Capítulo 14 - Sabedoria

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Timothée Narrando

A semana passou e logo estávamos a caminho de Londres, pela janela podia ver o palácio se afastando de nós. Estava triste, foi ali que criei as minhas melhores memórias, que eu e o Edward decidimos nos amar e esquecer os nossos medos, e agora estávamos a caminho do lugar onde tudo isso seria quase impossível, estaríamos de volta ao lugar onde a nossa vida era decidida por nós.

Depois do acontecido no meu quarto, eu e Edward ficámos mais íntimos, sabíamos que neste mundo sempre nos teríamos um ao outro e isso era única coisa que realmente importava. Ninguém desconfiava da nossa relação e isso era bom, decidimos manter tudo em segredo... A sociedade não está pronta para nos aceitar tal como somos.

Em breve eu iria para Cambridge e passaria meses sem voltar a casa, tinha medo de que quando voltasse as coisas já não fossem as mesmas. E se o Edward se apaixonar por outra pessoa? Uma pessoa que lhe possa dar filhos e que lhe possa dar um futuro de que o povo se iria orgulhar? Acho que por um lado ficaria feliz por ele, mas por outro lado o meu coração iria morrer de desgosto. Eu sei que o que temos não é correto mas eu o amo, e não sei como mudar isso. Meu Deus, porque é que eu não nasci mulher? Seria tudo tão mais fácil.

As rodas da carruagem rodavam pela estrada de terra, nos fazendo sentir cada solavanco nos nossos traseiros, não era propriamente confortável mas era melhor do que caminhar pelo próprio pé. Eu e Edward passámos quase todo o caminho nos olhando enquanto os seus irmãos dormiam. Queria gravar cada detalhe do seu rosto perfeito na minha memória para o poder recordar sempre que sentisse saudades suas, desejava também poder gravar o seu toque na minha pele para poder sentir o seu corpo junto ao meu sempre que desejasse.

Edward Narrando.

O Timmy parecia um anjo, independentemente do que ele estivesse a sentir, o seu rosto estava sempre sereno me transmitindo toda a calma do mundo, sabia que enquanto o seu coração me pertencesse eu estaria bem. Ele era tudo o que eu precisava, não queria ouro, não queria diamantes e muito menos poder. Seria pedir muito a oportunidade de poder ser feliz ao seu lado sem medo dos preconceitos da sociedade?

Tinha medo que Setembro chegasse, isso significava que ele iria para longe de mim e que eu passaria meses sem o ver. E se quando ele regressasse tudo estivesse diferente? E se quando ele regressasse o seu amor por mim tiver desaparecido? Não sei o que faria. E se ele se apaixonasse por outro homem? Eu iria morrer e acredito que nunca mais conseguisse voltar a amar alguém. Não quero nem pensar nisso pois esse é sem dúvida alguma o meu maior medo... perder a única pessoa que eu amo.

Por enquanto a única coisa que eu podia fazer era garantir que iríamos ter um verão maravilhoso juntos para criarmos memórias incríveis e fortalecer o que sentimos um pelo outro. Nos conhecíamos melhor que ninguém, passámos a vida toda numa amizade muito intima, a nossa amizade floresceu e se tornou num amor proibido... O que posso dizer? O fruto proibido é o mais apetecido.

Londres estava tal como a tínhamos deixado e o palácio também, as janelas continuavam sujas por fora, a mobília continuava empoeirada e os empregados agiam como se fosse normal, quando eu for rei as regras aqui irão mudar, queria tudo a brilhar, se recebem o salário ao fim do mês é para fazerem o trabalho que lhes compete. Os meus pais são demasiado brandos com os criados, comigo não seria assim, não os irei tratar com falta de respeito mas também não lhes irei pagar se eles não fizerem o seu trabalho como deve ser... Varrer a sujeira para debaixo dos tapetes não seria uma opção, eles iriam ser disciplinados a bem, ou a mal.

- Uma pessoa quase nem consegue respirar com tanto pó. - disse a Timothée enquanto seguíamos pelo corredor até à escadaria para o piso superior.

- Concordo que os empregados precisam de regras, claramente durante o tempo que estivemos fora eles não têm feito o trabalho deles. - ele falou passando a mão por uma mesa de parede enquanto caminhávamos e me mostrando o dedo cheio de pó.

- Eu vou ter de resolver este assunto com as minhas próprias mãos.

- Vais pegar nos panos e limpar? - ele perguntou com um sorriso sacana no rosto.

- Claro que sim, não vejo a hora de começar kkk. - respondi ironicamente.

Subimos a escadaria e cada um de nós foi para o próprio quarto, aqui seria muito mais arriscado estar juntos em plena luz do dia, havia empregados por todo o palácio e qualquer um poderia nos ver a entrar no mesmo quarto. Não acredito que eles desconfiassem de nada pois mesmo quando éramos pequenos tínhamos hábito de estudar no meu quarto mas decidimos em conjunto que iríamos correr o mínimo de riscos que fosse possível, o que era muito complicado porque duas pessoas que se amam apenas desejam uma coisa: passar todas as horas do dia na companhia uma da outra.

Timothée Narrando

Para afugentar a minha mente dos meus desejos decidi levantar-me da cama, seguir para a biblioteca e estudar um pouco sobre política, queria me preparar o melhor que pudesse para o futuro e nunca era cedo demais para começar. Estudei várias leis e decretos na intenção de me tornar um homem mais culto e saber o que acontecia no meu país... se eu fosse facto o futuro primeiro ministro precisava de saber coisas deste género.

- Voltámos a Londres e vejo que sentiste saudades dos livros. - a rainha falou encostada na ombreira da porta.

- Sim, é verdade.

- Talvez seja por isso que, mesmo sendo jovem, sabes mais que muitos homens adultos. Tu gostas de estar informado, preocupas-te em saber um pouco de tudo.

- A minha mãe, mesmo não sendo uma mulher com escolaridade, me ensinou o valor da sabedoria, o homem inculto precisa de ouro, o homem inteligente precisa de sabedoria... o ouro acaba, a sabedoria não, além do mais, quando bem aplicada, a sabedoria pode ser utilizada para obter ouro.

- Palavras sábias para quem ainda viveu tão pouco.

- Acredito que a idade não define o caráter de um indivíduo, nesse aspeto o mais importante é a educação e a disciplina que teve enquanto criança.

- Porquê enquanto criança.

- Segundo vários livros de psicologia, acredita-se que é durante a infância que criamos a noção do que é correto e do que é errado. Os meus pais nunca me forçaram a pensar como eles então eu tive a oportunidade de criar as minhas próprias noções de correto e errado.

- E devo confessar que o resultado foi deveras satisfatório. - ela respondeu com um sorriso no rosto. Teria sido assim tão satisfatório? Eu amava o seu filho... eu amava um homem. Talvez tivesse sido melhor se os meus pais me obrigassem a seguir os seus ideais desde pequeno.

Heyyyy, mais uma dose de leitura para vocês kkk. Estão a gostar do livro? Espero que sim, não se esqueçam de votar ⭐️ e comentar muito 💭. Beijos e abraços. ❤️

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