Arquivo 13

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As leves batidas contra a porta de madeira se tornaram mais fortes e constantes, fazendo o som ecoar pelo quarto. As pestanas de F se abriram hesitantes, o colchonete ao seu lado estava vazio; R já havia levantado. Seu celular na cabeceira ao lado permanecia com a tela escura e silenciosa, nenhum som de mensagem naquela manhã... Parecia que até mesmo aquele aparelho estava de luto. O garoto comprimiu os olhos com força tentando evitar que as lembranças voltassem, não queria ver a cor do céu aquele dia. Não queria escutar som nenhum, não queria fazer nada. Só permanecer ali, naquele quarto escuro, sobre aquele colchão macio. Seria errado? Seria errado criar seu mundo ali dentro daquelas paredes?

A voz de sua mãe o chamava, parecia preocupada. Mas nada parecia capaz de despertá-lo daquele estado de "coma" em que se encontrava. Após certo tempo, ela pareceu ter desistido. F entreabriu os olhos novamente, apenas uma pequena fresta, enxergou no canto do quarto um estojo de violino empoeirado.

Desculpe...

Ele não sabia exatamente com o que estava se desculpando, sua garganta por um momento parecia querer ser forte o suficiente para poder engolir as lágrimas que suavemente riscavam seu rosto. Não havia agressividade nem dor excessiva ali. Era apenas seu cansaço e arrependimento.

...Quantas coisas eu desisti pelo meio do caminho...

Ele refletia sobre sua adolescência, sobre como sempre desistia de todas as atividades que parecia querer se envolver, como se sentisse que não nasceu para nada.

..Nunca fui bom em nada..

Olhou novamente para o instrumento que havia ficado ali intocado por anos. Ele havia começado a estudar o instrumento por causa de M, que sempre foi a definição de inspiração e talento quando suas mãos tocavam a madeira lisa do violino, tirando os mais belos sons daquelas cordas.

Eu não nasci para tocar violino...

- Você não merece ter eu como parceiro camarada... - F disse quase em um sussurro fechando os olhos.
Lá fora o forte barulho de chuva se fez presente, estava completamente sozinho. Suas pestanas pesaram por um momento e desejou que aquilo fosse o suficiente para derrubá-lo em um sono pesado.

Nem sempre foi assim...

A chuva parecia bem forte lá fora, raivosa, talvez determinada. O sorriso de I lhe veio à mente, suas últimas palavras ainda ecoavam em seus ouvidos, tão claras e melódicas que parecia poder ouvi-las ali mesmo naquele pequeno quarto frio. Seus olhos se fecharam e, antes que pudesse novamente cair em lembranças, caiu no sono.

Seus olhos se abriram novamente. Ele mal sabia que horas deveriam ser, mas sentia seu corpo extremamente descansado. Toda vez que despertava, se obrigava a voltar a dormir e assim fez durante o dia, evitando qualquer som externo que o incitasse a levantar. A chuva lá fora parecia ter ido embora, deixando para trás somente suas lembranças em formas de poças d'água. F sentia que dentro dele havia estragos demais, as poças dentro de si dariam para criar um oceano. Seu celular tocou. Deslizou a mão pela cama até pairar sobre o aparelho na cômoda para desligá-lo e voltar a dormir, mas algo o deteve. Seu toque de celular era Cânon, isso o fez se lembrar de M e em como deveria estar ali por ele...

Ele precisa de mim... Tenho que fazer ele se lembrar, só isso faz sentido para mim agora...

Seus olhos pela primeira vez durante aquele dia se abriram totalmente, F pegou o celular e atendeu a chamada.

- F! Sou eu a R, estou aqui na frente, posso entrar?

- Oi...É, bem...

- Eu sei que você não está bem, mas trouxe algo para você comer. Sei que deve ter ficado trancado aí o dia todo!

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