Edward Narrando
- Mãe? - perguntei com receio, ela encontrava-se deitada na sua cama com os olhos fechados e receei que ela já tivesse partido antes de eu ter a oportunidade de me despedir.
- Olá Edward.
Me aproximei dela e me sentei na cama ao seu lado.
- Por favor não me deixe mãe, eu preciso de si... eu sou apenas um garoto num corpo de homem, não consigo cuidar deste país sozinho.
- Tu não estás sozinho Edward, nunca vais estar. - ela disse com um sorriso cansado. - Mesmo que não me possas ver eu vou estar sempre por perto, estarei sempre a olhar por ti, por este país e por Timothée... Eu sei, sempre soube... Mas gostava que me tivesses dito antes.
- Eu não tive coragem, me perdoe mãe.
- Filho, eu sei que não deve ser fácil confessar algo tão grande a outra pessoa mas eu sou tua mãe, iria te amar e apoiar de qualquer maneira, a única coisa que eu desejei nesta vida foi ver os meus filhos a sorrir todos os dias. Amar Timothée não faz de ti menos homem, apenas mostra o quão corajoso tu és, por aceitar correr todos os riscos em troca de um amor proibido. Antes de partir eu quero-te pedir uma coisa...
- Tudo o que quiser mãe.
- Luta por aquilo que amas e por aquilo que acreditas ser correto, não te escondas do teu povo atrás de uma máscara. Eles merecem a oportunidade de te conhecer pelo que tu és e por aquilo que serás. Neste mundo a única coisa que é verdadeiramente correta é o amor, mostra-lhes que independentemente de quem amas continuas a ser a mesma pessoa e que podes ser o melhor rei que eles já tiveram.
- Eu prometo fazer o meu melhor mãe.
- Quero também que escrevas algo para mim.
- O que quer que eu escreva?
- Pega um pedaço de papel e uma pena. - ela pediu e assim fiz. - Eu, Victoria Alexandra, ex-soberana do reino de Inglaterra e venho me despedir de todos vós neste pequeno bilhete. Durante toda a minha vida acreditei que estava destinada a trazer a glória a este país e sempre tentei ser a melhor rainha, melhor mãe e melhor amiga que pude. A todos aqueles a quem falhei peço que me perdoem pois posso ter sido inconsequente ou até mesmo egoísta. Eu sei que este país está destinado à evolução e glória. Ao olhar para o meu filho eu vejo a chama que irá iluminar as nossas terras, que vos irá guiar a todos na direção do sucesso e prosperidade. Peço que confiem cegamente nas pessoas que gerem este país, que todos os dias lutam pelo bem de todos pois eles são dois homens com mentes brilhantes e corações de ouro. A vida é muito curta para desperdiçar tempo com ódio, raiva ou desprezo por isso amem-se, perdoem-se e deixem o passado para trás. Agora é a hora de mudar, a hora de sermos pessoas melhores pois apenas Deus pode perdoar verdadeiramente os nossos pecados. Espero que aceitem as minhas últimas palavras nos vossos corações e que as recordem para o resto das vossas vidas. Obrigado por todas as oportunidades que me deram e por todas as lições que me fizeram aprender ao longo desta vida, irei levar cada um de vós no meu coração... Adeus meus amigos espero poder vê-los novamente no futuro.
- Obrigado mãe. - falei chorando após terminar de escrever as palavras que ela me ditava. - Por confiar em mim. - ela respondeu com um sorriso fechado.
- No dia do meu funeral quero que Timothée leia esse pequeno discurso, talvez vos ajude no futuro... Eles podem não compreender agora. - ela disse segurando na minha mão. - Mas eles irão um dia e tenho a certeza que vos irão aceitar tal como eu aceito.
- Proteja-nos mãe! - implorei segurando a sua mão junto ao meu rosto.
- Irei fazer tudo o que puder, podes chamar Timothée por favor? Gostava de falar com ele antes de partir.
- Claro. - falei repousando a sua mão na cama e indo lá fora.
