capítulo 5

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**Safira**

Depois das confusão toda do baile, fui pra casa do BH. A gente se pegou com vontade, tipo como se o mundo fosse acabar naquela noite. Transamos muito, tipo muito mesmo. Acordei já era quase 12:30, e ele tinha vazado. Me arrumei rapidão, desci, e fui pra casa.

Chegando lá, só tava dona Júlia.

— Oi, bom dia, dona Júlia.
— Bom dia, minha menina — ela sorriu e beijou minha testa —. Chegando agora?
— Tô sim. Fiquei na casa do BH... e tô com uma fome do cão.
— Vou preparar umas coisinhas pra você comer.

Enquanto ela ia pra cozinha, perguntei:

— Minha irmã já foi pra boca, né?
— Foi sim, menina. Hoje chega mercadoria nova. Tá tudo um corre só.

Comi tudo rapidão, subi, tomei aquele banho gostoso e fui escolher um look pra dar um rolê. Mandei mensagem no grupo:

**Grupo Whats On:**
— Meninas, vamos no shopping? Quero bater perna e soltar umas fofoca.
Nick: Vamo sim! Que horas?
Carol: Partiu.
Day: Só vamos!
— Daqui 30 min, perto da entrada.
Todas: Fechou!

Me arrumei, botei minha Hornet preta fosca na pista e desci na boca rapidão.

— E aí, maninha. Como tá o corre aqui?
— E aí,  Foi bom lá com o BH, né? Tá até com as marcas no pescoço, tá doida kkk. Por aqui tá tudo sob controle.
— Cala a boca, sua besta kkk. Vou pro shopping com as meninas. Mais tarde a gente vê um filminho juntas.
— Fechou. Se cuida, tá? Qualquer fita já sabe.

Subi na moto, acelerei. Chegando no shopping, encontrei com as meninas. Vimos um filme massa, demos rolê, rimos até passar mal. Quando vi, já era 20h. Voltei pra casa, Maia ainda tava no corre.

Tomei banho, pedi uma pizza, peguei uns doces, liguei o filme e fiquei mexendo nas redes. Vi o status da Bia e quase engasguei:

**(foto da Bia no espelho, colada em mim, as duas sorrindo. Ela de vestido colado e salto, eu de cropped e jeans rasgado. Título: "com ela é diferente.")**

.Reagi com um:
*"Linda demais... cuidado com esse charme, tem Gente que vai apaixonar"*

Na hora que postei isso, Maia entrou pela porta. Bateu o olho na TV, depois no celular que eu ainda segurava. A expressão dela mudou por um segundo — rápida, contida — mas eu vi. Vi o olhar escuro, o maxilar travado.

— Curtiu o shopping? — ela perguntou, largando a mochila no sofá.
— Aham. Encontrei com a Bia também, a gente bateu umas fotos. Ela tá mais bonita ainda.
— É... percebi. Tá se arrumando pra quem, será? — falou baixo, quase como se fosse pra ela mesma.

Deitou no sofá, cabeça no meu colo. Eu fiz cafuné. Ficamos em silêncio. Mas o peso no ar dava pra cortar com faca.

**Maia**

A tensão no morro tava igual fogueira prestes a pegar fogo. Muita dívida, muita cara nova rondando, muita gente falando demais. Os boatos da invasão cresceram, e o informante confirmou: os caras do morro vizinho iam tentar tomar o nosso. Covardemente, de madrugada.

Passei os dias no corre, armando tudo. Posicionamento, rota de fuga, ponto de rajada. BH tava comigo o tempo todo. Safira também, no que pôde, me ajudou. Mesmo sem ter passado por essas guerra ainda, mostrou fibra.

Chegou a madrugada. A mais longa da minha vida.

Duas da manhã já tinha gente se movendo. Ruídos estranhos nas vielas. Olhos atentos em cada laje. Dei o último papo pra galera:

— Se alguém der pra trás, a gente perde tudo. Aqui é nosso lar. Se tiver que morrer, a gente morre lutando!

Três e dez. O primeiro tiro.

Depois, só caos. Gritaria, explosões, barulho de granada. O chão tremia com a quantidade de bala que voava. Vi amigo cair. Vi moleque de quatorze puxar gatilho pra salvar o parceiro. O céu virou um inferno iluminado a cada rajada.

Tava na frente, liderando. Um cara veio por trás, tentou me pegar na traição. Virei a tempo e dei dois tiros no peito. Segui, correndo, me esgueirando pelos becos.

Quase quatro da manhã, o silêncio desceu. Parecia acabado. Mas eu sabia... sempre tem o último rato.

Voltei de moto por uma rua estreita, escura demais pro meu gosto. O vento cortava a pele. Quando ouvi o primeiro estampido, nem deu tempo. Senti a queimação na barriga. A moto caiu, e eu fui junto. Tentei me arrastar.

Uma sombra apareceu. Vinha andando devagar, arma apontada, achando que ia me pegar fácil.

Levantei o braço com esforço, mirando firme.
— Vai pro inferno.
*PÁ.* Um único tiro, direto no meio da testa.

Antes de apagar, ouvi alguém gritando meu nome. BH. Correu, me pegou nos braços. Vi o desespero nos olhos dele. Sangue escorrendo. Tudo ficando escuro.

Mas juro... antes de fechar os olhos, só pensei em uma coisa.

**"Se eu morrer, quem vai cuidar da Safira?"**

Apaguei.

Love Is LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora