Arquivo 15

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As memórias de F desencadearam-se uma após a outra como uma pilha de dominós que ao cair dão sequencia à queda de vários outros. Ele permanecia mirando a tela agora escura de seu computador; a câmera da webcam o vigiava. Cada pequeno movimento era captado por aquela pequena lente de vidro. Levantou-se sobresaltado com aquele pensamento e se deitou na cama; os lençóis bagunçados, o teto descascado e o cordão prateado, que agora F deslizava o dedo, relembrando de seu último dia, quando R o havia confiado aquele objeto. Mas como era possível estar de volta ao primeiro dia?

“Essa é a minha segunda chance!” – Pensou o garoto ao colocar a mão sobre a testa molhada de suor. Tudo parecia se repetir, como se ele estivesse preso em um efeito borboleta.

- Não vou desperdiçar essa chance... – Dizia ele com os olhos fechados.
Lembrava-se de como sua amiga V havia desaparecido ao tentar contá-lo a verdade; recordava-se da terrível morte de I na escola; de R ter sido levada para dentro de um carro policial, antes dele ter sido morto pelo policial. Mas algo martelava em sua cabeça. Como era possível ter morrido e ainda estar com aquele cordão se supostamente ainda não havia conhecido R nessa sua segunda chance? F se levantou, jogando o edredom para longe e dirigindo-se em direção à mesa do computador. Pegou algumas folhas em branco e um lápis mal apontado e começou a fazer algumas anotações:

Dia 1 = V some.

Dia 2 = Todos esquecem V; a V falsa aparece; eu conheço I.”

F agora olhava a folha enquanto mordia a ponta do lápis tentando organizar na sua cabeça como ocorreu a sequência dos fatos.

- Eu conheci a I no segundo ou terceiro dia? – pensava em voz alta.

Voltando a escrever, tentava colocar todos os acontecimentos importantes em uma ordem bagunçada para que pudesse colocá-las em ordem, como em um quebra-cabeças mental.

Dia 1 = V some.

Dia 2 = Todos esquecem V; a falsa V aparece; eu conheço a I; eu pulo o muro da casa de M.

Dia 3 = Um carro esteve parado na frente da casa de M quando saí; encontro fotos minhas com V dentro da caixa de madeira enterrada; a mãe de V escreve socorro em uma das cartas (o que dá a entender que se ela não poderia falar, é porque alguém estava naquele casa ouvindo toda nossa conversa); no período de 10 minutos que saí, retornei e ouvi fortes barulhos dentro da casa. A janela da cozinha estava aberta, os óculos dela estavam jogados no chão e quebrados e portava um facão em mãos, mas ela já não parecia a mesma; antes de sair achei ter visto (aliás, vi com certeza) alguém passando de um cômodo ao outro rápido no fim do corredor. Ao chegar em casa com as cartas em mãos, as coloquei sobre a mesa e fui até o quarto; no período de 30 minutos ou mais, voltei e as cartas estavam rasuradas por alguém que fez questão de mostrar que observava meus passos, mas a casa estava trancada quando entrei, o que só me resta acreditar que alguém além da minha mãe também tem acesso à chave da nossa casa e esteve me aguardando chegar; nesse mesmo dia, tive uma conversa estranha com I pelo telefone. Parecia que alguém a instruía a dizer algo ao fundo do telefone e ela parecia desconfortável.

F manteve o lápis suspenso no ar ao lembrar da conversa com I. Ela disse algo sobre o dia 4 ser um dia importante, com um pesar na voz, e fez questão de frisar esse dia na memória de F para que não esquecesse. Nesse mesmo dia, I parecia diferente, distante, pensativa e mais tarde foi assassinada. Aquela coincidência parecia completamente incomum... Será que ela sabia? Seus olhos se voltaram novamente para o papel, enquanto ao reler tudo tentava lembrar de todos os detalhes mais importantes daqueles cinco dias que se passaram. Então fez novas anotações:

5 DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora