Após uma corrida desenfreada pelas ruas cinzentas da cidade, o grupo havia finalmente chegado na casa dos irmãos, que apesar da diferença de idade pareciam gêmeos, os olhos verdes ferinos e curiosos, os cabelos da cor de areia úmida, e o contorno do rosto cuidadosamente anguloso. Tudo perfeitamente igual contrastando com a personalidade avessa.
A respiração rápida e pesada ainda queimava os pulmões de F , que acabava de se sentar no sofá ao lado de R, tentando recuperar fôlego, sem sombra de dúvidas ele era adepto do sedentarismo e agora seu corpo cobrava o preço. Z, que conservava a familiar expressão de iceberg sobre o rosto, estava apoiado sobre a parede, ao lado da janela, e algo na tensão de suas sobrancelhas franzidas parecia mostrar que estava prestes a dizer algo. Sua voz firme chamou a atenção de todos que até então haviam permanecido em silêncio. A cada fala do rapaz F sentia a tensão se instaurando naquela sala azul, R que enrolava uma mecha comprida de seu cabelo loiro, enquanto encarava um vaso de plantas na mesa de centro da sala, e o próprio F que não parava de estalar os dedos. Certamente não estava sendo animador ouvir do rapaz rijo que enquanto conversavam com o perito P, um homem mau encarado planejava se vingar de R. Como ele sabia que iriam para lá ? Será que P estava contra eles? Em quem podia confiar agora?
- Então, aquele homem... Foi o que atingi com o facão no dia da praça? - perguntou a garota remexendo nervosamente a corrente de prata em seu pescoço com um pequeno pingente de coração. - Um dos homens que nos cercou na praça com os caminhões... Um dos homens que matou J.
A expressão de Z suavizou por um instante demonstrando o pesar que sentia. Afinal havia sido sua idéia fazer alguém ultrapassar o caminhão e pedir ajuda, mesmo que indiretamente, o sangue de J estava sobre suas mãos.
- Exatamente. - concordou.
Foi E que fez com que sua dúvida fosse posta na conversa.
- Como sabiam que estaríamos ali?
- Talvez não soubesse.
- V... - disse F quase num sussurro, mas apesar de ter dito quase que para si mesmo todos pareceram ouvir. H e R pareceram concordar. Mas E ainda não parecia convencida.
- Não há como saber! Só precisamos ter mais cuidado. - disse Z por fim encerrando o assunto. Além do mais temos outras prioridades, achar o M, não ?
F concordou balançando a cabeça, mas apesar de todos os avanços ele se sentia ainda completamente distante da possibilidade de salvar o garoto que amava. Suas mãos pentearam seus fios castanhos para trás, estava realmente ficando mais nervoso ao pensar em como M poderia estar agora...
- Essa é nossa prioridade e ao mesmo tempo sinto que ainda não avançamos nada. Nem ao mínimo sabemos seu paradeiro. - ele tentava controlar as lágrimas que brotavam.
O rapaz olhou ao redor tentando fazer com que as lágrimas não viessem à tona, ao seu lado R remexia as mãos nervosamente enquanto Z de pé andava de um lado a outro batendo seu dedo indicador sobre o queixo quadrado, parecia pensativo. H tinha subido rapidamente o lance de escadas para devolver a pistola de seu pai para a gaveta dele antes que o próprio desse falta e E que estava sentada sobre o carpete da sala permanecia desviando os olhos dos demais, que pareciam imersos em pensamentos. Apesar de todos estarem juntos e bem F se sentia mau, ainda não sabia onde M estava, não havia conseguido nada...
- Tenho uma pista de onde M possa estar! - a voz de R surpreendeu a todos que antes estavam distantes em seus próprios pensamentos, agora a olhavam esperando alguma resposta. - Antes de sairmos para a lanchonete recebi uma mensagem anônima com o suposto local onde o M pode estar.
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