_Isadora_
Eu estava fechando o expediente mega cansada, aguentei a Elisa enchendo o saco a tarde inteira sem surtar, hoje eu havia sido uma guerreira, de fato. Porque tudo que eu queria era tacar aquelas espátulas na fuça dela.
Eu peguei um uber no lugar do ônibus, queria chegar em casa o mais rápido possível. Mas felizmente, faltava pouco para eu atingir minha meta e comprar meu carro, ia ser tudo para mim! Eu estava feliz e orgulhosa de si mesma por estar conquistando o meu mundo sozinha, sem precisar depender de ninguém.
Subi o morro na maior preguiça, naquele ótimo pique, só que não. Assim que eu entrei, fui logo jogando as sapatilhas no canto da sala e indo direto para o banheiro, ultimamente tomar banho tava sendo como uma terapia, me ocupava tanto em passar mil óleos e cuidar horrores do cabelo, que nem pensava nas dores internas. Eu passei um bom tempo debaixo do chuveiro, inclusive lendo os rótulos dos produtos e refletindo sobre eles. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, subi para o quarto e vesti um body, fiquei me olhando no espelho por minutos, eu realmente sou uma obra de arte. Tirei uma fotinha e já joguei no ventilador, meu típico status.
Coloquei um shortinho e desci, acordei mega inspirada e morrendo de vontade de comer uma torta. Peguei diversos ingredientes na cozinha e assim fiz. Quando estava colocando a torta para gelar, me assustei com batidas na porta. Não era a Morena, ela já teria entrado, e a Gi estaria gritando.
Eu abri a porta, e ele estava ali, em carne, osso e tamanha gostosura. Seus olhos tinham olheiras fundas, como se estivesse noites sem dormir, sua expressão era totalmente difícil de decifrar, ele me olhou nos olhos quando a porta foi aberta, diferente das outras vezes que ele fitava o meu corpo e ia me abraçar. Seus olhos expressavam algo, mas eu não sabia exatamente o quê.
- Olha, eu tô muito cansada e não tô afim de discutir, eu não tenho mais o... — ele me interrompeu.
- Preciso bater um lero contigo, na moral mermo. Vou ser rápido. — ele falou e eu assenti, dando espaço para o mesmo entrar.
Ele me olhou mais uma vez e então entrou, sentou no sofá e eu fiz o mesmo.
- Quer falar o quê? — eu me fiz de desinteressada o máximo.
- Não vim aqui te pedir perdão, tô ligado do meu lugar, sei que tô errado.
- Ah, bom! Ainda bem que sabe.
- Deixa eu terminar. Isso nunca aconteceu, tá ligado? Nunca me envolvi assim com ninguém, nenhuma mina nunca me fez sentir nada, pô, até fiquei assustado em tu ficar na minha mente o tempo todo, marolei legal. Sou sujeito homem, sempre era o vuco vuco e depois tchau. Mas tu chegou, com essa tua marra toda, me senti desafiado por tu, nenhuma mina nunca me enfrentou da forma que fez. Dessa vida que eu levo eu nunca nem pensei direito no que era essa porra de amor, ficar todo boiolinha apaixonado, a não ser o amor da minha coroa. E tu chegou aqui, me fez ficar todo confuso comigo mesmo. Tá certa de me odiar, de não olhar na minha cara, eu tô errado, sei disso, mas eu sei do meu erro, e tô assumindo ele aqui, agora, pra você. — eu o olhei totalmente sem reação, era a primeira vez que eu podia sentir ele se expressar com o coração, e de alguma forma, aquilo me tocou.
- E por qual motivo veio até aqui e tá me falando tudo isso? — eu ainda o olhava, e então ele me olhou de volta, pensou por uns instantes, e começou a falar;
- Porque eu quero você, quero ficar contigo. Quero te assumir como minha fiel pra quem quiser ouvir, não quero fugir dessa boiolagem que tu me faz sentir, patricinha. Eu sinto por tu um bagulho que eu nem sei te dizer direito o que é, mas eu sinto, sinto pra caralho. Eu nunca fui de namoro, de amar alguém, nunca senti isso. Mas eu tô disposto, pô, tô disposto a ser só teu, sem nenhuma piranha, e eu falo aqui pra tu, na minha palavra, que o bagulho que tu viu, tu não vê mais. Te peço perdão, de coração mermo, e se tu quiser ser minha, nós vai ser um do outro. — eu o olhei, e pude sentir o meu coração ficar quentinho, eu nunca imaginei que ele fosse tomar essa atitude, não imaginava ouvir isso dele.
E eu estaria mentindo se dissesse que não queria, estaria mentindo se dissesse que a mágoa ainda estava causando uma raiva. O medo não iria embora fácil assim, mas eu quero, e eu só percebi agora, o quanto eu amo esse brutamontes, e o quanto eu quero estar com ele.
- Eu estaria mentindo ao meu coração se eu negasse, nem eu mesma tenho noção do quanto eu quero você, Duarte. — ele sorriu, e eu encontrei a minha paz no sorriso dele. Nós nos abraçamos, e aquele abraço parecia que a séculos não acontecia, ele segurou o meu rosto e me olhou.
- Pô, nem acredito que tu é minha, que tu é minha real mermo.
- Eu sempre fui sua, Duarte, não importa o quanto eu negasse. — eu sorri e o beijei, o beijei com pressa, a cada movimento que nossas línguas faziam existia um pouco de saudade.
Nós conversamos por um bom tempo, tanto sobre o que aconteceu, quanto sobre o que vai acontecer de agora em diante. Eu cedi fácil, sabia das nossas diferenças, mas ah.. eu iria dar tanto trabalho a esse brutamontes, seja lá se fosse descontando essa raiva cavalgando nele.
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- Adivinha! — o olhei.
- Fala aí.
- Fiz torta de limão. — ele sorriu.
- Porra, tava com fome mesmo. Cadê?
- Tá achando que é assim? — cruzei os braços.
- Ou eu mato a fome com a torta, ou eu como você.
- Para de ser tarado, eu hein! — dei um tapa em seu braço.
- Você gosta, vai negar? — ele riu.
- Vou lá pegar a torta. — eu desviei do assunto e levantei.
Ficamos o resto da noite juntos, ele acabou dormindo aqui.
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Recomeçar
Teen FictionEmbarcar numa loucura e ir parar no Rio de Janeiro foi a coisa mais radical que poderia acontecer, tinha tudo para ser mil maravilhas, tudo para sair como o planejado. • Revisada • Este livro é um Spin Off de "Meu Melhor Erro" disponível em meu perf...