Carro Veloz

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"A nossa vida é feita de tempo. Agarramos uns minutinhos do nosso dia sempre ocupado para fazer uma pausa pro café. Voltamos correndo pra nossa mesa de trabalho, olhamos pro relógio, vivemos em função dos compromissos. Mesmo assim, quando esse tempo enfim acaba, bem lá no fundo você se pergunta se esses segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos e décadas foram gastos da melhor maneira possível. — Love, Rosie."

Olivia Fox POV

Certa vez li um estudo que informava sobre coisas que ocorriam no mundo em apenas um minuto, confesso ter ficado bem surpresa com os acontecimentos descritos, como por exemplo, quatro mil e quinhentos lanches do McDonalds são vendidos, ocorrem dezoito mil matches no Tinder e sessenta e cinco mil fotos eram postadas no Instagram. Mas acredito que o que mais chamou minha atenção foi o fato de que morrem cerca de cento e cinco pessoas nesse pequeno período de tempo enquanto nascem outras duzentas e cinquenta, por isso o planeta está cada vez mais superpopuloso.

Aquilo me fez pensar que mesmo nascendo duzentas e cinquenta novas vidas, elas não substituíam as cento e cinco que se foram.

O que aconteceu em sessenta segundos bem diante dos meus olhos foi algo que não esperava de modo algum, estava otimista que eu e o detetive terminaríamos aquela viagem de maneira quase tranquila, expectativa essa que foi chutada pra bem longe quando ele foi atingido por um tiro.

Antes que ele desmaiasse, eu tinha absoluta convicção que Justin me mandaria fugir, o que era uma das minhas opções, me mandar pra bem longe e abandoná-lo ali sozinho com os dois homens que nos perseguiam, mas é claro que eu não conseguiria fazer aquilo. Lembrei que o detetive possuía pistolas, eu poderia pegar uma e atirar para todos os lados numa tentativa de escarparmos? Com toda certeza! Mas eu seria capaz de fazer tal estripulia? Jamais descobriremos, pois no momento que o lampejo da ideia de me tornar uma versão mais estilosa do Rambo passou por minha mente, um carro surgiu do nada e avançou na direção de nossos perseguidores, atingindo o Homem-Assombração em cheio.

Eu nunca fiquei tão feliz ao ver alguém sendo atropelado.

Agora, tudo que passava em minha mente era checar o estado do detetive, não precisava ser um especialista para saber que ele havia sido baleado, e nesses casos estancar o sangramento era a primeira coisa que eu deveria fazer. Agradeço por estar usando um de meus vestidos longos, encaixo sua barra na ponta de ferro próxima a saída do beco e puxo o tecido amarelo estampado de flores com força rasgando uma quantidade de pano considerável para que possa usá-lo como apoio nesse processo.

Me coloco de joelhos próximo ao seu corpo caído e respiro fundo três vezes para que minhas mãos parem de tremer. "Vamos lá, Olivia! Você é uma médica, veterinária... mas uma médica! E já fez cirurgias antes, em cachorros, mas cirurgias!" Meu cérebro incentiva o trabalho de minhas mãos quando ergo sua camisa molhada de sangue, rapidamente o rubro tinge minhas palmas, localizo o ferimento próximo ao seu abdômen, posso estar enganada mas acredito que o projétil não ficou alojado.

Estou tão presa no que preciso fazer que mal percebo a movimentação ao meu redor, o carro que salvou minha vida – como aquele enfeitiçado que sempre chegava para salvar o Harry Potter – está dando ré, de início penso que ele vai atropelar o mafioso mais uma vez, só que ao invés disso ele está se aproximando de nós, eu engulo em seco.

— Você está bem? – O homem ao volante me pergunta, ele tem uma expressão de ódio concentrado na face e usa um boné de futebol do Liverpool.

— E-estou. – É tudo que consigo responder ainda estarrecida.

— Vamos pegá-lo de uma vez. – Uma segunda voz sentencia, percebo que há outro homem no banco do carona mas não consigo ver muito bem seu rosto, ele está afobado para capturar os homens maus.

Wrong PlaceOnde histórias criam vida. Descubra agora