Caminhei pelo corredor e encontrei Timothée junto com a minha família, ou melhor... nossa família na sala de estar, todos estavam muito abatidos, principalmente o meu pai, ele estava prestes a perder a mulher que prometeu amar para o resto da sua vida e talvez depois disso ele perdesse a sua essência... talvez ele nunca mais voltasse a saber o que é o amor.
- Timothée, a minha mãe quer falar contigo. - falei e ele veio comigo até ao quarto da minha mãe. - vou dar-vos um tempo a sós. - disse ficando parado à porta.
Timothée Narrando.
- Deseja falar comigo alteza? - perguntei quase chorando ao vendo a mulher que me ergueu na vida tão pálida como a neve.
- Penso que não há necessidade dessas formalidades. - ela disse e bateu duas vezes na cama para que eu me sentasse ao seu lado, assim fiz. - Acho que me devias chamar de sogra pelo menos uma vez antes de eu morrer.
- A senhora já soube?
- Nem foi precisei que ninguém me dissesse... Desde que eram pequenos eu sempre soube que a vossa amizade era diferente, eventualmente vocês cresceram e os vossos olhares brilhavam com a chama do desejo cada vez que se cruzavam. Eu sabia perfeitamente o motivo de Edward não se querer casar... ele já tinha alguém no seu coração. - ela falou pegando na minha mão a acariciando o meu anel de noivado com o seu polegar sorrindo um pouco em seguida.
- Eu o amo, como nunca amei ou irei amar alguém em toda a minha vida, por ele eu daria até a minha própria vida.
- Eu fico feliz em ouvir isso, é muito difícil encontrar amor hoje em dia, todas as pessoas se casam por interesse ou vantagem... mas tu és diferente, tu és bom, tens um coração mais valioso do que todos os diamantes do mundo, uma mente mais brilhante que todas as estrelas do céu e foi por isso que eu me encarreguei de garantir que tinhas a vida que merecias, para que pudesses estar sempre por perto de Edward e para que o pudesses guiar na vida. Juntos vocês podem fazer tudo o que imaginarem, vocês têm mais poder, mais bondade e mais amor na ponta de um dedo do que a maioria das pessoas possui no corpo inteiro.
- Obrigado.
- Não... eu é que tenho que agradecer, por me fazeres ver o mundo da maneira não como ele é mas sim como ele pode vir a ser, repleto de amor, respeito e igualdade. Hoje tiveram uma grande conquista mas isto é apenas o primeiro passo de muitos que irão dar na vossa vida... Tu serás o herói que irá salvar o povo do abismo do ódio... Tu foste o meu herói, o herói que me mostrou esperança nos momentos mais tenebrosos e que me mostrou que tudo é possível... mesmo quando todos nos dizem que é impossível. Estarei para sempre grata a Deus por te colocar na vida do meu filho. - ela falou chorando e me fazendo chorar ainda mais.
Vitória faleceu naquela tarde nos deixando a todos com uma dor insuportável no peito, Edward era quem parecia estar em maior sofrimento e tal como prometi, eu não o abandonei por um único momento. O país inteiro entrou em estado de luto e a cerimónia fúnebre decorreu no dia seguinte e foi sem qualquer dúvida o momento mais difícil que a família real alguma vez atravessara. Todos saíram à rua com flores em honra à sua rainha e foi muito difícil fazer o discurso que Edward me pedira em frente a todos, mas sei que a rainha o tinha ordenando por algum motivo... Mesmo não estando mais entre nós ela conseguiu tocar o coração de todos aqui presentes e certamente conseguiu mudar muitas mentalidades apenas com as suas palavras.
Eu a iria recordar para sempre como a mulher que acreditou em mim, como a mulher que confiou em mim e como a mulher que me amou por amar o seu filho... por viver um amor proibido. Se ela acreditava que era possível conquistar o carinho e o respeito do povo mesmo sendo um casal homossexual então não havia motivo para que não lutássemos por isso.
Do fundo do meu coração, obrigado Alteza... por tudo.
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Ele é meu
General FictionTimothée é um jovem sobredotado cuja família emigrou de França para o Reino unido, o seu pai se tornou guarda do palácio real e a sua mãe a estilista pessoal da rainha. Ele sentia que estava destinado a ser muito mais que um simples empregado e ansi...