café et cigarettes ┊ChangKi

Você está com medo de mim?

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É óbvio que esse lance de realizar meu sonho e os caralhos afins é pura balela, conversa pra boi dormir. Ele quer mesmo é me traficar, estou vendo nos seus olhos. Quer dizer, nem tanto assim, seu cabelo está na frente e ele está inclinado. Mas se eu estivesse vendo seus olhos, com certeza teria a certeza de que essa é a verdade.

— Você está com medo de mim, por acaso? — Kihyun me pergunta como se não estivesse óbvio na minha cara.

— Nem tenho medo de nada — faço cara feia e me aproximo mais da janela. Acho que vou fugir por aqui.

— É melhor você ir tomar banho, se quiser, porque eu vou demorar um pouco e não quero te atrapalhar — ele fala ao levar alguns produtos para o banheiro. Ele volta no mesmo instante.

Eu tiro o que necessito da minha mala e praticamente corro até o banheiro. Com o coração na mão, giro a chave duas vezes para me certificar de que esteja realmente trancada. Suspiro, ponho a mão no peito e rezo para que minhas paranoias não sejam reais. Às vezes a realidade é melhor que minha imaginação.

— E não demore muito! — ele grita do outro lado da porta.

Sobre a pia está todos os seus produtos trazidos da Coréia. Eu só trouxe meu desodorante, perfume e meu creme dental favorito. Ele trouxe xampu, condicionador, hidratante corporal, creme para o rosto, gel de cabelo, fixador spray, desodorante, hidratante para mãos, base leve, BB Cream, um delineador, hidratante labial com cor, iluminador fruta cor, três perfumes diferentes e espuma para barbear.

Vamos ficar quanto tempo aqui? Um ano? Por que ele precisa de tudo isso quando, sendo honesto, ele já maravilhoso por si só, sem coisa alguma? Tudo bem, eu malmente o vi sem coisa alguma, mas no dia em que ele apareceu com a revista, ele estava atrasado e sem produto algum. Ele continuou lindo. Porque ele é lindo.

Ei, eu sei que é invasão de privacidade etc. Desculpa, porque agora estou abrindo seus perfumes e sentindo o cheiro de cada um para descobrir de onde é que vem esse cheiro putamente gostoso dele. E advinha? Não vem de nenhum deles. Um é amadeirado demais, o outro é tão doce que só com o aroma já sinto a diabetes e o terceiro é um cítrico bem leve. Em nenhum desses senti cheiro de flores, baunilha e mel. Droga, de onde vem esse cheiro, Deus?

Decido logo ir tomar meu banho. Aqui é tão chique que tenho até medo de pôr o pezinho e sujar o local. É difícil ter cautela num momento como este, por isso opto pela ducha. Morrendo de calor como bem estou, uma água gelada cairia imensamente bem. Esse voo me estressou e nem quero explicar o porquê. Às vezes você só quer tirar as impurezas do corpo com o pensamento de que assim tirará as impurezas interiores.

Enxugo-me rapidamente e visto a calça moletom nova que comprei nesta semana. Comumente não ligo com qual roupa vou dormir, porém seria loucura aparecer seminu na frente de Kihyun. Nem morto. Enfio a cabeça na gola de uma camiseta branca e saio do banheiro numa tremenda pressa.

Kihyun está sentado à uma espécie de escrivaninha — na verdade, ele transformou a mesa nisso — e parece realmente estar focado na sua atividade do momento. Seus dedos deslizam rápidos sobre o teclado do MacBook dele. Nem ouso olhar muito para o aparelho, tenho medo até disso. Essa merda deve custar o quinteto do meu aluguel e, se já está foda pagá-lo, imagina arcar com os custos do conserto, caso eu tombe nessa coisa?

— O banheiro está livre — aviso logo de uma vez. Ele faz que sim com a cabeça e eu me sento na king size, escolhendo logo o meu lado. O céu já está escuro e eu estou morrendo de sono.

Será que a voz da Adele pode ser minha trilha sonora rumo ao meu sono? Estou tão exausto e nem vou citar a falta de comida no meu estômago. Pego o iPad e escuto algumas músicas, para enfim dar-me conta da presença da Netflix aqui. Vou continuar a assistir uma série nova, se é que Jooheon não se importa. Estive viciado em "You" antes do meu celular tomar chá de sumiço. Quero nem lembrar disso, senão choro.

Sei exatamente em que episódio parei, o que torna tudo mais fácil. Estou assistindo ao episódio quando, finalmente, Kihyun se ergue e resolve ir tomar sua tão esperada ducha. Só que tem um problema, um puto problema.

Aliás, qual o problema desse cara, afinal de contas? Céus, é só ser uma pessoa normal e trocar de roupa no banheiro! Mas ele deve ser que nem eu, que só se troca no quarto e detesta fazer isso no banheiro. Mas... Alô, querido? Eu estou bem aqui e, ainda que eu seja um homem, é um pouco estranho ele estar fazendo isso bem na minha frente. Ok, tudo bem que ele desconhece a minha leve atração por ele, mesmo assim ainda é estranho. Sim, Kihyun está mesmo tirando a roupa bem na minha frente, antes de entrar no banheiro.

Ele se vira de costas como se fosse adiantar de algo. Minha cabeça está na mesma direção da tela do iPad, embora meus olhos estejam secretamente espiando-o por cima do aparelho. Ele está subindo a camisa vagarosamente, aumentando a porra da minha curiosidade. Isso porque ele está trocando mensagens com alguém no telefone e isso distrai-o. Por que estou assistindo mesmo?

Merda, nem estou prestando atenção ao episódio e parece que começou uma cena de sexo justo agora. Que ótimo momento para ficar escutando gemidos, não é mesmo? Nem olho para a tela quando vou pausar e, por conta disso, sem querer acabo não pausando, mas sim aumentando de uma única vez todo o volume da coisa. Sinto meus tímpanos explodirem e, assustado, dou um salto aturdido e tiro os fones do ouvido. Malditos gemidos da Beck, ela me deve e muito!

— Você é tão discreto, hyung — Kihyun se vira para mim e sorri. Ele está se divertindo com isso, esse desgraçado. Se não fosse por ele, eu não estaria tão vermelho assim. Essa droga está tão alta que é possível escutar no quarto inteiro.

— É uma série — me explico, capturando o aparelho e me apressando a pausar a porcaria. Abaixo todo o volume. Aliás, esse termo é equivocado, mas todo mundo usa. — E você n-não precisa me chamar de hyung.

— Uma série? Hm... Tudo bem. É verdade, você não precisa ser sincero comigo — ele dá de ombros e volta a ficar de costas para mim. Seu celular ainda está nas mãos.

— Não é bem isso...

— Ok — isso sai como um "tanto faz, não me vem ao caso". Mas ele está certo mesmo, não importa muito.

E é uma droga ser julgado assim, porque eu agora estou parecendo um maníaco na cabeça dele. Se não fosse aquele sonho esquisito e uma Beck safada, com certeza eu não estaria em maus lençóis. Mas quer saber? Dane-se. Vou assistir num outro momento, é melhor eu jogar alguma coisa agora. Vou foder com os Sims de Jooheon.

Ah, mas por que Kihyun insiste em fazer isso aqui? Está me fazendo morder os lábios de agonia, agora ele está abrindo a calça e eu já nem consigo me concentrar no jogo. A peça cai no chão. Meu coração está no chão. Como respirar depois disso? Ele afasta-a dos pés e separa junto com as outras. Então ele puxa um pouco a roupa íntima e, meu Deus do céu, eu estou prestes a gritar para ele parar. Que porra ele está fazendo com um corpo tão gostoso?

Parece que ele ouve minhas preces, ou talvez nunca quisesse tirar a cueca na minha frente, e sim ajeitá-la. Glorioso seja o deus Toth por ter posto a mãozinha na cabeça dele e dito: "filho, pare". Amém, eu acredito em milagres.

Kihyun deixa o celular sobre uma bancada e entra no banheiro empurrando o cabelo para trás. Socorro, seu corpo é tão twink quanto o meu. E se ele não for gay, ele com certeza é. Meu gaydar ficou mudo de tanto apitar, está óbvio. Não quero me lembrar do corpo dele, não vou. É melhor eu fazer o Sim de Jooheon se separar da mulher e armar ele com um homem antes que eu comece a ficar fissurado nessa tensão imaginária entre eu e Kihyun.

Ai, eu sei que é errado pensar assim, mas por alguns segundos fiquei tentado a querer tocá-lo. Alguém me diz para qual deus eu rezo pedindo que tudo isso vá embora de mim? Estou desesperado.

ᴄᴀғᴇ ᴇᴛ ᴄɪɢᴀʀᴇᴛᴛᴇs  •ᴄʜᴀɴɢᴋɪ•