ANJOS CAÍDOS

Capítulo 4

Mike

A emoção foi muito forte, sempre é, toda vez que eu a vejo pela primeira vez é assim, são tantos anos e eu ainda sinto da mesma maneira como quando a vi andando pelas ruas triste em 1645.

Saí da sala e fui direto para o escritório de Mark, estava olhando a chuva que começou pela janela, refletindo, sentindo, esse é um momento sempre só meu, em que eu apenas sinto as emoções entrando em mim, a dor da separação, a alegria do reencontro, a possessividade, meu instinto protetor que retorna com força total, o desejo um tesão forte que chega a doer e o amor, um amor avassalador, que toma todo o meu ser, não deixando espaço para mais nada e nisso tudo o medo, o medo dela não me aceitar, não me compreender, ainda mais nessa época em que as mulheres se tornaram tão independentes.

Mark entra no escritório logo depois, eu já sabia que ele viria, Mark e eu temos essa espécie de conexão que os irmãos tem. Ele e eu nos entendemos muito bem, talvez por nós sermos tão parecidos, temos essa natureza dominadora e temos que ser sempre o melhor no que fazemos.

- É ela não é? – ele diz sem preâmbulo, entre nós nunca precisou.

- Sim – digo apenas isso.

- E então?

- Estou refletindo sobre isso, você melhor do que ninguém entende o peso de se apaixonar por alguém como eu.

- Você quer dizer apenas por você ser um anjo caído, um vampiro ou um cantor de Pop Rock muito famoso? – ele diz ironicamente.

Eu apenas sorrio porque eu sei o que acarreta ser quem eu sou, durante todos esses anos, finalmente encontramos uma distração, falar em músicas todos os sentimentos e angústia dessa vida eterna e desse amor também eterno foi uma válvula de escape perfeita. E nessa era do diferente, nós nos encaixamos como luvas, o nosso visual não assusta e a fama de vampiros só nos faz ficar mais famosos e dizer isso só faz com que acreditem menos. Mas, como chegar a dizer tudo isso para a mulher que eu amo mais que tudo?

Sem falar na liberdade que ela vai perder assim que o mundo souber que eu estou com ela. Eu consigo sentir o tanto que tudo vai mudar assim que eu entrar na vida dela.

- Bom, já que você me ofereceu uma suíte na sua casa, quem sou eu para recusar passar um tempo por aqui. Como diz o ditado, um vampiro uma vez convidado a entrar...

- Nunca mais poderá ser convidado a sair – Mark completa sorrindo.

- Então, achamos ela – Azze entra seguida de Jim e Dan.

- Sim, achamos – eu digo.

- Bonita como sempre, parece um ratinho assustado, mas quando não pareceu não é? – Azze diz com o seu jeito impulsivo de sempre. Eu nunca me importo, tudo o que Azze diz me deixa divertido, sempre foi assim, ela é extravagante, impulsiva, alegre, divertida e impossível de se lidar, ela fala exatamente o que pensa e dificilmente pensa nas consequências do que fala, é exatamente o estilo ame-a ou deixe-a, eu a amo muito, pro melhor ou para o pior, eu sempre a mimei demais, desde que fomos criados eu a tratei como um irmão mais velho extremamente protetor, e tem sido assim por séculos e séculos.

A única pessoa que consegue manter ela em controle é Mark, e ele adora esse serviço difícil. Para uma mulher como ela, apenas um homem muito persistente e que não aguenta nenhum desaforo.

Assim que ela terminou de falar, Mark olha para ela e com seu simples olhar, ela já entendeu que falou demais. Jim e Dan do seu lado apenas sorriem, eles são os melhores amigos que se pode querer ter. São como irmãos para mim e para Azze também, eles simplesmente nos seguem, eu ainda acho que eles esqueceram que caíram e continuam fazendo seu serviço tomando conta de mim e de Azze como se fôssemos seus filhos.

Assim que caíram na Terra eles perceberam que o sentimento que os unia era muito maior do que uma simples amizade e estão juntos desde então. Como sempre estiveram juntos eles sofrem com a gente, a dor das nossas perdas e as alegrias dos nossos reencontros.

- O jantar já está pronto! – Beth a mãe de Mark vem nos chamar – Vocês estão bem? – Ela pergunta preocupada.

- Sim, estamos apenas conversando – Mark responde por todos.

– Vamos?