11. Desculpa

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Eu ainda acariciava os cabelos de Barty e o olhava dormir tão serenamente envolto de meus braços, minha cabeça doía e as bolsas escuras embaixo de meus olhos denunciava a noite inteira sem dormir. Eu não sabia que horas eram e nem mesmo me preocupei em conferir, me permitindo ficar imerso em meus próprios pensamentos por um tempo e fazer uma rápida revisão de tudo que havia acontecido na noite que se passou.

Lembrei de embalar um pequeno príncipe entre meus braços e caminhar com ele e por ele para longe de tudo que mais o fazia mal no momento. Lembrei de despir seu corpo estreito, mas sem segundas intenções com o mesmo. Lembrei de suas declarações bêbadas e errôneas direcionadas a mim. Lembrei de cada uma de suas palavras emboladas que não deveria fazer meu coração bater de modo tão descompensado ao absorver cada uma delas. Não deveria...

Àquele ponto eu já nem me lembrava do que havia acontecido entre eu e James, pois eu estava inteiramente focado em pensar no que alguém - que eu tinha suspeitas sérias sobre quem seria - havia feito com o meu melhor amigo em um segundo de distração de minha parte. Eu sentia a culpa por esse acontecimento se remexendo em minhas entranhas e fazendo minhas têmporas latejar de tanto pensar e me preocupar. Eu também havia visto as marcas que ele deixara na pele clara de Barty e, contra minha vontade, as imagens de como aquilo se dera se passavam por minha imaginação todo o tempo e me fazia apertar os olhos com força na tentativa desesperada de me livrar daqueles deslumbres, por não suportar ver alguém fazendo aquilo com ele. Com o meu pequeno, amável e singular Barty. Que não merecia nada daquilo, que só merecia ser apreciado e tratado com carinho e respeito.

É isso que se faz com obras de arte, afinal.

Meus suspiros altos preenchia o quarto, absorto no seu tom verde escuro e meio sombrio mas que já era tão natural para o local, com o ar gélido vagando enquanto eu alisava as extremidades do rosto com traços finos e de pele macia, tocando-lhe a pele de uma forma tão sutil que era quase que imperceptível.

Ele se mexeu minimamente e eu afastei a mão com agilidade, deixando que descansasse sobre meu próprio peito e soltei um suspiro aflito, sem desviar o olhar do rosto dele, tendo a leve percepção de que acordaria a qualquer momento.

"Ai! Minha cabeça dói..." Barty grunhiu em um tom doloroso e sonolento nem meio minuto depois, se encolhendo em meus braços e escondendo o rosto com as mãos como sempre fazia.

Eu tentei deixar a respiração o mais normal possível no momento, piscando os olhos devagar por conta do cansaço da noite mal dormida, ou não dormida, nesse caso.

"Deve ser o efeito da bebida passando. Você está de ressaca." Eu cantarolei, engolindo em seco quando ele tombou a cabeça pesadamente para um dos lados, me permitindo fitar as marcas em seu pescoço, cerrando os punhos como um reflexo.

"Eu não sei o que... o que aconteceu?" Seus olhos subiram para me encarar, o olhar não se prolongando por muito tempo porque ele logo se afastou com uma rapidez impressionante e ficou de joelhos na orla da cama. "Porcaria, tá doendo muito..." Choramingou outra vez e se levantou, apertando a testa com os dedos como se aquele gesto fosse capaz de acabar com a dor que sentia.

Assisti suas costas desaparecerem quando a porta do banheiro bateu e eu respirei em frustração, antes de obrigar meu corpo exausto a se sentar na cama e encarar a porta com curiosidade, havia alguns minutos que ele estava lá dentro e eu me perguntei se estaria passando mal. Era um dos efeitos colaterais da bebida. Passei os dois pés lentamente para fora da cama, tocando o chão frio com os pés descalços e me encaminhei até a entrada do banheiro, encostando o ouvido na tentativa de escutar algo e no momento em que ergui a mão para bater e abri a boca em menção de dizer algo, a porta se abriu e Barty apareceu.

𝗲𝘃𝗲𝗻 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘀 𝗳𝗮𝗹𝗹𝘀 {bartylus}Onde histórias criam vida. Descubra agora