27. Marcado

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×××

Barty estava abraçado a mim quando eu acordei, retirando cuidadosamente seu braço que passava por cima de minha barriga para me levantar sem acordá-lo.
O barulho de passos e conversas, ainda que sussurradas, que preenchiam o dormitório naquela manhã só serviam para me deixar ainda mais estressado, se é que isso é possível.

Me direcionei ao banheiro, arrastando os pés pelo piso para chegar ao banheiro onde fiz minha higiene matinal, não me preocupando em me vestir para ir a aula naquele dia, já que pretendia faltar as aulas por me sentir indisposto para fazer qualquer coisa que fosse preciso sair da cama para executar.

"Amor... Que horas são?" O menor grunhiu se mexendo ao meu lado, assim que eu retornei para a cama, me enfiando embaixo das cobertas. Apenas suspirei, sem forças se quer para responder. "Amor?"

"Você vai se atrasar." Eu disse simplesmente, fechando os olhos com força para conter as lágrimas que queriam se formar ali.

"Você não vai ir a aula hoje?" Barty perguntou, se apoiando sobre os cotovelos dobrados, deitando de bruços para me olhar.

Eu balancei a cabeça negativamente. Tudo o que escutei em seguida foi um suspiro do menor.

"Você quer que eu fique com você?" Foi o que meu namorado perguntou, enquanto eu apertava meus olhos com toda a força que eu tinha, sem coragem de encará-lo no momento.

"Não."

Outro suspiro.

"Tudo bem então, amor." Barty falou enquanto um barulho ao meu lado na cama indicava que ele havia se levantado, provavelmente para se preparar para ir a aula.

Barty ficou alguns minutos no banheiro, enquanto eu escondia a cabeça em baixo das cobertas, ainda me recusando a abrir os olhos e sentindo a vontade de chorar cada vez maior e o aperto em meu peito aumentar por me sentir indigno até mesmo de respirar aquele ar.
Eu sentia que não merecia nada no mundo, por não ser bom o suficiente e por ser um terrível problema que estragava tudo o que eu tocava. Sempre.

"Quer que eu te traga algo, amor?" A voz doce do garoto soou outra vez e eu ergui a cabeça, abrindo os olhos minimamente e vagando pelo quarto a procura dele, o avistando próximo a porta, já vestido e com a bolsa no estilo carteiro sobre um dos ombros.

A forma como ele me olhava... Era quase como se eu fosse quebrar a qualquer instante.

"Não precisa, ficarei bem..." Menti, voltando a me deitar e Barty pareceu acreditar.

Apertei os olhos outra vez, esperando que o barulho da porta batendo indicasse que o mesmo havia ido para que eu pudesse chorar sozinho. No entanto, o que aconteceu foi eu sentir um corpo pequeno e quente se encaixando ao meu, me abraçando por trás e pressionando um beijo em meio aos cabelos de minha nuca.
Naquele momento, eu não consegui mais conter as lágrimas, deixando-as rolar livremente enquanto os meus soluços altos escapavam por entre meus lábios, preenchendo o quarto silencioso e me fazendo sentir ainda mais frágil e quebrado.

"Você vai se atrasar." Repeti, maquinalmente.

"Eu não me importo..." Senti mais alguns beijos sendo pressionados na parte de trás do meu pescoço.

"Por que você ainda está aqui?" Eu perguntei, com meu tom de voz soando embargado devido o choro intenso. "Vá embora! Todo mundo foi, é só questão de tempo até você se cansar de mim também..." Continuei, enquanto o aperto do garoto em meu corpo se intensificava.

"Eu não vou deixar você nunca." Barty respondeu, decidido.

"Eu só vou estragar a sua vida, como fiz com a de todo mundo." Lamentei, usando o mesmo tom de voz. "Meus pais me odeiam, meu irmão me abandonou e você..." De repente, eu não soube o que dizer, apenas soluçando altamente e me contorcendo em meio as lágrimas que molhavam o travesseiro.

"Hey, amor, não fala isso... Seu irmão gosta demais de você. Mais do que imagina..." O menor tentou falar, mas eu o impedi.

"Você não sabe..." Balancei a cabeça.

"Sim, eu sei. Eu vejo pela forma como ele tem cuidado de você. O Sirius ama você demais, eu amo você demais..." Ele afirmou e eu tentei me esquivar do seu abraço. "Você é muito amado, Regulus Black. Por favor, acredite em mim." Barty sentenciou e eu consegui que ele me soltasse, me afastando no mesmo instante.

"Tudo isso aconteceu porque eu não aceitei ser marcado... porque eu desobedeci meus pais..." Disse como um lamento, sentando na orla da cama de costas para Barty.

"Pode não parecer agora, mas você fez o certo... Você fez a escolha certa, amor. Escolheu o lado do bem, isso é o que importa." Ele tentou afirmar, mas eu respondi sacudindo a cabeça em negação freneticamente.

"Eu não tenho certeza..." Naquele momento, Barty se colocou ao meu lado e apanhou meu braço. "O que está fazendo?" Sussurrei, assustado, recolhendo o braço.

Mas antes que eu o fizesse, Barty me segurou:

"Se você está mal com o fato de não ter sido marcado... É muito simples, eu vou marcá-lo" O rapaz de cabelos castanhos falou com simplicidade, jogando os ombros para trás uma única vez.inhas sobracelhas se franziram. "Confia em mim..."

Eu permaneci paralisado no lugar por um tempo, sem conseguir me mover para me afastar, olhando atentamente para o mais baixo em ação da curiosidade que tomava meu corpo.

"Essa marca, estrelinha" Começou o pequeno enquanto afastava a manga da minha blusa, erguendo-a até a altura dos cotovelos "Magia alguma pode copiar e nem mesmo o tempo pode apagar..." Enquanto ele falava, eu apenas sentia as lágrimas se contendo aos poucos, enquanto tudo o que eu enxergava era ele.

Eu tinha o amor da minha vida bem a minha frente e minha mente gritava para mim, todo o tempo, olhe-o, olhe-o, até o último segundo.

Sorriu carinhosamente antes de inclinar seu corpo levemente para baixo, começando a distribuir beijos demorados sobre a superfície do lado inferior do meu antebraço.
Minha boca estava entreaberta e meu coração acelerado, enquanto a maciez de seus lábios tocavam minha pele com tanto cuidado que parecia como se temesse que eu pudesse quebrar a qualquer momento.

"Pronto..." Barty sorriu, erguendo o corpo para concertar a postura. "Você foi marcado com o amor."

Porém, a resposta que eu dei, fez com que o sorriso que brincava em seus lábios, desaparecer.

"Eu não sou bom o suficiente para você."

Abalado com sua expressão de desapontamento, eu me levantei da cama ao passo que abaixava a manga da blusa, parando próximo a uma das janelas com a vista para o Lago Negro, voltando a fungar baixinho.

"Acho que você já deve ter percebido que não deve fugir comigo. Eu sabia que não era uma boa ideia, desde o início... Você não ia querer um bipolar como eu do seu lado. Você não merece isso. Ninguém merece." Eu falei rapidamente, passando a mão para baixo da manga da blusa que vestia, começando a arranhar a pele com as unhas.

Meu corpo inteiro tremia, meu coração batia rápido como um motor e as lágrimas retornaram de uma forma compulsiva, escorrendo pelo meu rosto que àquele ponto deveria estar avermelhado como nunca.

Barty veio até mim, que acompanhava seus movimentos com os olhos levemente arregalados, assustado. Sem saber o que eu seria capaz de fazer, eu poderia machucá-lo e somente essa ideia fazia algo se mexer desconfortavelmente em meu estômago. Barty envolveu minha mão entre as suas duas que eram pequenas, me oferecendo um olhar sincero, tentando me passar confiança.

"Você para mim vale mais do que tudo no mundo." Declarou, com um pequeno sorriso no cantinho de seus lábios, apesar de seus olhos estarem molhados.

Ele ergueu uma das mãos, fazendo menção de tocar minha bochecha para deixar um carinho ali, mas eu o parei no meio do ato, segurando seu antebraço e o olhando com seriedade.

"Fica longe de mim." Eu senti meu coração falhar uma batida, quando seu semblante vacilou. "Eu não quero machucar você." Balancei a cabeça, ainda chorando, antes de desviar de seu corpo para me afastar outra vez.

Andei de pressa até o banheiro, onde fechei a porta atrás de mim com força, trancando-a e escorregando com as costas pregadas na mesma até chegar ao chão, onde me encolhi ao máximo que conseguia e chorei tudo o que havia segurado por quase dezessete anos.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora