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                            _Isadora_

Estava subindo o morro quase morrendo depois de modelar horrores uns doces e encontrei o loirinho todo sorridente na moto.

- Tomou chá foi? — o olhei.

- Sobe aí. — ele não respondeu e eu subi.

Paramos na frente da minha casa e apenas eu desci.

- Vai me contar não?

- Pô Isa.. a gente tá se dando bem, namoral, ela é firmeza pra caralho. — ele sorriu.

- Ela é incrível, Loirinho. E eu sei que dentro do coraçãozinho dela tem algo por você.

- Fala isso não que eu fico baitola.

- É sério! — eu sorri vendo a felicidade dele.

- Suave, vou trabalhar se não o outro me mata. — ele tentou mostrar indiferença e eu entrei.

Joguei a bolsa no sofá e fui tomar um banho, assim que estava penteando meu cabelo ouvi fogos serem lançados e peguei meu celular para ver que data era hoje, foi quando comecei a ouvir tiros.

Meu coração batia cada vez mais forte, fiquei sem reação e tudo que fiz foi sair trancando tudo e correndo lá pra cima, para o banheiro, onde não tinham janelas. A Morena começou a me ligar e os tiros não paravam, precisei colocar no viva voz para ouvi-la.

**
- Amiga?

- Morena, que merda tá acontecendo?

- Eu não sei, eu acho que é a UPP

- O que eu faço?

- Te liguei pra te deixar tranquila, fica lá em cima e tranca tudo. Não se desespera, eles vão recuar e já passa

- E se não passar?

- Vai passar, confia!

- Tudo bem.. se cuida, por favor.

- Você também!

**

Ela desligou e eu ainda estava aflita, os tiros estavam incensáveis. Pesquisei no celular o que seria a UPP, e por tratar de uma Polícia Pacificadora, eu entendia o motivo da guerra estar assim. Tudo que eu conseguia era pensar nos meninos, no Duarte, nos adolescentes que entram nisso tão cedo.. uma mãe pode perder um filho hoje, e isso me deixava mal.

Os tiros começaram a diminuir, e logo em seguida eles estavam ficando cada vez mais longe, quando tive certeza de que realmente pararam, eu fui para a cozinha tentar comer algo. Estava praticamente engolindo a comida quando ouvi batidas na porta, meu coração tropeçou no susto e eu olhei discretamente pela janela, era o Duarte, eu joguei a comida na mesa e abri a porta, ele me olhou, e sem falar nada, eu apenas o abracei, o abracei forte, como se eu não o visse a anos.

- Entra! Não fica aí fora.. — eu dei espaço e ele entrou, ele estava suado, tinha uma arma em suas costas.

- Vim ver se tu tava bem.. avisaram nós que a UPP ia invadir, mas não deu tempo de avisar a ninguém direito. — ele me olhava como se não fosse nada demais, como se tivesse acabado de sair de uma briga na escola.

- Eu? Eu quem te pergunto, Duarte. Você tá bem?

- Tô aqui, não tô? — ele me olhou e eu assenti. - Então fica suave, tô de boa.

- Eu.. eu fiquei preocupada com você.

- Vaso ruim não quebra fácil, patricinha.

- É, eu sei disso bem. — falei relembrando o dia do tiro.

- Sabe é?

- Sei!

- Convencida demais pra o meu gosto. — ele me puxou para o colo dele, com que eu ficasse de frente para ele.

- Dei a liberdade?

- A liberdade tá aqui, ó. — ele tocou minha testa.

- Hahaha, você é tão engraçado! — eu fingi uma risada.

- Sou? — ele começou a me fazer cócegas. — Muito?

- Para, ai, para! — eu mal conseguia falar de tanto rir. - Você é... muito... engraçado.

- Ah, bom. Entendi agora.

- É.. foi muito ruim? — o olhei.

- Tá falando do que? — ele me olhou de volta.

- Você sabe.. morreu muita gente?

- Nós perdeu uns vapores pô, uns 2. Mas eles também saem perdendo, acha que eles vão vir aqui matar dos nossos querendo o morro e vai sair suave? Vai não.

- Tudo bem, não fala assim.

- Mas é assim mermo, patricinha. Vida é essa, igual os bicho lá, se não comer o bicho é o bicho que te come.

- Vou fingir que entendi, que faz super sentido.

- Entende o sentido que tu é o bicho. — ele deu um sorrisinho malicioso.

- Credo, para!

- Aí, vou ter que ir, tenho uns bagulho pra fazer. — ele disse enquanto levantou cuidadosamente.

- Se cuida, tá? — eu o levei até a porta e ele me beijou, eu retribui, e logo ele saiu.
             

                           _Duarte_

UPP veio mandadona, mas não foi dessa vez que conseguiram ser mais forte que a tropa, só vai fortalecer mais eu e os menor.

Sai da casa dela cheio de neurose na mente, sabia entender nem o que eu sentia, só sabia que eu queria aquela patricinha pra caralho. Tem as outras, mas as outras é só as outras. Parece que nem importa pra ela o que eu tenho no bolso, nem nesse assunto a mina toca. Mas nessa vida nós não tem um destino bom, nós não pode se apegar em ninguém pra não desviar os esquema ou botar x9 no morro. Mas ela é diferente, aquela mina me deixa doido, e não é só na cama.

Entrei na boca e loirinho tava na cadeira fumando e olhando a parede.

- Qual foi, pai? — bati no ombro dele e ele me olhou sério.

- Vitinho, pô. Atiraram logo na nuca do mano.

- Porra.. covardia daqueles filhos da puta. — passei a mão nos cabelos. - Ae, manda JK falar com a mãe dele, manda falar pra ela que o que precisar tamo aí, não tem como trazer ele de volta, mas manda dar um conforto lá pra coroa.

- Suave, marca um 10.

Eu entrei na salinha e acendi um cigarro, xixe tava gostosinho.

Comecei a fazer uns cálculos pra ver como tava os esquema, era bom em matemática, mesmo que ninguém imaginasse isso de um traficante. Nunca nem pensei nessa vida, mas eu sei o que isso significa pro meu coroa, que lá de cima ele tá se orgulhando das paradas que tô fazendo. Se eu tô honrando ele e botando comida na mesa da mãe, tudo certo, nada errado.

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