Luto

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Acordei em meu quarto, cheia de coisas ao redor da cama.
Na escrivaninha em especifico, uma carta com um cd e uma caixinha pequena. Além disso, no canto do quarto, um case de guitarra. Igual o que Luka possuía. Por que estava ali?
Olhei ao redor, observando cada coisa depositada ali. Tinham diversas flores, pelúcias, algumas caixas e cartas em cima de cada coisa.

- Obrigada senhora Dupen Chang! - era a voz de Alya se aproximando, mas ela murmurava no meio de outras três vozes. Quatro pessoas.
Ela abriu a porta que dava para meu quarto na subida das escadas, eu estava sentada na cama.
Alya foi a primeira a entrar, com uma expressão de choque no rosto, em segundos correndo em minha direção e pulando em cima de mim - VOCÊ ESTÁ BEM! - Ela estava sentada em cima do meu corpo, me apalpando como se eu fosse um fantasma

- Marinette? - Nino foi o segundo a entrar, sorrindo, seguido de Kagami e Adrien.

- VOCÊ ESTÁ BEM! - Kagami foi a segunda a pular em mim e me abraçar, ela e Alya deitaram uma em cada lado, acariciando minha cabeça, me deixando mais confusa. Adrien sorriu timidamente ainda no canto do quarto e retribui o sorriso, amigavelmente

- É... - encarei cada um deles confusa - O que aconteceu? Que dia é hoje? - Então eles se entreolharam com olhares preocupados

- Marinette... - Alya ensaiou, desviando o olhar, nenhum deles olhava para mim - Hoje é dia 3 de Março... o que significa que se passaram 20 dias desde a luta contra Emilie... - ela me encarou rapidamente para conferir se eu estava acompanhando - Não se preocupe. Alguns monstros estranhos surgiram na cidade, mas nós todos estamos dando conta! Quer dizer... - ela coçou a nuca, sem graça e aparentemente sem saber como falar o que ela tinha que falar - Quase todos... no incidente... bem... Luka... - senti meu coração acelerar como se fosse rasgar meu peito à qualquer momento e flashes rápidos surgiam na minha mente, tão velozes que quase não conseguia acompanhar, eu já sabia o que Alya diria a seguir, então a poupei.

- Ele morreu, não foi? - sorri triste, fitando as cobertas e sentindo meus olhos encherem de lágrimas. Eu não tive resposta. Apenas pude sentir Alya e Kagami me abraçando novamente e senti meu choro aumentar a intensidade se transformando em soluços, entrando em prantos. Eu não precisava de uma confirmação verbal. Aquilo era o suficiente.

- Nós não pudemos fazer nada! Me perdoe! - Alya chorava junto, desesperada. Assim, Nino interferiu

- Quem tem que pedir desculpas sou eu - ele cortou nossos soluços e foi ouvido - Luka me explicou o plano antes que qualquer um de vocês soubessem. Eu estava ciente e já tinha conversado com ele, ele foi irredutível e disse que você entenderia, Marinette - ele olhou rapidamente para Adrien - lendo isso - Adrien se aproximou, ainda calado, e estendeu a carta que estava na escrivaninha.

Abri-a com cuidado e a cada palavra que eu lia, mais lágrimas caiam. Em certo ponto, tive que pausar a leitura pois meus olhos não permitiam que eu enxergasse, tomados por lagrimas.
Enquanto eu lia, a musica que estava no cd tocava na caixinha de som do computador e eu senti um aperto no peito. Era a voz dele. Era a melodia dele. Tentava acompanhar a musica pela carta, mas parecia cada vez mais impossível. Ele pedia que eu não chorasse com sua partida, mas como? Era minha culpa, eu gerei tudo aquilo. 
Entendia o porque da guitarra, entendia o porque da caixinha e percebi que de fato, uma caixa maior estava ali, guardando Sass. Eu precisava falar com ele.

