X

867 97 24
                                    

sina.

Eu não tinha ideia do porquê eu fiz isso. Talvez eu estivesse hormonal, ou não tivesse beijado alguém há muito tempo, ou talvez eu tenha sido envenenada durante o almoço e isso fosse algum efeito colateral, mas um minuto ela estava na minha frente gritando e no outro eu apertei minha boca na dela.

O contato durou meio segundo, porque ela se afastou tão rápido. Eu balancei na ponta dos pés e quase perdi o equilíbrio. Eu estava me inclinando tanto para ela que tive que segurar o encosto de uma cadeira para não cair no chão.

— Que porra é essa, Sina? — Ela disse, levantando as mãos e recuando. — Sério, que porra é essa?

— Eu sinto muito. — disse automaticamente. — Eu sinto muito.

Eu não tinha ideia do porquê eu estava me desculpando. Quero dizer, sim, provavelmente não foi a melhor ideia beijá-la, mas eu pensei...

Não, isso era impossível.

— Eu sinto muito. — disse novamente, minha voz soando robótica.

Ela se virou em um círculo enquanto puxava o elástico do cabelo. As ondas castanhas caíram sobre seus ombros e ela era tão fofa. Tão fofa.

Fofa e nervosa, mas isso era um bom visual nela.

— Você acabou... Você acabou de me beijar. — ela disse, se virando novamente. — Você acabou de me beijar. Que porra é essa?

Ela certamente gostava de xingar muito quando era pega de surpresa.

Mas achei que a reação dela foi um pouco extrema para a situação. Quer dizer, eu a beijar era a pior coisa que já tinha acontecido com ela?

— Eu não sei. — disse. Essa era a verdade. Eu não sabia. Bem, eu sabia.

Eu sabia que eu achava que ela era adorável como o inferno e que eu queria beijá-la a muito tempo e que finalmente havia se tornado demais e meu corpo tinha assumido o controle, mas fora isso, eu não tinha ideia do porquê gostava dela.

Claro, havia o fator fofo e ela era inteligente e sexy e ela podia ser engraçada quando queria, mas não era... Quer dizer, ela não era, digamos, Diarra Sylla, que era gostosa pra caralho. Ela era apenas Heyoon.

Eu lambi meus lábios e tentei dizer a mim mesma que não podia sentir o gosto dela.

— Eu tenho que ir. Eu realmente tenho que ir. — ela disse, pegando suas coisas e tropeçando, deixando sua cópia de Jane Eyre cair na pressa para sair.

Sua dificuldade em andar a fez diminuir a velocidade um pouco e eu agarrei seu braço, estendendo a mão para pegar o livro.

— Você não precisa ir. Eu sinto muito. Eu não deveria ter feito isso. Eu não sei o que aconteceu. — Ah, que mentira.

— Isso é só... Tão, tão fodido. Você está seriamente fodida, Sina. — Meu interior se apertou quando ela disse meu nome. Ela puxou o braço para fora do meu aperto.

— Fique longe de mim. — Eu a deixei ir porque o que mais eu iria fazer? Eu não podia forçá-la a ficar e eu não ia explicar tudo e eu ainda estava tão confusa pelo fato de ter feito isso que simplesmente deixei ela sair pela porta.

[...]

— Como foi o estudo? — Papai perguntou uma hora depois, quando chegou em casa.

Ele vinha trabalhando muitas horas extras na faculdade ultimamente, mas isso o deixava feliz, então eu não me importava. Além disso, tinha sido uma bênção disfarçada hoje à noite.

Eu não sabia o que eu teria feito se ele tivesse me visto beijando Heyoon.

Eu engasguei com um pedaço de pipoca e tive que beber um pouco de água antes que eu pudesse respirar novamente.

— Bom. Nós, ah, praticamos nossa apresentação, então acho que estamos prontas para a sexta-feira. — Eu sabia que minha apresentação era sólida, mas agora eu tinha esse medo de estragar tudo devido ao que aconteceu antes.

Eu queria gemer e enterrar minha cabeça nas almofadas do sofá. Eu definitivamente estraguei tudo e a vergonha agora estava tomando o lugar do choque de antes.

Ah. Inferno.

E se ela contar para alguém? O medo arrepiou minha pele e meu peito começou a se sentir apertado. E se ela contasse a alguém? E esse alguém falasse a outro alguém e amanhã todos soubessem que Sina Deinert, a Rainha Vadia, era lésbica?

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Heyoon com os dedos trêmulos.

Por favor, não conte a ninguém sobre isso. Por favor.

Eu sabia que parecia desesperada, mas eu estava muito desesperada.

Isso poderia desfazer tudo pelo que eu trabalhei no ensino médio. Eu jurei que nunca seria a garota que todo mundo zombava e provocava e zoava.

Só de pensar nisso, meu estômago revirou e tive que correr para o banheiro. Toda a pipoca voltou e eu ofeguei, descansando minha testa no meu braço.

Papai bateu suavemente na porta.

— Você está bem, Sina? — Ele teve cortesia suficiente para não arrebentar a porta e perguntar se ele poderia segurar meu cabelo ou algo assim.

— Sim. — disse, ficando de pé e dando descarga. Eu peguei minha escova de dentes e comecei a esfregar meus dentes com força.

— Deixe-me saber se você precisar de alguma coisa. — ele disse antes de eu ouvi-lo se afastar da porta.

Meu celular tocou e eu quase engoli minha escova de dentes.

Não se preocupe. Eu não direi nada.

Eu me inclinei contra a pia e cuspi a pasta de dente antes de enxaguar a boca.

Obrigada.

Eu deixei assim. Eu provavelmente deveria fingir que isso não aconteceu.

Sim. Essa era a melhor maneira de lidar com isso. Heyoon não ia dizer nada e eu tinha certeza que ela queria esquecer isso.

Havia apenas um problema.
Eu não conseguia esquecer isso.

Mais tarde naquela noite, no auge do sono, meu cérebro pegou o beijo e o deixou ir mais longe. Um beijo se tornou dois e depois havia línguas e mãos e roupas no chão e antes que eu percebesse, estava acordada e ofegante com a mão entre as minhas pernas e a doce queimadura do desejo inundando minhas veias.

Eu gemi e não havia como voltar a dormir, então deslizei minha mão por baixo do cós da minha calcinha e comecei a trabalhar. Eu estava tão perto que apenas alguns momentos depois eu gozei, estremecendo e mordendo a minha mão para não gemer muito alto.

O quarto do meu pai ficava no final do corredor, mas eu não queria correr o risco de ele me ouvir. Às vezes ele ficava acordado até tarde lendo ou preparando suas aulas.

Os tremores pararam e eu tive que ficar deitada por uns segundos antes que eu pudesse pensar em me mover.

Eu não gozava tanto assim há muito tempo. E eu não terminei. O tesão começou novamente alguns segundos depois e eu estava de volta, com o cenário do beijo dos sonhos me alimentando.

Três orgasmos depois, finalmente tinha acabado e estava pronta para dormir. Fui ao banheiro lavar a mão com as pernas meio trêmulas.

Foi quando a culpa e a vergonha se instalaram, mas eu me recusei a me sentir mal com isso. Eu não me deixaria ir lá. Eu já tive muitas fantasias com garotas antes, elas nunca foram tão específicas. Então eu usei a Heyoon para gozar algumas vezes, e daí? Não significou nada. Ela estava lá e ela era fofa e eu a beijei.

Não.

Significou.

Nada.

STYLE - Heyna/SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora