Wrong Place

Me odeie se quiser

"You're like an Indian Summer in the middle of winter
Like a hard candy with a surprise center
How do I get better once I've had the best?"
— Katy Perry – Thinking of You

Os passos de Olivia ressonavam ritmados contra o piso bem encerado do hospital, a garota caminhou com mais pressa do que gostaria de admitir  até encontrar o quarto de número cinquenta e seis, conferiu seu reflexo espelhado no vidro da janela com persianas fechadas e soltou os cabelos que estavam presos num rabo-de-cavalo, em seguida balançou a cabeça numa mistura de repreensão e zombaria de si mesma, sentia-se ridiculosamente ansiosa como uma adolescente no primeiro encontro.

Deu três leves batidas na porta ignorando o típico friozinho na barriga que se fazia presente e antes que pudesse ter qualquer outra ação uma enfermeira baixinha, deveria ter mais ou menos um metro e sessenta, abriu a porta por dentro sem esboçar muita emoção em vê-la ali por baixo de seus óculos redondos e de lentes grossas, apenas deu um boa noite robótico e saiu, desistindo de controlar o horário de visitas quando os pacientes pertenciam ao FBI.

Ollie até tentou dar uma olhada no ambiente que, constatou ser uma réplica do qual passou o resto da tarde, mas era meio injusto qualquer móvel do lugar se atrever em disputar sua atenção com o detetive sentado na maca ao centro do quarto. Justin estava usando roupas normais, típicas dele, uma bermuda larga, tênis confortáveis e uma camisa branca de tecido fino, seus olhos castanhos encaravam sem muita animação os fios em seu braço ligados ao monitor do lado da maca, mas não demorou muito para que as galáxias encontrassem o rosto de Olivia.

Fox sorriu, um sorriso bem grandão, de preencher não só o rosto mas também a alma, Justin não conseguiu resistir e contagiou-se lhe entregando um sorriso também, carinhoso e abobalhado.

— Como você... – Ele tentou iniciar um diálogo.

— Você está... – Disse ela ao mesmo tempo. Acabaram compartilhando risadas mais uma vez, para Justin, o som das risadas de Olivia soavam como uma melodia que definitivamente colocaria para tocar no rádio se tivesse chance.

Preocupados demais um com o outro, é claro. Acontece quando estamos nos apaixonando. Um estudo feito por meio ressonância magnética analisou o cérebro humano e concluiu que o tempo necessário para que duas pessoas se apaixonem chega a ser um quinto de segundo, tão rápido quanto pensar, quem dirá dez dias inteiros?

— Pode falar. – Ollie pediu erguendo a mão e fazendo uma boba reverência, incentivando que ele continuasse sua pergunta.

— Como você está, doutora? – O garoto questionou expirando o ar de seus pulmões, como se aquela fosse a única maneira de iniciar a conversa.

— Eu estou ótima. – Rebateu enquanto cruzava os braços, não sabia o que fazer com as mãos que pendiam ao lado do corpo — O jantar daqui é incrível, me serviram uma salada de batatas de cair o queixo... E você, está bem?

— Bom, estou pior agora sabendo que você comeu salada de batatas enquanto eles me serviram uma sopa asquerosa que provavelmente foi feita de plástico. – Reclamou fazendo uma careta engraçada que fez com que ela balançasse a cabeça em repreensão.

— Sua camisa está manchada. – A observação de Olivia foi feita após ela encarar o abdômen do garoto, um fino fio vermelho começava a surgir no tecido branco. — Precisa de ajuda com isso?

— Não, pode deixar que eu me viro. – Justin esticou a ponta dos dedos e pegou um pacote de gaze já aberto na cômoda, erguendo a camisa e limpando o local tingido de rubro. — São os pontos. – Informou fazendo outra careta. — Dois deles abriram hoje mais cedo.