Arquivo 9

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O som de uma orquestra o despertou. F levantou confuso enquanto escutava um quarteto de cordas deslizarem seus arcos nas cordas de aço. Abrindo caminho com os pés em meio aquele misto de roupas, papéis e livros que se amontoavam sobre o tapete do quarto, seguiu abrindo a porta do quarto. O som, antes abafado pela porta, agora era claro para sua audição. Parecia uma peça de Kreutzer que tocava no rádio, mas não tinha certeza. M sem sombra de dúvidas saberia identificar. Sua mãe varria a casa enquanto escutava o concerto, ela sorriu ao vê-lo.

- Está mais tranquilo?

- Estou, estava... – Disse ele, que não conseguia tirar da cabeça o fato de M o temer e não poder fazer nada para se reaproximar. Ou podia? Eram seis horas da manhã. Se ele corresse, conseguiria falar com M antes da escola. – Estou de saída mãe.

- Mas já?

- Preciso fazer algo importante.
Bateu a porta e, ao atravessar a rua, começou a discar o número da garota ruiva que no momento era a única pessoa que podia contar para o ajudar com o garoto que amava, já que G, seu amigo próximo, não se lembrava mais nem de sua própria amiga V. Após chamar duas vezes, conseguiu ouvir uma voz animada ao outro lado da linha. Como seria possível ser uma pessoa tão elétrica e animada como ela? Principalmente às seis da manhã.

- Bom dia, senhor-eu-amo-o-M-por-isso-invadi-uma-escola – disse I. F riu ao terminar de ouvir a saudação.

- Mas o que... ? – Antes que pudesse terminar, ela prosseguiu o cortando.

- Está fazendo o que?

- Estou pensando em ir na casa do M falar que o amo e... – novamente foi cortado pelo grito da garota.

- Você é doido? Metade da escola já está falando sobre o lunático invasor de casas e escolas, e você ainda pensa em voltar a fazer coisas estranhas? – disse ela lhe dando um breve sermão. Como sabia sobre ele ter supostamente invadido a casa M?

- Eu preciso fazer algo I! Não posso perder o garoto que amo sem explicar para ele o que está acontecendo! Não posso distanciá-lo ainda mais de mim... Ter ele perto é...

- Eu sei... Acho realmente bonito isso em você. – A ligação ficou muda por um breve momento. – Você não desiste, mesmo que pareça que tudo está contra. Queria não desistir também... Vá em frente. Se tudo der errado podemos ir para aquela mesma praça nos balançar?

Ele riu. Estava feliz em tê-la conhecido em meio aquele caos. I estava sendo uma estrela que iluminava sua escuridão.

- Esse brinquedo não era para crianças?

- Eu expulso elas de lá, seu pervertido invasor de casas.

- Eu não sou pervertido! – Ela riu do outro lado da linha fazendo com que ele também risse em seguida, enquanto F conseguia ver a casa de M se aproximando. – Até mais tarde...

Ao desligar o celular, parado em frente àquela casa, pensava em alguma forma de despertar em M o interesse em vê-lo. Digitando no celular o mais rápido que podia, ele enviou uma mensagem de texto.

“Sei que minhas ações foram as piores e mais suspeitas desde que te conheci, mas estou diante da sua porta. Se puder falar comigo, juro que nunca mais volto a te incomodar.”

Pronto.

Ainda havia a possibilidade do garoto não estar em casa, mas ele permaneceu ali segurando com apreensão o celular até ver a porta se abrir. M vinha andando pelo jardim até chegar ao portão de grades que os mantinham afastados um do outro. Seus olhos negros pareciam inchados e vermelhos. “Eu o fiz chorar?”. Naquele momento, F se odiava por fazer aquele garoto se sentir daquela forma.

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