frente dele.

— Senhor Lightwood, já se passaram  três meses, não tem mais nada que possamos fazer.

— Eu sei, eu sei — meus olhos marejaram ainda mais.

Eu não queria tomar aquela decisão, não queria ter que escolher aquilo, mas eu não tinha mais opções.

— Dê Evie Rodwell oficialmente como morta.

𝙈𝙚𝙢𝙤𝙧𝙞𝙚𝙨 ○ 𝓫𝓸𝓸𝓴 3Onde histórias criam vida. Descubra agora