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                               _Isadora_

Acordei mega atrasada para o trabalho e me vesti literalmente correndo e esbarrando em tudo. Devo ter tomado um banho de cinco minutos e nem comi nada pela manhã.

Quando cheguei no trabalho, por sorte o Lucas estava bem "good vibes" e não falou nada, só foi curto. Coloquei a mão na massa, ou melhor, no açúcar e comecei os trabalhos. Estávamos com o dia cheio, então provavelmente iria sair daqui mais tarde que o esperado.

**

O expediente foi mega cansativo, tava enjoada de ver brigadeiro, de tantos que eu fiz. Antes de ir pelo caminho de casa, decidi dar uma passada na mercearia pra comprar algumas coisas que estava planejando, foi quando eu me deparei com um casal transando num beco um tanto escuro bem antes da mercearia. Achei a cena um pouco demais, mas nem olhei para o rosto de ambos, foi quando o cara se assustou quando me viu passar e rapidamente se vestiu, largando a mulher que estava. Ele me olhou e um passo foi o suficiente para eu ver quem era.

Era o Duarte, sua respiração estava ofegante, sua camiseta amassada e seu botão aberto, ele me olhava com uma cara de assustado sem dizer uma palavra.

E foi ali que eu percebi, que não era mais um ficante, não era um dos caras que tudo que eu enxergava era uma transa e um beijo gostoso. Eu percebi que era mais quando eu me senti despedaçada por ver aquela cena, eu não tinha noção do sentimento antes dele ser pisado.

Eu virei de costas para ir embora e ele me seguiu, eu virei novamente para a sua direção sem olhar em seu rosto.

- Não! Não me segue, pelo menos isso. — não esperei resposta e segui descendo para casa, e como o meu pedido, ele não me seguiu.

Assim que eu fechei a porta, me vi em uma cena de filme, me arrastando até o chão desabando em choro. De novo não..

Eu estava abraçada nas minhas próprias pernas, enquanto minha mente estava longe. Eu nunca quis me apegar a ele, nunca quis acreditar que estava nascendo um sentimento, e quando eu fui perceber, já era, e foi da pior forma. Não culpo ele por nada, não tínhamos um relacionamento, mas independente disso, aquilo me destruiu, assim como foi com o Rodrigo. Mas dessa vez, como eu iria tentar seguir e recomeçar, se deu merda no meu recomeço que estava maravilhoso?

***

Agora eu estava sentada no sofá, e fitava a parede, quando a Morena entrou e veio ao meu encontro, não sabia como ela descobriu, mas era tudo que eu precisava. Ela segurou o meu mundo enquanto eu desabava, era sempre ela, era sempre nós, uma pela outra.

- Vai passar.. — ela falava baixinho enquanto me abraçava.

Eu não conseguia responder nada, apenas queria acreditar nela, queria acreditar que aquilo realmente ia passar. Que meu peito ia parar de apertar e o meu nariz de arder.

Eu comecei a faltar o ar, minha mente estava com um turbilhão de pensamentos, tudo que eu pensava era na minha incapacidade de ser suficiente, minha mente agora estava sendo um abrigo para pensamentos ruins. Minha vista escurecia, e cada vez que eu tentava puxar o ar, ele faltava.

- Não, não, não! Isadora, olha pra mim irmã. — eu só conseguia ouvir o eco da voz da Morena. - Isa, não se desespera, respira devagar.. vai — eu a ouvi e comecei a tentar. - 1..2..3..4 — ela contou até dez e eu consegui controlar a respiração, mas estava tremendo.

- Morena..

- Vai ficar tudo bem, isa. — ela me abraçou. - Isso não é normal.. — ela pegou o celular e começou a discar um número.

_Duarte_

Tava boladão, me sentindo um lixo pela mina ter visto aquela porra. Eu gostava daquela patricinha, aquela mina me dominava pra caralho, e quanto mais eu tentava desapegar, mais eu tava amarradão nela, nem mesmo comendo uma foi suficiente pra tirar ela daqui, não imaginava nunca que ela ia ver aquilo.

Já tinha cheirado uma e fui acender um cigarro quando Loirinho brotou.

- Qual foi, tava onde? Virou madame agora, porra? — eu soquei a mesa.

- Emergência, porra.

- Fiel?

- Patricinha passou mal, mina teve uma crise, tava ansiosa, sei lá. Morena me ligou, tive que levar pra verem isso lá no postinho. — não conseguia responder nada, tudo que eu queria era correr pra perto dela, mas a mina não queria me ver nem pintado de ouro.

- Suave.. precisar de um favor teu.

- Manda.

- Vai numa farmácia no asfalto, pergunta pra mina lá o que precisa nesses bagulho, e deixa lá pra ela. Coloco no teu malote.

- Não tava ficando com a mina, pô? Podia uma vez na vida dar uma de romântico e ir entregar o bagulho.

- Rala.

- Ih, suave então, marca.

Loirinho saiu e minha consciência pesou mais ainda, não sabia o que fazer, o que falar. Só conseguia pensar na merda que eu fiz com ela, ela não merece isso.

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