- Por favor... me alcança a caixa... - estendi a mão para que Adrien me alcançasse - Obrigada... - abri e tirei a pulseira da cobra de dentro. Era doloroso vê-la assim. Sem um pulso. Sem Luka. Tomei liberdade de colocá-la e Sass apareceu na minha frente no mesmo instante - Sass...

- Guardiã... - ele sorriu cordialmente, por alguns segundos. Depois eu percebi que ele tremia, escondendo lágrimas e mais uma vez, tomei a liberdade de puxa-lo contra meu peito e acariciar sua pequena cabeça de cobra. - Ele pediu que eu dissesse mais uma vez que ele a amava e que aceitasse seu sacrifícios - explicava sempre puxando o som de "s" - Ele só queria que a senhorita fosse feliz. Disse que esse era seu propósito.

- Mas e ele... - tentava falar, engasgado em lágrimas - ele poderia ter sido mais feliz!

- Não, senhorita. Ele disse que cumpriu tudo o que desejava e agora só restava sua felicidade. Ele pediu que eu falasse com o jovem em particular para passar algumas instruções - ele apontou para Adrien - Agora ficarei bem. Obrigado.

Removi o bracelete, passando-o para Adrien que subiu para a sacada, conversando em particular com Sass sobre algum combinado com Luka.
Nesse meio tempo, me contaram o que aconteceu nos dias em que estive desacordada.
A ambulância chegou e levou Luka para UTI, eu fiquei alguns dias internada, mas entenderam que tive um coma devido o choque e logo voltei para casa, com os cuidados necessários. Gabriel Agreste com frequência me visitava, junto de Nathalie e Emilie foi para um hospício, internada por tempo indeterminado. Aparentemente os danos da conexão com o Kwami, mentalmente, eram irreparáveis. Ou pelo menos, não havia nenhum método conhecido.
Hawk Moth e Mayura retornaram, porém dispostos a ajudar os heróis contra as feras que surgiam, as que o Luka citou na carta. Além disso, Duusu, não sugava mais a vida da usuária, apenas não lhe proporcionava plenos poderes.
Chat se opôs aos pais e permaneceu do meu lado o tempo todo, por mais que amasse sua mãe. Além disso, minha identidade fora revelada para todos os que estavam presentes no local naquele momento em que desacordei. Ninguém mudou a forma que me via.
Foi o que Alya me contou, logo depois assumindo uma expressão séria e pedindo para que eu cumprisse o último desejo de Luka, que Juleka também já estava melhorando e que ninguém me culpava.
Luka não resistiu na UTI por ter perdido muito sangue e pelo bastão ter atravessado alguma parte vital quando ele segurou Mayura para Chloe acertar a ferroada e eu arrancar o broche. Aparentemente, o rompimento brusco de seus poderes, criou uma convulsão e Emilie passou maus bocados antes de ir para o hospício.

Alguns minutos depois, Alya, Nino e Kagami foram embora e Adrien desceu da sacada, com uma expressão distante.

- Queria que pudéssemos conversar a sós e eu tenho que falar coisas importantes... que eu suponho que você também tenha. Mas eu não quero agora. - ele se sentou do meu lado, pousando a mão sob a minha - Pode por pra fora. - ele encostou a cabeça na minha e senti mais lágrimas rolarem.

Nunca mais veríamos serie, cozinhariamos, dormiriamos, sairiamos, comeriamos sorvete... juntos... eu nunca mais o veria tocar guitarra em um show. Nunca mais entraria correndo na casa barco diretamente para a única porta sempre aberta ou iluminada. Nunca mais escutaria uma composição.
Eu nunca mais venderia macarons para ele, nem nunca mais o veria. 

- Está tudo bem, my lady. - Adrien virou o corpo de frente para mim, me abraçando - Vai ficar tudo bem... pode por pra fora agora.

Chorava descontroladamente enquanto Adrien afagava minha cabeça e me apertava contra o peito.
Parecia capaz de fazer toda a dor sumir, mas ela não sumia.

Luka foi embora para sempre.

9844, ainda amo você.Onde histórias criam vida. Descubra agora