8. Suficiente

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Quando Regulus retornou ao dormitório somente um bom tempo depois, eu ainda o estava esperando acordado e sentado na ponta de sua cama. Mesmo que fosse ter aula dentro de algumas horas, mesmo que o quarto estivesse em estado de um perfeito silêncio e escuridão e os nossos outros dois colegas de quarto já estivessem dormindo tranquilamente a ponto de soltar alguns roncos, vez ou outra...

Eu precisava saber que ele estava bem acima de tudo aquilo, eu precisava ter essa confirmação. E quando ele adentrou o quarto, usando o feitiço Lumos que deixava acesa a ponta de sua varinha, e meus olhos inchados por ter chorado até não aguentar mais caíram sobre o seu rosto, eu tive certeza de que nada estava bem.

Meu coração deu um salto tão alto que me admirava ele não ter parado de funcionar naquele mesmo momento depois disso.

Regulus me encarou de volta e a vermelhidão presente em seus globos oculares indicava que, assim como eu, ele havia derramado algumas lágrimas e ficamos assim por um tempo, somente avaliando um ao outro com o olhar, praticamente acariciando o fundo da alma um do outro somente com aquele gesto tão intenso. Sem ao menos nos tocar.

Regulus retirou os sapatos de qualquer jeito enquanto fazia esforço para segurar a varinha, colocando-a entre os dentes por um instante e após terminar e apagá-la com um aceno simples, veio até mim a passos lentos, se sentando ao meu lado, a escuridão tornando a se fazer presente e tudo que eu conseguia sentir era o calor que seu corpo - já bastante próximo - emanava e nossas respirações desreguladas e altas que preenchiam o ar.

"Tudo bem?" A primeira fala foi dele, que soou baixinha e rouca, o tom preocupado se fazendo presente e seu hálito quente batendo contra uma de minhas bochechas.

Em resposta, eu apenas acabei com o espaço existente entre nossos corpos e me enrrosquei a ele da forma que parecia apropriada para o momento, apoiando meu rosto na curvatura de seu pescoço e o segurando como se temesse que ele fosse desaparecer a qualquer instante, ou fugir de mim outra vez...
Regulus não me afastou, apenas me permitiu abraçá-lo e tocou sutilmente na base de minha coluna por baixo do tecido da blusa que eu usava com uma das mãos grandes e que estava fria demais, fazendo um arrepio se espalhar por minha espinha.

Agradeci pelo quarto estar um breu que não o permitia fitar meu rosto que ardia em rubor.

"Estou. Porque você está aqui." Eu respondi algum tempo depois, usando o mesmo tom de voz sussurrado que ele, como se compartilhasse o maior segredo de toda minha vida.

Nunca rompendo o abraço, nunca o soltando do nosso emaranhado perfeito que passava a sensação de estar em casa. Eu tinha a impressão de que nada poderia me afetar enquanto estivesse ali, daquela forma, com seus braços em torno de mim como um muro que me complementava e fazia eu me sentir mais forte.

Como se ele fosse meu ponto seguro.

"Eu sinto muito." Regulus comentou e logo em seguida engoliu em seco, enquanto eu sentia uma pontada aguda perfurar meu peito ao ouvir seu tom de voz tão fragilizado. "Você é a única pessoa que ainda se importa comigo e não me abandonou e eu fugi de você, eu não... eu só..."

"Shh." Eu pedi e enfiei minhas mãos nos fios de seu cabelo, distribuindo leves puxões para que ele soubesse que eu estava ali e que não iria a lugar algum.

Eu estou bem aqui e eu sou todinho seu.

Essa frase ecoava dentro de minha cabeça diversas vezes em muito pouco tempo enquanto eu sentia a respiração quente de Reg bater contra meu pescoço e me concentrava para não dar atenção aquelas malditas borboletas que descobri residirem em meu estômago e que adoravam despertar quando estava na presença dele.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora