10. Fingir

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Minha cabeça latejava levemente pelo barulho alto da música que parecia se intensificar mais a cada segundo que se passava, eu olhava para todos os lados, tentando encontrar meu melhor amigo enquanto tentava manter minha mente livre de preocupações com o garoto que estava demorando demais para retornar. Fabian e Alex dançavam ao meu lado e eu mantinha os braços cruzados em frente ao corpo, refletindo muito bem o quão infeliz eu me encontrava no momento.

"Estou começando a ficar preocupado..." Eu me aproximei de meus dois mais novos amigos para dizer, a pequena ruga mo meio de minhas sobrancelhas franzidas denunciando isso.

Fabian soltou o ar com lentidão e se virou minimamente para me fitar, olhando-me com cuidado antes de dizer:

"Deve estar tudo bem, Barty. Ele só deve ter se perdido..." O ruivo argumentou e seu namorado deu de ombros, o abraçando por trás e passando as duas mãos firmemente por seu quadril, logo atraindo sua atenção outra vez.

Eu me sentia completamente invisível em meio a todas aquelas pessoas que somente esbarrava em mim vez ou outra e não me olhavam por pouco mais que um segundo - nem mesmo se preocupavam em se desculpar - e eu sentia como se não tivesse nada de interessante em mim. Como se eu não tivesse nada para ser admirado ou suficientemente cativante para que ao menos uma pessoa, só uma, fosse capaz de reparar. E lá no fundo, eu sabia que aquilo era verdade.

"Eu vou pegar uma água." Avisei para o casal, já me virando e dando as costas para os dois, parando em meio ao ato quando senti a mão de alguém em meu ombro.

Ao me virar encarei Fabian que tinha aquele mesmo olhar que era tão cuidadoso, como se o garoto temesse que eu fosse me partir em vários pedacinhos a qualquer momento.

"Quer que eu vá com você?" Ele frisou aquelas palavras, me olhando fundo nos olhos.

"Não precisa, eu só vou pegar uma água, já vou voltar pra cá, confie." Assegurei e ele foi afastando a mão aos poucos, com uma das sobrancelhas erguidas em questionamento.

Sorri uma última vez em sua direção e me afastei, tomando cuidado para não ser massacrado ou pisoteado por todas aquelas pessoas que eram, em sua maioria, incrivelmente mais altas do que eu. Respirei aliviado quando cheguei a um canto mais isolado, passando a franja que havia saído do lugar durante o trajeto para o lado usando a ponta dos dedos, deixando que meu braço caísse pesadamente ao lado do corpo assim que terminei.

"Ora, ora, ora, veja quem temos aqui..." Aquela voz começou a dizer em um tom de divertimento e eu senti minha nuca se arrepiar, como se uma brisa fria cortasse contra meu corpo naquele momento.

Eu me virei lentamente para o lado em que a voz parecia vir e pude assistir Evan Rosier literalmente sair das sombras e entrar em meu campo de visão, e por mais que o lugar onde eu estava não fosse tão bem iluminado assim, ainda me permitia fitar com precisão os cortes quase cicatrizados em seu nariz que estava enfeitado com um band-aid e seus olhos maléficos pairaram sobre mim, repletos de luxúria e satisfação em me ver

"Onde é que está seu namorado, heh?" Perguntou já se aproximando a passos lentos, tocando em meu queixo e me obrigando a erguer o rosto que eu tentava esconder, forçando meu olhar a encontrar com o seu. "Não sabe? Que peninha, eu acabei de vê-lo dando uns amassos com outra bichinha..."

Doeu.

Eu senti aquelas palavras me atingirem como um tapa forte atinge um rosto em meio a uma discussão. A palma aberta encontrando a pele facial em um movimento tão rápido que se precisa de alguns segundos para raciocinar direito o que acabara de acontecer. Meu coração se apertara como nunca antes assim que compreendi o que Evan dizia, ligando todas as pequenas peças e obrigando meu cérebro a entender que aquilo estava mesmo acontecendo. Eu sentia vontade de gritar por uma dor que eu sabia que não existia, que eu sabia não estar, de fato, ali, mas que ainda tomava meu peito e o fazia queimar.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora