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_Isadora_

Eu nem consigo explicar a sensação que eu senti saindo daquele hotel, eu finalmente iria comprar o meu carro com o dinheiro que estava juntando para um imóvel e finalmente iria começar o planejamento da minha loja, iria usar o meu dinheiro dos meus sonhos e continuaria minha vida no Morro, não me importo dele estar lá, única coisa que importa é que é MEU.

Fui direto para casa, queria contar a novidade o mais rápido possível para a Morena. Subi o morro numa pressa enorme, até travar quando uma moto vinha na minha direção com o farol alto e parou bem na minha frente, e quando desligou a luz, era o Duarte.

- Tá maluco?

- Por você, só se for. Sobe aí. — ele estava sério, aparentava estar preocupado.

- Tá tudo bem? — o olhei e ele não respondeu, sabia que tinha coisa. - Ok, ok, vamos. — eu subi na moto e ele deu partida, becos vai, ruas vem, paramos na frente da casa do Loirinho.

- Qual a nossa "missão"? — o imitei.

- Menor tá numa fossa, sei que ele se abre com tu, dá essa força aí gostosa. — ele me puxou quando desci da moto.

- Vai me pagar, mais tarde. — eu sorri maliciosa e ele retribuiu.

- Rasgo essa tua calça rapidinho.. — ele sussurrou no meu ouvido passando a mão na minha bunda.

- Shh! Rua não virou motel não, vaza.

- Beleza, patroa. — ele me roubou um beijo e saiu.

Estava preocupada e ao mesmo tempo curiosa, para o Loirinho estar para baixo, a merda tinha que ser grande. Bati na porta e anunciei que era eu, ouvi um "entra aí" e assim eu fiz. Ele estava sentado no sofá, haviam pequenos comprimidos na mesa e ele estava com um cigarro entre os dedos, me olhou com os olhos vermelhos e pude ver suas olheiras fundas.

- Loirinho! O que aconteceu? — eu fui até ele e afastei a mesa.

- A vida é filha da puta, patricinha.

- Ei, eu tô aqui contigo. Vai, larga isso. — eu olhei para o cigarro e ele jogou em cima da mesa, eu o abracei e ele retribuiu.

- Eu errei, pô, errei em deixar me levar.

- Para de falar essas coisas, tô vendo que você se encheu dessas merdas.. porra, vai deixar isso ser mais forte que você? — eu o soltei e o olhei séria.

- Não fode, isa.

- Não fode o cacete! Vai me contar o que aconteceu ou vai ficar usando isso?

- Ela me deixou. — ele falou sério e me olhou, os olhos dele lacrimejaram, mas vi que ele se controlou. - Falou que nós não sente a mesma coisa, porra, eu tava felizão cara.

- A Bruna? — ele assentiu. - O que aconteceu entre vocês?

- Nada, mano. Tava tudo suave, tava na casa dela e ela veio com os papos que queria conversar, falou que gostava de mim, mas que só me via como um amigo pai da cria.

Nós tivemos uma longa conversa e ele ficou um pouco melhor, aconselhei e ele e pedi que parasse de se encher de drogas. Não insisti muito em "tudo vai ficar bem", sabia como era essas coisas e sabia que ele precisava ficar sozinho na dele. Mas eu sabia que a Bru também não tava nada bem com isso.

Fui em casa e tomei um banho rápido, peguei uma bolsa e saí, pedi um uber direto pra casa dela. Quando ela abriu a porta e me viu, ela me abraçou e vi o quão mal ela estava.

____

- Eu juro, ami. Eu nunca quis magoar ele, ele é tão incrível, ele cuida tão bem de nós duas.. eu queria muito ser recíproca com ele, mas eu não consigo.

- Ei! Tudo bem, não precisa se sentir culpada, ninguém manda no coração, nem sempre alguns sentimentos vão ser recíprocos, e tá tudo bem com isso! Não esquenta não.

- Tinha que ver a carinha dele, eu me senti horrível. — ela me olhou e passou a mão pelo rosto.

- Você foi sincera com ele, ele vai ficar bem, vocês vão ficar bem. Dá tempo ao tempo, tá? — ela assentiu. - Chega de assunto ruim! Como tá a minha neném?

- Me chutando horrores, parece que não aguenta mais ficar nesse forninho. E eu tô morrendo de ansiedade, quero ela aqui logo.

- Eu também quero! Vou amar mimar ela, levar ela pra dar um passeio nas filas do banco..

- Credo, Isadora! Vai usar minha filha pra pegar preferencial seu cu. — ela me jogou uma almofada e eu ri.

- Ih, filha, eu vou levar ela pra passear, é diferente!

Ficamos discutindo sobre a Raissa, Gabriele, Maria e entre os outros nomes possíveis que ela pensou e iria esperar essa fase passar e decidir com o Loirinho e inventamos de assistir um filme e chorar horrores tomando sorvete.

Foi ficando tarde e eu decidi ir pra casa, ainda queria ligar para a Isa e teria que deixar pra falar com a Morena amanhã, acabei ficando mais tempo que o esperado. Voltei de uber de novo e não via a hora disso passar e colocar a auto escola em prática, subi o morro sofrendo com as ladeiras e finalmente cheguei em casa, fui comer e tomar mais um banho, deitei na minha cama e parecia que meu corpo inteiro estava agradecendo por isso.

Liguei o computador e entrei no facebook, já tinham trocentas chamadas perdidas da dona Isabelly e eu liguei novamente, rapidinho ela atendeu.

** Call Vídeo On

- Ih, pirralha, achei que não ia atender.

- Saudades né? Eu sei, quem não sente saudades da princesa aqui?

- Me poupe, e as novidades?

- Se eu te falar cê não acredita!

- Fala, cacete!

- Tadeu me deu o apartamento que eu morava com aquele coiso, eu tô me fingindo de plena aqui mas juro que surtei horrores.

- MENTIRA! Já quero ir passar férias no errejota na C O B E R TU R A da minha irmã.

- Interesseira é pouco! Cadê os coroas?

- Acha que param em casa? Estão nas viagens deles ainda, queria eu! Fico aqui sofrendo com essa barriga cada vez maior.

- É só o começo, né gata?! Cadê meu filho? — ela chamou pelo Lucas e ele apareceu.

- Titia Dora!

- Oi, meu amor! A titia tá morrendo de saudade de você. Sua mãe continua chata?

- Mais menos, ela tava batendo palma no quarto com o papai ontem. - ele falou na maior inocência e eu me engasguei de tanto rir enquanto a Isa ficou muda.

- Maluquinhos né? Tá ansioso pra a irmãzinha chegar?

- É, papai disse que eu vou poder bater nos meninos que chegar perto dela

- Nada disso! Vou bater é no seu pai!

**

Continuamos conversando por um bom tempo até irem se arrumar para dormir, aproveitei e lavei minha louça e ouvi a porta bater, quando me virei com uma faca na mão, era o Duarte.

- Ia me matar com uma faca de manteiga? — ele começou a rir.

- Ha, ha, ha! Qualquer dia você me mata de um susto.

- Quero te matar de outra coisa. — ele beijou meu pescoço e me abraçou pelas costas, me sarrou propositalmente e me fez largar a louça.

A noite seria longa, longa de bate bate na xereca.

RecomeçarOnde histórias criam vida. Descubra agora