Vigia de travesseiro

1.4K 113 335
                                    

"Talvez não existam sinais. Talvez um colar seja apenas um colar e um puff seja apenas um puff. Talvez não precisemos dar sentido a tudo. Talvez não precisemos que o universo nos diga o que queremos. Talvez já saibamos, bem lá no fundo."
– How I Met Your Mother

Justin Bieber POV

Eram cinco e cinquenta e sete da tarde quando voltamos em passos meio arrastados ao carro estacionado, Olivia estava coberta por emoções e ninguém poderia julgá-la daquilo, resolvi fazer silêncio total e dar espaço a ela, lugares que nos trazem lembranças são complicados, e eu, tinha alguns em minha lista, mas isso era história para se pensar depois. A garota caminha em minha frente, os braços em volta do corpo como se quisesse fazer o sobretudo bege de segunda pele, estava ficando cada vez mais frio.

O sol pintado de laranja se esconde no horizonte por detrás de uma camada espessa de nuvens que antes eram brancas, mas agora tinham uma tonalidade dourada, me lembram a tampa de um baú do tesouro ou algo assim, o pôr do sol bonito prende minha atenção por um longo tempo, é bom observá-lo com tanta calma em seus detalhes mesmo no meio de toda essa confusão, não é porquê as coisas estão complicadas que o horizonte muda, e isso, de alguma forma, me deixa meio feliz, gosto de pequenos detalhes, por exemplo, quanto mais olho para esse céu tingido de dourado mais me lembro dos brincos da minha mãe, quando ela me abraça posso ver eles de perto.

Me despeço do Rio da Nação abaixo de nós quando entro na rodovia I-270, estou indo pelo caminho mais rápido que o mapa indica, depois eu teria de agradecer Ryan por ter esquecido aquele mapa no carro, era bem simples de ler suas coordenadas, estava me sentindo um mochileiro sem mochila encarando aventuras, dou uma risada abafada do meu pensamento ridículo e arrisco um olhar de relance para Olivia, sua cabeça está apoiada no banco e seu nariz continua um pouco rosado do choro mais cedo, quando os lados da estrada se tornam completamente verdes por conta dos parques estaduais, resolvo falar alguma coisa já que o último barulho que aconteceu foi o do carro sendo destravado.

O problema é que sou péssimo em puxar assunto, não costumo conversar por conveniência ou coisa assim, e por mais que eu adorasse o silêncio já estávamos imersos nele há duas horas ou mais, estava ficando com medo de cochilar ao volante, podia escutar a voz de minha mãe ao fundo dizer em minha mente: "e cuidado na estrada, Justin! preste bem atenção, você sabe que dirigir exige cuidado!" Como se eu ainda tivesse dezesseis anos.

— Você está com fome? – Arrisco, as pessoas sempre respondem essa pergunta por educação.

— Não muita. – Ela se mexe no banco do passageiro esticando as pernas que antes estavam imóveis, achei que a loira me deixaria no vácuo mas pergunta: — E você? Não é como se tivesse algum restaurante aqui perto, não é? – Aponta para a imensidão verde que cerca a estrada dando uma risada fraca, ela gostava de conversar.

— Não se preocupe, quando você menos esperar um McDonald's aparece. – Batuco meus dedos no volante.

— Jantar fast-food é um sonho, minha mãe ficaria louca se soubesse. – Respira fundo, me pergunto se está imaginando alguma cena da mãe em sua cabeça.

— Ela é muito protetora ou o quê? – Pergunto já sabendo a resposta, era óbvio que a mãe de Olivia era daquelas mães de televisão.

— Muito é pouco, ela é super protetora, detetive. – Afirma dando uma risada fraca e voltando seu olhar todo pra mim. — E a sua?

— Ela é mais preocupada do que qualquer outra coisa, mas acho que meu emprego dá esse direito a ela, então nunca reclamo. – Levanto meus ombros dando a entender que boa culpa de minha mãe ser tão preocupada é saber que seu filho pode levar um tiro e morrer a qualquer hora.

Wrong PlaceOnde histórias criam vida. Descubra agora