17. Êxtase

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Quando acordei no dia seguinte Barty estava aninhado a mim como se fosse um gatinho manhoso - o que eu sinceramente tinha sérias suspeitas de ser um fato verídico - ficando por um tempo apenas olhando-o dormir tão tranquilamente, desejando que estivesse tendo os melhores sonhos do mundo e venerando cada respiração e cada batida calma de seu coração que eu conseguia sentir ao ter seu corpo parcialmente sobre o meu peito.
O sorriso que esbocei durante aquele dia inteiro - o qual eu passei todo o tempo com o meu garoto deitados em nossa cama, por ser sábado e as provas já terem passado, deixava explícito o quão feliz eu estava por tê-lo por perto outra vez. E assim aconteceu nos dias que se sucederam.

Em um piscar de olhos, já estávamos quase no final de dezembro. Sirius tentando me convencer a me declarar para Barty, o qual eu alegava estar bem com como as coisas estavam. Barty e eu mais próximos do que antes - se é que aquilo era mesmo possível - e tudo parecia estar... bom demais. Tranquilo demais. E toda aquela tranquilidade me assustava, pois eu bem sabia que tinha uma tempestade se formando e que logo mais estaria chegando, somente aguardando à espreita para me pegar de surpresa, para chegar quando eu menos estivesse esperando...

"Babyy..." Barty gritou e caminhou até mim, que atravessava o corredor para retornar ao Salão Comunal após a última aula de Herbologia do ano antes de estar, oficialmente, de férias.

Os alunos eram liberados das aulas dois dias antes do Natal para que, quem quisesse, fosse visitar a família e assim festejar junto dos seus, e quem não quisesse, ficar no castelo e festejar entre seus amigos, colegas e professores que também ficavam por ali.
Como se fosse um tipo de tradição, Barty e eu sempre ficávamos em Hogwarts para as festas de fim de ano, o que era um método muito eficaz para passarmos mais tempo juntos e também para aproveitar as férias e descansar, bem longe de nossas famílias preconceituosas. O que, na minha humilde opinião, era mais do que satisfatório.

O garoto não esperou estar perto o suficiente para se atirar nos meus braços, com a certeza de que eu o pegaria, impedindo que fosse de encontro ao chão de pedra, e eu, logicamente, o fiz.
Barty envolveu as mãos em torno do meu corpo e eu senti o garoto fungando em meu pescoço, como se tivesse chorado recentemente e aquilo me preocupou.

"O que foi, pequeno?" Eu perguntei baixo quando nos afastamos do abraço, porém mantendo meus braços em torno de seu corpo, imediatamente alcançando sua cintura com as mãos e deslizando os dedos sobre ela levemente, sentindo o quão marcada e vantajosa ao toque era. Ao meu toque.

Barty passou a mão pela bochecha, parecendo quase tão chateado quanto estressado.

"Meu pai quer que eu vá para casa no Natal." Ele soltou de repente e eu comprimi os lábios no mesmo momento, tentando processar aquelas palavras e formar uma frase para respondê-lo.

"Tentou falar com ele sobre isso?" Eu questionei inutilmente, parando a ponta do polegar sobre o queixo, pensativo.

"Eu tentei convencê-lo a me deixar ficar, mas nada parece funcionar... Ele não me deixa escolher nem mesmo isso, não é justo!" o pequeno gesticulava com as mãos e eu toquei em seus ombros, tentando mantê-lo calmo e parado no lugar em que estava.

"B... Talvez não seja quão ruim quanto você pensa." Eu falei com um meio sorriso, tentando animá-lo e ele levou uma de suas mãos até meu antebraço, como um pedido silencioso para que mantivesse minhas mãos ali, distribuindo um carinho singelo em seu ombro coberto somente pela camisa branca social.

"E-eu não quero ir por causa de você."

Como se doesse dizer aquelas palavras em voz alta, o garoto mantivera seus olhos azuis como nada - pois nada no mundo se comparava ao brilho deles - fixos nos meus, cinza e frios, como a própria cor sugere. E em seguida abaixou a cabeça, passando a língua pelos lábios, em um gesto que indicava o seu nervosismo e eu apenas sorri...
Sim, eu sorri. Por mais simples que aquela frase parecia soar, vindo do garoto a minha frente que era tão, tão especial para mim, era uma coisa realmente grande e significativa. E eu estava sorrindo feito um idiota, mas sem conseguir me importar com isso e com mais nada.

De repente, era como se existisse somente nós dois no mundo. Era como se somente isso importava. O fato de eu me sentir forte quando estava junto a ele. A sensação era comparada a de ter um super poder. Era incrível e estranho em proporções muito semelhantes e que me deixava confuso.

"Oh, bobo..." Eu ergui uma das mãos - a que ele não segurava - para fazer carinho em sua face, em uma das maçãs de seu rosto que ficavam marcadinhas quando ele sorria.
Eu amava tanto aquilo nele. Eu amava tanto, ele.
"Não precisa se preocupar comigo, eu juro que irei sobreviver..."

Afirmei com um sorriso ainda abobalhado brincando sobre meus lábios e Barty tentou sorrir, erguendo a cabeça, com aqueles olhos brilhando na minha direção.
Ele tinha uma face quase que angelical. Na realidade, eu poderia apostar que, se anjos realmente existiam, eles se pareceriam com aquilo que Barty tinha. E não é somente sobre características físicas a que me refiro, mas também sobre o caráter e intelecto pessoal do mesmo. Barty era puro e aquilo estava escrito naquelas bochechas rosadas - já que a testa estava escondida sob a franja de mexas castanhas...

"Mas eu não sei se eu vou..." Dito isso, eu bati as pálpebras de uma só vez, quase arregalando os olhos para sua confissão, mas por sorte, consegui me conter a tempo.

"É claro que vai, serão só alguns dias, B." Eu tentei descontrair, afastando a mão que estava em seu rosto para coçar a nuca em um gesto nervoso.

Droga, ele era a única pessoa que conseguia fazer eu perder completamente a postura com apenas um olhar, ou um apelido mais íntimo.
Barty era o único capaz de me deixar desconcertado. Eu perdia totalmente a noção das coisas quando estava com ele.

"Reg..." Barty começou em tom de quem lamenta e eu senti meu coração errar uma batida assim que detectei aquele tom. Eu conhecia todos os seus tons de voz. Eu conhecia o garoto a minha frente como a palma de minha mão. "Eu acho que estou apaixonado por você. N-não, digo, eu acho não, eu... eu tenho certeza disso."

Ele não desviou o olhar dessa vez, como eu achei que faria e o aperto de seus dedos, ainda fechados em torno de meu antebraço se tornou mais forte, como se o garoto quisesse dar certo ênfase no que acabara de dizer.
Instantaneamente, meu cérebro não pareceu associar aquelas palavras corretamente. Embolando-as entre si e formando frases completamente diferentes e com sentidos banais. E quando eu finalmente entendi, abri a boca algumas vezes, mas sem conseguir encontrar minha voz para dizer algo, enquanto o menor me olhava preso na mais plena agonia que a espera lhe proporcionava.

"Barty... você está brincando, não está? E-eu..." Eu soltei uma risada analasada, sentindo o nervosismo invadir meu sistema e o tomar por inteiro em uma fração de segundos, sentindo como se cada músculo de meu corpo estivesse sob um feitiço paralisante naquele momento.

Antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, Barty deu um passo a frente e acabou com o pouco de espaço que existia entre nossos corpos, ficando sobre as pontas dos pés para alcançar meu rosto e impulsionar os seus lábios contra os meus em um selinho quase que desesperado.
Com uma rapidez impressionante, eu envolvi minhas mãos outra vez em cada lado de sua cintura, o puxando para mim como se desejasse me fundir a ele. Barty deixou escapar um grunhido de satisfação contra minha boca e eu não consegui repelir o sorriso que abri entre o ósculo.

Nossas bocas foram criando o seu próprio ritmo, se abrindo minimamente uma contra a outra, enquanto um sugava os lábios do outro como se dependesse daquilo para viver e, naquele momento, eu não duvidava que realmente precisávamos.
A boca de Barty era macia e fazia com que uma corrente elétrica passasse dos seus para os meus, irradiando por todo o meu corpo, que sentia as reações nunca antes sentidas e chegando a tocar minha alma que vibrava em um estado de êxtase. Em êxtase por sua declaração. Em êxtase por seus lábios se encaixarem tão bem aos meus. Em êxtase por eu também estar apaixonado por ele. E em êxtase por seu beijo ser simplesmente a melhor coisa que eu já experimentara em toda a minha vida.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora