7. Previsão

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Quando acordei na manhã do dia que teria a reunião do Clube do Slugue havia uma movimentação incomum no meu dormitório
Sem contar no barulho melodioso de uma música que tocava em uma altura agradável, mas alta o suficiente para despertar a mim e o restante dos garotos que se levantaram a contragosto de suas camas e saíram reclamando com a pessoa responsável por tudo aquilo - que obviamente era o meu melhor amigo.

Resisti por alguns instantes, rolando de um lado para o outro na cama, encostando o nariz no travesseiro dele ao lado do meu e sentindo o cheiro de morango impregnado no tecido, ficando assim por um tempo.

O cheiro dele era inebriante.

Eu me sentei na cama e cocei os olhos para espantar o sono que ainda se fazia presente e encarei o garoto que dançava animadamente ao som da música que parecia combinar perfeitamente com os movimentos que eram feitos por ele, parecendo não se importar com mais nada.

Ele balançava os quadris e os braços ao mesmo tempo e soltava leves pulinhos a medida em que atravessava o quarto como se seus pés - que estavam descalços - escorregasse sob o piso, magicamente.

Ainda usando o meu suéter de quadribol da noite passada, que pelo fato de ser um pouco grande para seu tamanho, escorregava por um dos ombros e me dava a visão favorável da pele alva e pegava quase na metade de suas coxas torneadas que eu sabia existir embaixo do tecido folgado da calça de moletom que ele usava.

Foi quase impossível conter o sorriso que surgiu no cantinho de meus lábios, assistindo atentamente cada gesto por menor que fosse que Barty fazia, antes do menor perceber que eu havia despertado e se virar em minha direção, cravando os olhos azuis que perfurava minha pele e se tornava inevitável de desviar o olhar, movendo os lábios para sibilar a letra da música, mas sem realmente cantar, de um jeito quase que obsceno.

Senti a respiração parar em meus pulmões quando ele se aproximou da orla da cama, ainda dançando no ritmo da música, com seus lábios avermelhados sempre se mexendo: quando não estava sussurrando inaudível a letra da música, estava formando biquinhos enquanto ele fazia caras e bocas, achando aquilo tudo muito divertido.

Era como se ele fosse a única coisa que existisse no mundo naquele momento. Como se ele fosse, de fato, o mundo.

"Ooh love - Ooh loverboy. What're you doin' tonight, hey boy?" Barty se ajoelhou em cada lado do meu corpo na cama e aproximou o rosto relativamente do meu, como se cantasse aquelas palavras para mim.

Eu ergui o rosto para continuar o fitando e soltei uma gargalhada rouca e sonolenta para ele, que beijou meu queixo e tornou a se afastar com a mesma rapidez com que viera.

Mordi o lábio inferior e assisti ele refazer seus próprios passos, indo de uma extremidade a outra do quarto, passando entre as camas e malões, quase em uma performance onde eu era o público e ele o artista principal.

Até que seu corpo encontrou o chão em um tombo que ele levou. Eu, preocupado demais para sequer sorrir daquilo, me levantei em um pulo e caminhei até ele, conseguindo respirar aliviado ao ver que ele gargalhava de si mesmo, com as costas pregadas no chão frio e encarando o fundo de meus olhos por baixo.

O azul ficando preso no cinza por segundos que me fizeram perder noção de quem eu era.

"When I'm not with you, I think of you always..." Ele recomeçou, apontando para mim com as mãos agora. "Love you, Love you." O sorriso sumiu de seus lábios e ele apenas me encarou, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa.

Meio incerto sobre o que seria, eu estendi a mão para meu melhor amigo e ele se segurou para que eu o ajudasse a se levantar. A música havia chegado ao fim e tudo o que existia agora era um silêncio ensurdecedor, meu coração batendo com rapidez em meu peito e meus pensamentos embaralhados e confusos e lentos por ainda haver vestígios de sonolência em meu sistema.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora