25. Coração Puro

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×××

Respirei fundo. Ou ao menos tentei, já que o oxigênio se encontrava travancado dentro do meu peito havia alguns segundos, que mais pareceram minutos, que mais pareceram horas.
Me fazendo ter vontade de dar meia volta para ir embora e voltar para Hogwarts. Voltar para os braços de Barty que eu havia deixado dormindo antes de sair, voltar para o meu ponto seguro. Para o meu pequeno raio de sol. Meu pedacinho de felicidade.

Mas eu sabia que não poderia fazer isso. Não sem antes entrar na casa de número 12 onde eu cresci, - não fora uma infância muito tranquila, tenho que confessar, mas eu fui feliz ali, ao menos por um tempo - e enfrentar meus pais.
Antes de perceber o quão errado era a concepção que minha família pregava e de como aquilo, definitivamente, não combinava comigo.
Começou quando o meu irmão foi selecionado para a Grifinória. Eu tinha apenas dez anos na época, mas ainda assim consegui perceber como tudo mudara drasticamente.
Meus pais discutiam todo o tempo, minha mãe fazia o possível e o impossível para tornar a vida de Sirius um verdadeiro inferno e eu, bem, eu era cobrado todo o tempo desde então.
Seja nos meus gestos, nas minhas falas, na minha forma de me portar e principalmente na missão que fora passada a mim de orgulhar a família Black.

Eu não queria aquela missão, eu não pedi por ela, mas por muito tempo eu tive que aprender a lidar com isso.
Tudo o que eu fazia era perfeitamente scriptado por meus pais e eu nunca - nunca mesmo - agi como eu mesmo em frente a eles. Na realidade, a única pessoa com quem eu era completamente verdadeiro, era Barty. Com ele, eu me sentia livre para ser como eu queria ser. Sem cobranças, sem fingir, era apenas eu. Sem filtros ou efeitos.
Mas enquanto isso, com as outras pessoas, era tudo uma representação constante.
Onde eu era um fantoche, que era controlado por mãos cruéis e autoritárias.

Mas eu estava cansado disso.

Eu já não me importava mais com o que meus pais pensariam ou diriam sobre mim. Estava cansado de ser daquela maneira e sentia que algo dentro de mim precisava se libertar imediatamente antes que eu acabasse morrendo com aquilo.

O mundo sempre fora assim. Evoluía no decorrer dos anos, as pessoas passavam por mudanças, se tornando melhores e mais inteligentes. O mundo trouxa não me deixava mentir. Então, eu pensava que, talvez assim, eu tivesse a chance de evoluir também, certo?
Eu tinha a chance de me tornar uma pessoa boa e eu não a deixaria escapar por nada, mesmo que tivesse que passar por cima da autoridade de meus pais para conseguir aquilo.

Apertei o colar de Amortentia que pendia em meu pescoço, exalando o cheiro delicioso de morango do meu namorado e, instantaneamente, sorri. Puxando o ar com força uma última vez antes de girar a maçaneta da porta da frente e a abrir para que pudesse entrar.

A sala luxuosa do Largo Grimmauld, 12 estava, como de costume, impecável.
A lareira acesa por si só iluminava o ambiente e o deixava com um aspecto meio sombrio. Caminhei pelo corredor e me sentei em um dos sofás, olhando para os lados na expectativa de ver um de meus pais aparecendo de um dos cômodos a qualquer momento.
Minha perna tremulava, a sola de meu sapato batendo contra chão produzia um barulhinho que ecoava pelo espaço silencioso.

"Regulus" Era minha mãe quem falava, caminhando até mim que me levantei em um salto brusco demais, recebendo um olhar de repreensão da mais velha.

O meu pai viera logo em seguida, cumprimentando-me com um aceno firme e distante com a cabeça, antes de nós três nos sentarmos novamente. Os mais velhos dividindo um sofá de três lugares enquanto eu ocupava o de dois, sozinho. Minha perna voltando a tremular e é claro que minha mãe não iria deixar aquilo passar:

"O que há de errado com sua perna? Controle-se, Regulus." Ela apontou com a cabeça, torcendo nariz em uma expressão desgostosa e eu franzi as sobracelhas em um gesto hesitante.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora