Capítulo 3 - A Prova

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Timothée Narrando

Ao chegar ao palácio segui para o piso dos funcionários e encontrei a minha mãe na sala de costura falando com a sua nova assistente.

- Boa tarde senhoras. - falei.

- Boa tarde.

- Timmy, espero que tragas boas noticias.

- Sim, está tudo tratado, os corsets e a sombrinha estão encomendados, o sapateiro garantiu que estaria aqui mesmo antes das 8 da manhã e suponho que o sr. Sanders já tenha falado com a rainha.

- Obrigado filho, tiraste um bom peso das minhas costas, não teria tempo de ir à cidade e tratar de tudo.

- Não tem que agradecer mãe.

- Bom, penso que não vou precisar mais de ti por hoje por isso se tiveres algo para fazer agora estás à vontade.

- Está bem, obrigado. 

Na verdade eu não tinha nada para fazer, não ter um cargo definitivo era muito mau, primeiro porque o único dinheiro que eu recebia era da rainha quando me pedia mais pasta de dentes e raramente tinha algo para fazer então além de pobre eu também estava sempre desocupado. Perdia maior parte do tempo com os livros antigos que Edward me emprestava sobre os mais diversos assuntos, desde matemática, economia, política, até à anatomia do corpo humano. Sempre tentei saber um pouco de tudo, podia ser pobre mas na sociedade deste século a sabedoria vale ouro, pelo menos a meu ver.

Fiz uma pausa para almoçar e logo em seguida decidi tornar-me útil.

- Senhor Filch, tem algo que precise que eu faça? - perguntei tendo em conta que estava aborrecido. O senhor Filch era quem olhava por todos os funcionários, na minha opinião ele não passava de um homem ignorante, arrogante e mandão.

- Tenho uma carta para a rainha, as tuas pernas são mais novas que as minhas e não me parece que estejas muito ocupado então podes levá-la. - falou me entregando a carta. - Certifica-te que entregas a carta na bandeja, os funcionários nunca devem entregar o correio com a mão. - falou me entregando uma bandeja de prata redonda pequena.

- Pode ficar descansado.

Procurei a rainha por todo o castelo e ela estava no escritório real com o seu marido a rever alguns documentos.

- Alteza. - falei dando dois toques na porta e fazendo uma vénia.

- Ah, Timothée, é bom ver-te.

- Igualmente majestade, trouxe o seu correio. - falei seguindo até ela e ela retirou a carta da bandeja.

-Já irei ler a carta, mas antes disso talvez me pudesses ajudar com algo. - ela falava um pouco preocupada enquanto o seu marido apenas a observava atentamente.

- Claro.

- O problema é o seguinte, chegou à minha atenção que hoje foste à cidade com o meu filho Edward.

- Sim vossa alteza...

- E que as imagens que viram foram deveras preocupantes.

- Um pouco.

- Eu sei que és apenas um garoto mas também sei que és inteligente e que tens estudado tanto como os meus filhos.

- Sim, é verdade, o príncipe Edward empresta-me alguns dos seus livros antigos e eu tento sempre reter o máximo de informação. - falei e ela lançou-me um sorriso fechado.

- Bom saber, mas voltando à nossa conversa anterior. -ela falou e inspirou fundo. - Eu fiquei a saber que muitos dos meus súbditos estão a passar fome.

- Sim, é verdade alteza, é comum encontrar crianças esfomeadas na rua a vender tudo o que podem para poder comprar um pedaço de pão, mães desesperadas por não ter o que dar aos seus filhos para comer e pais que se matam a trabalhar para sustentar as suas famílias.

- Não tinha noção da gravidade da situação, sei que isto não pode durar mais tempo, mas não sei ao certo o que fazer.

- Eu continuo a acreditar que devíamos abolir a lei que proibe a importação de trigo do exterior, o pão passaria a ser muito mais barato. - falou o marido da rainha.

- Mas e se não resultar?

- É verdade que o pão seria mais barato vossa alteza mas acredito que isso iria arruinar as famílias que vendem trigo aos padeiros, eles poderiam ficar revoltados.

- Sim, devo confessar que não pensei nisso. - falou o príncipe Albert (marido da rainha). - Mas nós precisamos de pensar em algo rapidamente Victória, temos pessoas a morrer de fome do lado de fora das nossas muralhas.

- Posso sugerir algo?

- Claro, penso que qualquer ideia que nos ajude a chegar a uma conclusão é bem vinda neste momento. - disse a rainha.

- Se o preço do trigo dos produtores nacionais descer, o preço do pão também irá descer, eu acredito que ao estabelecer um preço máximo inferior ao preço que está em vigor no momento irá beneficiar o povo.

- Mas isso irá deixar as famílias de produtores e de padeiros mais pobres, eles não irão aceitar essa ideia de braços abertos. - o príncipe disse juntando as suas mãos em frente aos lábios.

- Não necessariamente, a procura e o preço têm uma espécie de relação inversa.

- Não estou a entender. - disse a rainha.

- Quando o preço de um bem aumenta, a quantidade procurada desse bem diminui porque as pessoas não têm posses para o adquirir, mas quando o preço de um bem diminui as pessoas passam a procurar mais desse bem porque com o mesmo dinheiro podem adquirir uma quantidade maior desse bem. Imaginem, por exemplo, que o preço do trigo desce para metade, o padeiro com o mesmo dinheiro que possuía antes poderá comprar o dobro do trigo que comprava antes, consequentemente o preço do pão também poderá descer para metade, com tudo isto, estando o pão mais barato, a quantidade procurada iria aumentar, as pessoas que antes só tinham dinheiro suficiente para comprar um pão agora poderão comprar dois, as pessoas que não tinham dinheiro suficiente para comprar um pão agora já o poderão comprar, ou seja, a venda do pão aumentava, o padeiro iria continuar a lucrar o mesmo ou talvez até mais, a fome do nosso povo iria acabar, em contra partida os produtores de trigo teriam de aumentar a sua produção mas assim todos os negócios nacionais seriam salvaguardados e acabaríamos com a fome da população... Neste momento é a melhor ideia que me ocorre. - falei.

A rainha olhou para mim com um sorriso no rosto e em seguida olhou para o seu marido.

- Albert...

- Ele tem razão, tudo o que ele disse está correto, é uma questão de lógica.

- Timothée, muito obrigado pela tua ajuda, não fazes ideia do quanto estamos gratos.

- O meu único interesse é o bem do nosso país, majestade.

- Muito bem, nós iremos falar com os ministros e logo chegaremos a uma conclusão, se não necessitares de mais nada podes te retirar.

- Com licença. - falei saindo e fechando a porta atrás de mim.

Sentia me bem, era como se todo o tempo que passei a estudar finalmente me valesse de algo, o sorriso surpreso que a rainha me tinha lançado foi muito bom, algo me diz que ela não esperava obter a sua resposta num garoto simples como eu. Eu iria provar o meu valor a todos os que duvidassem de mim, posso não ter nascido num berço de ouro e talvez tivesse de lutar muito mais para chegar ao lugar a que muitos já nascem destinados a ocupar mas nunca irei desistir.

Oi oi, o que acharam do nosso Timmy? Irá ele alcançar os seus objetivos? Terão de esperar para ver. Espero que tenham gostado no novo capítulo e não se esqueçam de comentar e votar SEMPRE ❤️. Beijos e abraços.

Ele é meuOnde histórias criam vida. Descubra agora