Você é um pouco desobediente

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Minha boca está com gosto de sangue. Não, é a carne de hambúrguer queimada que comi no café da manhã. Era só pra dizer que comi algo, para que eu não tenha que ser pego no pulo passando mal e tenha que escutar um baita discurso com o sotaque carregado de Kihyun. Não que eu não goste do seu sotaque. Só não quero seu discurso por hoje.

Mas o metrô está cheio, como sempre. As ruas movimentadas, como sempre. E eu chego cedo. E então me visto. Não, roupa nova, é o que dizem. Tem meu nome no avental. Tem meu nome no broche. Changkyun. Lim Changkyun. Esqueci que hoje é o dia. Hoje é o dia que virá um pessoal para a nossa comemoração. Kihyun cresceu, o restaurante cresceu, ele conseguiu parcerias e inúmeras coisas. Ele conseguiu o que sempre quis de mim. Mas não mudamos. Eu esperava que mudássemos. Mas não mudamos.

Eu gosto dessa roupa. Gosto do tecido da camisa. Fino, quase transparente, ventilado. Gosto de usar um colete. Gosto do avental. Gosto da calça. Gosto da gravata borboleta. Gosto de como Kihyun me olha com essa roupa. Gosto de como sorri. Mas não sei que é que quer dizer.

Não nos vemos desde sábado à noite, quando saiu do nada após escutarmos Lana Del Rey. Queria que ele tivesse ficado um pouco mais, para escutarmos Cinnamon Girl, para que eu pudesse ganhar mais uma partida, para que eu tivesse posto mais água no fogo para mais café e poderíamos brigar pelos últimos pedaços do biscoito dele. Mas não. Ele foi embora. Ele foi embora de repente? Quais as chances de ele fazer de novo? De ele ir embora de repente.

— Feche um botão — sussurra em meu ouvido ao passar por mim. Olho para a minha roupa e constato um botão a mais aberto, mas simplesmente não pude fechá-lo pelo calor desgraçado que estou sentindo com tanta correria.

— Mas eu estou andando de um lado pro outro. Estou com calor — justifico. Estou feliz que pude facilmente esconder todas as marcas visíveis do meu corpo e, escorrendo meu olhar pelo teu pescoço, percebo que Kihyun também. Nem parece que estamos ambos rosa e roxo.

— Feche, Changkyun — e então afasta-se do nada, sorrindo para um senhor que bebe vinho e lhe chama de "amigo" o tempo inteiro.

Fecho o botão, aperto a bandeja entre meus dedos e corro para atender uma outra mesa. Eu odeio eventos, odeio comemorações, odeio gente rica. As únicas pessoas ricas que suporto é Jooheon e Kihyun. Quando tinha dezessete, talvez eu quisesse que a renda líquida de todos os milionários e bilionários do mundo fosse dividida para que acabasse com a pobreza. Eu acreditava nisso. Mas não parece que as coisas mudaram.

Eles bebem puro malte como se fosse água. Bebem vinho. Eu digo do que é, como é, de que ano, características... Tento o meu melhor. Ocupo-me com tudo, prefiro até. O cansaço me impede de pensar demais, de criar caso, de inventar dor. O trabalho me faz fugir de mim mesmo. Eu gosto disso.

Quando sirvo a mesa dois, decido que não me importam as palavras secas de Kihyun. Desabotoo mais um pouco a camisa e corro para pegar uma lata de refrigerante no freezer. Estou dando uma ajeitada aqui dentro quando um Kihyun mandão aparece na cozinha. Dou no pé antes que ele me veja.

— Me cubra enquanto vou ao banheiro — digo a um dos garçons e ele concorda.

Praticamente corro ao mictório. A calça é fácil de abrir, então concluo que minhas atividades por aqui serão rápidas. Assim que recolho-me e fecho a calça, sinto meu telefone vibrar no bolso. Esfrego as mãos com sabão e deixo o enxágue de qualquer jeito. A mensagem de Kihyun é clara: feche dois botões. Eu rio, respondo não e abro mais um botão. Acho que todos irão perceber, mas não estou dando muita importância para isso. Quero que Kihyun veja como as ordens dele funcionam em mim.

 café et cigarettes ┊ChangKiOnde histórias criam vida. Descubra agora