Singular

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"E eu tão singular me vi plural." — Dolce Peperone


Dois dias depois


Justin Bieber POV

Quando a primavera começa no Canadá o gelo vai se desprendendo das coisas, você volta a enxergar sua caixa de correio e os detalhes da rua que haviam desaparecido no meio de todo aquele branco. O gelo derrete dos rios e a neve acaba virando uma espécie de super ingrediente mágico que faz o gramado seco virar uma enorme cortina verde com um monte de flores e folhas pra todos os lados.

Estávamos na melhor época da primavera agora, os seus meados. Você consegue sentir a energia dos canadenses florescendo como as tulipas em seus jardins tão bem cuidados, as risadas aparecem cada vez mais, nos churrascos de família ou nas brincadeiras de rua, as crianças correm de um lado ao outro jogando baseball enquanto os vizinhos oferecem cerveja gelada por cima das cercas brancas de madeira.

Encaro o sol amarelo dourado no meio do céu sem nuvens cerrando meus olhos para conseguir fazer aquilo pelo máximo de tempo que consigo, trinta e sete segundos sem piscar. São nove da manhã e o clima está quente, eu acho que todos os domingos deveriam ser desse jeito, sem exceções.

Arrasto com o máximo de cuidado minha caixa de ferramentas e todo o material que eu havia comprado no dia anterior: madeira, pregos, verniz, tinta, algumas lâmpadas, um ótimo estofamento, até mesmo um par de luvas novas, dizem que mente vazia é oficina do diabo, mas uma mente cheia de pensamentos que você quer evitar pode ser alugada por ele também, então o máximo que eu poderia fazer era mantê-la ocupada.

Para minha sorte o vento começou a dar as caras, o que não me impediu de trabalhar sem camisa nessa criação maluca que tinha inventado. Começo a medir todo o espaço que tenho disponível embaixo da enorme Bordo Vermelho no quintal marcando tudo com fita métrica, antes que me dê conta já estou distribuindo e parafusando as ripas de madeira, sinto o suor escorrer por minha testa e aquilo me deixa ainda mais animado.

Cerca de uma hora e meia depois de puro trabalho incessante, consegui fazer a base do projeto, e aquela era a parte mais difícil (segundo o tutorial que vi no Youtube) agora só faltavam mais algumas camadas de madeira para as paredes, coisa que corro em aprontar. Talvez tenha sido o barulho da parafusadeira elétrica ou dos pregos sendo martelados que chamaram a atenção de minha mãe.

Justin? – Me chamou curiosa, notei que sua voz vinha da garagem.

Estou aqui nos fundos! – Grito em resposta e rapidamente escuto seus passos sobre a grama se aproximando de mim.

— Querido... – Ela começa dando uma boa olhada na bagunça que montei, apesar da base e das paredes já estarem concluídas, existem ripas de madeira espalhadas pelo chão e pequenas lâmpadas sobre as folhas — O que você está fazendo?

Desligo a parafusadeira e ergo meu olhar em sua direção, limpo o suor de minha testa e lhe dou um sorriso inocente.

— Não consegui dormir muito bem na sexta, acabei tendo uma ideia ontem e quis colocar em prática hoje. – Explanei com sinceridade mantendo o sorriso no rosto para que ela não me desse uma dura, foi em vão.

— Você não consegue ficar quieto, não é? – Ela me repreende balançando a cabeça, os seus cabelos estão presos em um rabo-de-cavalo que vai pra lá e pra cá — Amor, você lembra que se machucou feio semanas atrás? Deveria estar descansando.

— O médico disse que eu poderia fazer atividades básicas depois que os pontos cicatrizassem, e isso já rolou. – Indago na defensiva apontando para o meu abdômen exposto — Não consigo ficar muito tempo parado, e você sabe disso, mãe. – Respondo voltando a ligar a ferramenta e terminando de parafusar a última coluna de madeira.

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