Capítulo 18 - Esperança

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Flynn Narrando.

Eu o amo, mas para ele eu sou apenas um homem ignorante, um homem que não tem nada para lhe oferecer... Talvez ele nem goste de homens, ou talvez ele até já tenha prometido a sua mão a outra pessoa mas o meu coração se recusava a desejar outra pessoa que não fosse ele.

Nunca me senti assim em relação a nenhum homem, na verdade eu sempre fui muito mulherengo, mas os seus olhos azuis levaram os meus até à profundeza do seu oceano e lá eles permanecem. Os seus lábios sempre chamavam os meus a cada movimento e eu tinha de juntar todas as minhas forças para não o possuir onde quer que estivessemos e o tornar meu para sempre.

O que fazer quando tudo o que eu desejo é errado? O que fazer quando tudo o que eu amo não retribui os meus sentimentos?... Beber para esquecer, essa era a minha resposta.

Eu arranjava álcool sem que ninguém soubesse e durante a noite vagueava pelo pátio com a garrafa na mão, ela era a minha única companheira, a única que me entendia e a única que me conseguia fazer adormecer tranquilamente.

De manhã acordava meio moribundo, completamente abatido pela bebida e graças a isso as minhas notas vinham a descer cada vez mais, tomar atenção nas aulas era impossível, os tambores de guerra não paravam de tocar na minha cabeça e pior que isso, a imagem do seu rosto não me abandonava por um único momento que fosse.

Talvez fosse o facto de ele ser diferente de todas as pessoas, talvez fosse a sua delicadeza, a sua beleza e a sua inteligência que me deixassem de joelhos aos seus pés.

Ele não precisava de músculos ou espada, sabia se defender apenas com as suas palavras sábias e a sua língua aguçada. Vê-lo defender todas as suas opiniões com argumentos era uma esgrima linda de se ver, esgrima essa em que 90% das vezes ele saía vitorioso.

Que se foda a sociedade, eu o amo e nada mais importa, iria amá-lo em público se ele assim desejasse, iria mostrar ao mundo que dois homens podem se amar e que as suas opiniões ridículas não valem nada.

Amor é amor...


Timothée Narrando

Depois do acontecido segui para o meu quarto, Eric estava sentado na sua escrivaninha, tão concentrado nos seu estudos que nem notou quando eu entrei, talvez ele soubesse o que se estava a passar, eles eram do mesmo curso e tinham se tornado grandes amigos.

- Eric?

- Sim? - ele perguntou sem desviar os olhos do livro.

- Sabes o que se passa com o Flynn?

- Não sei, ele tem andado muito estranho comigo, sinceramente não percebo que se passa naquela cabeça.

- Estávamos agora no refeitório e ele do nada ficou estranho e foi embora...

- Disseste alguma coisa que o ofendeu? - ele perguntou, finalmente focando a sua atenção em mim.

- Não, apenas perguntei se ele estava apaixonado.

- Eu perguntei-lhe o mesmo e ele fez exatamente a mesma coisa comigo.

- Quem achas que será?

- Não sei, talvez ele tenha alguém à espera dele.

- Não me parece que seja isso, se fosse achas que ele não nos diria?

- Tens razão... será que ele está apaixonado por alguém da faculdade?

- Não acho que seja muito provável.

- Não sei, porque outro motivo ele agiria de maneira tão estranha?

Ele tinha razão, se fosse eu no seu lugar e me perguntassem se eu estava apaixonado também fugiria da conversa porque não saberia o que dizer. Mentir não era o meu forte

- Sim...

-  Caso ele esteja apaixonado por um homem, o que é que fazemos? - ele perguntou e por momentos pensei bem nas palavras que iria dizer.

- Mantemos segredo, ele é nosso amigo e merece a nossa confiança. O facto de ele amar um homem não muda a pessoa que ele é.

- Tens razão. Talvez seja hora da mudança.

- Como assim? - perguntei.

- As pessoas são preconceituosas sem qualquer motivo, quem as outras pessoas amam não deveria nos importar. O importante mesmo é o que a pessoa é no interior. - ele falou e um peso foi retirado do meu peito, pensei que ele fosse sugerir atirar todos os homossexuais para a fogueira. Se ele pensava assim então também haveriam mais pessoas como ele no mundo, aqueles que não são ignorantes o suficiente para humilhar as pessoas pela sua sexualidade.

- Exato, é exatamente o que eu penso. Achas que devia ir falar com ele?

- Espera que ele se acalme, ao jantar conversamos calmamente com ele, mostramos-lhe que somos amigos de verdade e que não o iremos julgar pela sua sexualidade, mas precisamos de ter cuidado para mais ninguém ouvir.

- Certo.

Ele voltou aos seus estudos e eu fiz a mesma coisa, me deitei na minha cama enquanto lia o livro "como gerir o seu património de forma eficiente", não era um requisito da faculdade mas tinha sido um livro sugerido pelo professor de contabilidade que eu achei bastante interessante. O sol já se estava a esconder lá fora e Eric foi acender as velas do nosso quarto.

- Acreditas que um dia as pessoas vão ser livres de amar quem elas quiserem? - ele perguntou enquanto acendia a vela e pelo canto do meu olho pude ver que ele parecia um pouco preocupado, mas logo voltei a olhar para o meu livro.

- Sim, acredito que um dia isso vá acontecer, mas para isso muitos terão de sofrer com preconceito até que a homossexualidade se torne indiferente para a sociedade. Talvez isso leve décadas ou até mesmo séculos para acontecer... mas alguém tem de tomar a iniciativa. - falei mais para mim, do que propriamente para responder à sua questão.

- Vou jantar, espero por ti no refeitório. - ele disse com um sorriso fechado e saiu do quarto.

Agora Eric também estava estranho, as suas questões pareciam ser pessoais e caso ele também amasse outro homem isso significava que eu não estava sozinho nesta luta... pelo mundo fora haviam mais pessoas como eu, a viver uma vida de mentiras, e que ansiavam por dias melhores.

Coloquei o marcador no meu livro e segui para o refeitório me sentindo leve, apenas depois de todos este tempo é que me surgiu a ideia de que talvez eu e Edward não fossemos os únicos. Tenho a perfeita noção de que no passado a homossexualidade era vista como algo normal mas com o avançar dos anos, em vez de evoluir, a mentalidade das pessoas regrediu ainda mais. Eu era muito afortunado por ter Edward na minha vida, por ter o seu amor e por ter alguém que me compreende.

A distância nos matava e eu desejava que Dezembro se apressasse a chegar, para que eu pudesse finalmente estar nos seus braços, beijar os seus lábios e me entregar mais uma vez. O nosso sexo era perfeito, doloroso na medida certa mas extremamente prazeroso. Sentia imensas saudades do seu abraço, do aperto forte dos seus braços e do toque da sua pele quente e sedosa na minha.

Sei agora que talvez haja futuro para nós, talvez no passado eu pensasse que seria impossível sermos felizes juntos mas agora não éramos apenas nós... agora havia esperança.

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