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                           _Isadora_

Eu já estava uma semana sem o homem da minha vida, o meu brutamontes. Pelo acordo eles fizeram tudo num sigilo e sem muita muvuca. Mas doeu de uma forma que eu não esperava que ia doer, era um machucado que cada vez sangrava mais. Não seriam sete dias ou sete meses, eram longos sete anos. Eu nem consigo imaginar como ele está se sentindo e como as coisas estão sendo lá dentro, mas dentro de mim eu sei o quão tudo está devastado. Duarte não foi pra casa e nos veríamos no dia seguinte, Duarte foi para passar longos anos. Eu estava tentando dar toda a força possível para a Clarisse enquanto Morena tentava me confortar. Os meninos estavam assumindo o morro muito bem e eu estava tentando ficar bem também.

- Parece que já faz um mês né? — a Fernanda me tirou dos meus pensamentos.

- Nem me fala, parece que toda noite eu fico esperando ele voltar.

- Mas não fica assim não, vai passar, e tu sabe que depois disso é só vitória.

- É.. no fim vai ter sido valho. Ela tá melhor? — eu a olhei.

- Tá aceitando, passa horas rezando pedindo a proteção dele. Amanhã eu te busco pra a visita, beleza? — ela falou e eu assenti.

Nós nos despedimos e eu saí, conseguia sentir alguns olhares, alguns deles eram de pena, mas eu comecei a ser respeitada aqui a um tempo.

Não demorou muito pra eu ouvir a porta ser aberta, parece que eu levava uma facada em saber que não era ele.

- Poxa, irmã. Fica assim não. — a Morena me abraçou e novamente eu chorei.

- Tá difícil, Morena, demais. — eu enxuguei as lágrimas.

- Sabe que isso tudo vai passar e depois disso vocês nunca mais vão passar esse sufoco, tá? Agora levanta essa cabeça e vai atrás do teu, sabe que ele quer que você não desista, independente de tudo.

Morena tinha razão, eu precisava me manter forte, precisava continuar, foi tudo o que ele me pediu antes de ir.

Eu me despedi da Morena e entrei no carro, eu evitei olhar pra nossa foto pendurada no retrovisor e dei partida para a minha doceria, estávamos nos últimos ajustes. Não demorou muito pra chegar, quando estacionei, o Félix e o Rafael estavam lá.

- Cheguei! — eu sorri e cumprimentei os dois.

- E aí, vagaba! Bruna vai começar amanhã a procurar, pediu pra ir lá amanhã.

- Aí gente, tô ansiosa demais.

- Até eu tô, Isadora. Mas, precisamos acertar o nome, amanhã já pedimos a placa.

Nós entramos e nos sentamos nas mesinhas que tinham lá dentro, literalmente faltava muita pouca coisa.

- Pensei muuito, mas cheguei na minha conclusão. Vai ser Doceria Monteiro!

- Fechado então! Vou mandar fazer a Placa e iniciar a parte publicitária e entre outras, certo? — eu assenti, ele se despediu e saiu.

- Pode desfazer essa armadura, tá melhor?

- Ah, tô tentando migo.

- Qualquer coisa eu tô aqui, você sabe, não gosto da minha vagaba assim não. — ele me abraçou.

- Tá pronto pra ser o melhor atendente que o Rio de Janeiro já viu?

- Eu já nasci pronto, monamour!

Eu e Félix ficamos conversando e cada um logo pegou seu rumo, felizmente Rafael cuidava de quase tudo junto com o Levi que cuidava de estoque e coisas do tipo. Bruna iria trabalhar de casa selecionando e entrevistando via skype, depois ela viria oficialmente pra cá.

Dia seguinte

Era minha folga, por um lado eu estava feliz por ser dia de visita, mas não era como encontrar ele na casa dele ou coisa do tipo. Quando acordei já vi as mensagens que Fernanda tinha enviado e fui logo me adiantar.

Tomei meu banho e vesti uma calça jeans, uma camiseta e uma jaqueta por cima, calcei meus tênis, dei uma última olhada no espelho e desci. Tomei meu café na maior rapidez possível e quando coloquei as coisas na pia, ouvi as batidas e os gritos da Fernanda, eu gritei que estava indo, escovei meus dentes e saí.

- Caralho, Isa. — ela começou a reclamar.

- Tá, tá. Desculpa!

- Vou ficar te esperando lá fora, beleza? — eu assenti e nós entramos no carro.

Fernanda quem estava dirigindo e eu estava cada vez mais nervosa, eu apertava a sacola de comidas como se fosse uma bolinha anti stress. Não demorou muito para chegarmos.

- Fica de boa, só segue o que te falarem e vai lá ver ele. Vai ter trinta minutos, aproveita. Vai vir toda semana comigo pra essas visitas, ele não tem direito a visita íntima. — eu não respondi nada, apenas assenti e desci do carro.

Esperei por uns dez minutos numa fila onde tinham outras pessoas, quando chegou minha vez, me revistaram inteira, precisei até subir em um espelho, foi constrangedor. Reviraram toda a sacola e me liberaram, eu entrei e o procurei, ele estava lá, sentado em uma mesa e eu fui até ele, nós nos abraçamos e um dos guardas logo pediram para nos soltarmos.

- Não tem noção do quanto eu tô sentindo sua falta. Trouxe um monte de coisa. — eu entreguei a ele a sacola.

- Tá foda aqui, patricinha. Mas e a coroa, como ela tá?

- Ela tá aceitando, sabe que é preciso passar por isso e a Fernanda tá dando toda força possível.

- Quero conversar contigo, a gente não tem muito tempo. — ele foi curto e eu assenti. - Não quero que venha mais.

- Como assim? Pedro!

- Tu sabe que eu também sinto sua falta, amor. Mas eu não quero que fique saindo da tua casa pra ficar vindo no presídio passar por aquela revista nojenta. Tô te pedindo, se você vai mesmo me esperar, não vem mais nesse bagulho, tu não merece isso.

- Eu.. Duarte, não fala isso.

- Um dos meus manos de cela tem um celular, vou tentar te ligar sempre que der, belê? — ele sussurrou e eu assenti.

- Acabou, vou precisar ir. Se cuida, Pedro, por favor.

- Se cuida você patricinha, eu te amo pra caralho. — ele segurou minha mão e sorriu, meus olhos se encharcaram d'água.

- Eu te amo muito! Tô te esperando lá fora.

Eu saí dali com o coração despedaçado, mas ele tinha razão, esse lugar não era legal. Eu entrei no carro ainda tensa e a Fernanda me olhou.

- Ele pediu pra tu não vir né? — ela perguntou e eu assenti. - É melhor assim, Isa.

- É.. antes de ir pro morro vou ter que ir na casa de uma amiga que vai trabalhar junto comigo, tudo bem? — eu desviei o assunto e ela assentiu, eu dei o endereço e ela seguiu.

Era uma nostalgia imensa ir novamente naquele prédio, eu amava morar ali, tinha intimidade até com os zeladores. Nós subimos e a Bruna veio atender depois de umas cinco batidas, provavelmente a Gabi estava dormindo.

- Oi, secretária da minha life! — eu falei assim que ela abriu e ela paralisou na porta.

- Fernanda?!

- Bruna?!

- Ué gente, eu perdi algo? — eu olhei as duas que ainda estavam se encarando.

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