XXIV

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sina.

Eu estava repensando a minha escolha de local para a minha conversa com a Sabina naquela noite.

Significava que qualquer um que passasse ou prestasse atenção na nossa conversa, ouviria o que estávamos falando. Felizmente, havia uma cabine em um canto perto da cozinha em que a garçonete nos sentou e, se eu falasse baixo o suficiente, ninguém ouviria.

— Eu me pergunto se ela acha que estamos em um encontro. — disse Sabina depois que a garçonete anotou nossos pedidos de bebida.

— O quê? — Disse, quase engasgando com a minha água. Eu senti todo o sangue correr do meu rosto.

— Eu só disse que me pergunto se ela acha que estamos em um encontro. Foi uma piada. Eu não estava falando sério. — Isso não me impediu de tremer. Mas isso foi a Sabina. A minha melhor amiga. A garota que sempre esteve lá para mim. Literalmente, em alguns casos, no treino de torcida.

— Ah, sim, certo — disse, fingindo rir, mas provavelmente parecendo desequilibrada.

Nós conversamos sobre o que pedir e dever de casa e a nova acrobacia que nossa treinadora queria que tentássemos.

Eu estava tentando descobrir a melhor maneira de dizer a ela quando eu apenas deixei escapar.

— Eu sou lésbica — disse enquanto ela pegava a primeira fatia de pizza. A garçonete tinha acabado de nos deixar, então estávamos sozinhas.

Sabina congelou.

— Desculpa, o que?

— Eu sou lésbica. Isso é o que eu não queria te contar. — Ela colocou a fatia de pizza no prato e abriu e fechou a boca algumas vezes.

— Ok. — Ela pegou o guardanapo e o colocou no colo e começou a comer.

— É só isso? — Eu perguntei. Ela enrolou uma fatia de queijo derretido em torno de um dedo e depois colocou em sua boca.

— Há mais alguma coisa?

— Eu acho que eu só esperava que você tivesse uma reação diferente. — Ela sorriu e deu outra mordida na pizza.

— Quero dizer, eu acho que meio que sabia, mas isso não muda quem você é. Eu não vejo você de forma diferente. E você é minha melhor amiga. Então é isso. — Ah. Ok?

Abri e fechei a boca mais algumas vezes e Sabina deu risada.

— Sina, não é um grande problema para mim. Eu sei que existem alguns idiotas por aí, mas eu não sou igual eles. Se são garotas que você quer e elas te fazem feliz, então é com isso que eu me importo. — Bom.

— Uau, — disse e ela deu de ombros.

— Você quer falar sobre isso? Ou não falar sobre isso? — Ela perguntou. Eu finalmente peguei uma fatia e mordi.

— Se não tivéssemos que falar sobre isso, seria ótimo. Eu sinto que é tudo que eu pensei e falei nas últimas semanas e estou um pouco entediada, para ser honesta. — Nós duas rimos.

— Tudo bem. Então, o que você acha sobre a vaquinha online para os novos uniformes? Porque lavagens de carros são tão exageradas e eu realmente não quero lavar um carro de biquíni para algum cara velho ficar me encarando. — Eu fiz uma careta.

— Concordo totalmente. — Então, conversamos sobre arrecadar fundos para as líderes de torcida e como mal poderíamos esperar para que esse ano e a ridicularidade das aplicações para a faculdade acabassem.

Foi fantástico.

Antes de sair, lhe dei um enorme abraço.

— Obrigada por ser minha melhor amiga. — disse.

— Sempre que precisar. — ela disse, me abraçando de volta.

Dois já foram, só falta um trilhão.

Eu estava tão empolgada que, quando voltei para casa no sábado à noite depois de sair com a Sabina, sentei na sala com o meu pai e disse a ele.

Ele meio que piscou para mim e me disse que sabia desde que tinha cinco anos ou algo assim.

— Você é minha filha. É meu dever te conhecer. — Ele sorriu e me deu um abraço. Comecei a chorar um pouco e ele me segurou e disse que me amava.

— Eu pensei que isso ia ser horrível. — disse, enxugando os olhos. Ele beijou o topo da minha cabeça.

— Por quê? Por que você acharia que isso mudaria a maneira como eu vejo você? — Eu não tinha certeza.

— Estou muito orgulhoso de você por confiar em mim com isso, Sina. E eu sei que você será mais feliz quando puder viver abertamente como si mesma. — Meu coração estúpido continuou inchando devido a essas pessoas incríveis que eu tinha na minha vida.

— Então você não vai me deserdar ou me levar para o acampamento para rezarem para eu deixar de ser lésbica? — Eu perguntei, totalmente brincando. Ele balançou a cabeça.

— Você sabe, sempre me fascina que quando as pessoas estão prestes a ter um filho, elas dizem 'nós não nos importamos com o sexo do bebê, contanto que venha com saúde', mas se essa criança for gay ou transexual, de repente isso não é bom o suficiente.

Eu balancei a cabeça e nos sentamos e começamos a fazer o que sempre fizemos e tivemos uma discussão animada sobre gênero e heteronormatividade e ele até me deu uma lista de livros que ele já leu.

Meu pai tinha lido um pouco sobre quase tudo, então ele sempre tinha uma recomendação de livro pronto. Se você precisasse de um livro sobre pangolins, ele teria um título pronto e esperando em seu cérebro para lhe dar. Às vezes ele me fazia sentir estúpida. Mas ele tinha mais anos de leitura do que eu.

Então, já contei para o Gabe, meu pai e para Sabina. As três pessoas mais importantes (além da Heyoon) na minha vida. O resto? Eu meio que gostaria de não ter que contar a eles. Por que a pressão estava em mim?
Eu mandei uma mensagem pra Heyoon porque precisava falar com ela.

Então a Sabina e o meu pai estão ok. Nada de mais.

Uau! Fantástico. Eu vou contar aos meus pais amanhã. Talvez eu ligue para você soluçando e perguntando se posso ir morar aí se as coisas correrem mal.

Ah, eu queria poder segurar a mão dela. Ou até mesmo fazer isso por ela. Eu estava ficando muito boa nisso agora.

Você não precisa, Yoon. Pode esperar.

Eu sei, eu sei. Mas eu só quero acabar com isso logo, sabe?

Eu sabia. Eu absolutamente sabia.

Agora que minha família sabia, eu quase me senti... leve? Como se algo que eu estivesse carregando por um longo tempo dentro de mim tivesse sido levantado. Foi legal.
Eu também queria isso para a Heyoon e esperava, além da esperança, que ela conseguisse.

Estou aqui por você. Não importa o que aconteça. Ok?

Ok. Eu te mando mensagem avisando como foi. Boa noite, amor.

Suspirei e coloquei meu celular para carregar enquanto subia na cama.

Tudo e nada mudaram em apenas alguns dias. Acho que esperava sentir mais uma mudança em mim mesma, mas me sentia a mesma, porém melhor. A melhor palavra para descrever seria "quieta".

Talvez fosse para ser assim. Eu realmente não acreditava em destino ou nessa merda, mas isso parecia certo. O momento pareceu certo. Heyoon parecia certa.

STYLE - Heyna/SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora