Você já se sentiu sozinho ao extremo?

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Saio do veículo sentindo o mundo girar. Acho que bebi um pouco demais, ainda que tenha tapeado meu estômago com algumas porcarias. Kihyun ainda está bem, desfilando com seu traje brilhante e incrível. Nos despedimos rapidamente, porque já está vindo uma tonelada de câmeras e eu não quero sair em nenhuma delas.

Felizmente entro rapidamente, seguindo-o um pouco afastado. Devo ter aparecido no fundo de inúmeras fotografias, porém já não ligo muito para isso. Ele está conversando com outras pessoas, mesmo assim continuo seguindo-o. Bem, ele não está me apresentando a ninguém e eu evito me sentir triste por isso. Não tenho tanta importância assim para ele me apresentar aos seus amigos internacionais, né? Vou pensar assim por enquanto.

— Vou te deixar um pouco sozinho. Não se preocupe comigo — aviso perto do seu ouvido, por conta do volume da música.

Um dos amigos dele nota nossa conversa, então pergunta-o algo. Yoo sorri e olha para mim, quando percebo todos estão fazendo o mesmo.

Meu amigo coreano, Changkyun Lim — escuto-o falar aos caras, que logo se apresentam um por um e vêm me cumprimentar com apertos de mãos.

A conversa segue, mas não faço parte dela. Estou me sentindo deslocado. De repente vem mais pessoas de diferentes idades e estilos e todas estão conversando entre si e nem uma olha para mim. Eu não sou do ramo, não conheço ninguém, não sei o idioma. Estou mais perdido que Nemo, a diferença é que não tem ninguém me procurando.

Quando Kihyun torna-se parte do alvoroço de apertos de mãos, cumprimentos, risadas e afins, eu vou-me embora antes mesmo de ser mais excluído. É o momento dele, não vou atrapalhar. Estou meio zonzo com tamanha multidão e euforia. De repente me lembro que nunca pesquisei sobre ele na internet, deve ser por isso que malmente conheço sobre sua carreira França-Coréia ou seja-lá-mais-que-lugar. Queria poder ter tido esse zelo, porém conseguimos ser amigos mesmo sem essa questão.

Estão servindo bebidas, eu não hesito em aceitar. Bebo uma, duas, três e já chega. Como um croissant para não passar mal e saio um pouco para fumar. Meu vício me consome, me alimenta, torna-se parte de mim. Quero que isso me guie pela noite.

— Ei, amigo, você poderia me arranjar um também? — um cara aparece ao meu lado. Eu tomo um susto instantâneo por escutar coreano sem ser da boca de Kihyun e me viro para ele. Ele é alto.

— Hã... Pode ser — tiro um cigarro da caixa e entrego-o. O moço o põe na boca e eu pego o isqueiro, vindo com todo o cuidado fazer uma concha ao redor da chama para não apagar ao acender o cigarro.

— Valeu — ele agradece e se acomoda ao meu lado.

Estamos liberando fumaça em silêncio. Ambos sabemos por que estamos aqui, é claro, então não há muito o que conversarmos. Assim que seu cigarro chega ao fim, ele joga-o ao chão, agradece mais uma vez, me deseja uma boa noite e entra com um jeito impecavelmente imponente. Ele é coreano e isso é uma surpresa para mim. O máximo que pude encontrar aqui foi algumas japonesas e nem foram muitas. Bem, é melhor eu voltar e beber mais alguma coisa.

O evento já começou, mas não me parece muito interessante. Eu não estou entendendo nada e gostaria do meu celular aqui neste momento. Talvez se eu encontrar o Kihyun por aí eu consiga convencê-lo a me emprestar o seu por algum tempo. Mas não dá, Yoo agora está falando e eu não paro de pensar em quão lindo, maravilhoso e talentoso ele é.

Ele está com esse jeito meio tímido agora e ri de alguns comentários alheios. Ele gagueja, aperta o microfone bem forte e cita a Coréia incontáveis vezes. Mas em nenhuma delas ele olha para mim, talvez sequer se lembre que me trouxe debaixo do braço. Agora ele está falando algo sobre livros, porque essa é a palavra que mais está repetindo. Ele coça o nariz, pisca os olhos, expressa uma agonia facial com o som irritante do microfone e agradece ao moço que o concerta para ele. Kihyun se curva, ainda que aqui não tenha esse costume.

 café et cigarettes ┊ChangKiOnde histórias criam vida. Descubra agora