— Então, Ane, o que você acha que está acontecendo? Ane? Anabele? Oi, você ainda está neste planeta?
Anabele despertou de seus devaneios com um pulo, esbarrando no amigo que tentava chamar sua atenção.
— Eu acho... Bom, sobre o que mesmo estamos conversando?
Vincent riu. Já estava acostumado com o jeito distraído e com a atenção facilmente dispersa da melhor amiga.
— Nada interessante o suficiente para manter você focada, pelo jeito.
— Desculpe, Vi. Fale de novo, vou prestar atenção.
Ele riu.
— Não vai não. Seus grandes olhos ainda estão longe.
— Meus olhos não são grandes.
— São muito grandes!
Anabele piscou várias vezes rapidamente, brincando com os cílios.
— Vi, o que você acha que é tudo isso que está acontecendo?
— Sério?
— O quê?
— Você vai repetir a pergunta que eu fi z quando não prestava atenção?
Anabele sorriu.
— Bom, nossa sintonia continua excelente.
Ele a puxou para perto e passou os braços sobre os ombros nus dela. Anabele vestia um leve vestido amarelo, surrado, como todos os outros que tinha, e sentava-se encolhida no velho sofá laranja de sua casa.
Era o único móvel de que ainda gostava. Ficava no centro da sala, com uma pequena mesa velha de madeira a frente. Do lado direito, o corredor levava aos dois quartos em que só havia camas, e ao banheiro, e do lado esquerdo a janela dava para a rua.
O cômodo não devia ter mais do que três metros quadrados, já que atrás do sofá, o pequeno balcão de pedra dava início à cozinha improvisada que tinham.
Ainda assim, era como se sentia mais confortável: em casa, com a mãe e com Vincent.
Vincent Ami era seu amigo de infância, um dos poucos que sobrevivera até a vida adulta. Vivia sozinho, já tendo perdido os pais e o irmão mais velho na muralha, na mesma época em que Anabele perdera o seu próprio pai. Agora era o homem da casa, como ele gostava de se auto intitular. Visitava-as com bastante frequência e se preocupava com tudo o que lhes dizia respeito.
Era alto, muito forte e lembrava um dos soldados da muralha, mas tinha os olhos negros mais doces que Anabele já vira. O sorriso extremamente branco contrastava com a pele morena. O cabelo também negro caía em alguns poucos cachos sobre a testa.
Anabele enrolou o fino dedo em um dos cachos do amigo e deixou cair a cabeça sobre seu largo ombro.
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Sombras do Medo
General FictionEm um futuro pós destruição em massa, provocada pelas guerras humanas e desastres naturais - para os quais os humanos também contribuíram grandemente - o mundo é dividido em 5 grandes regiões. Em cada uma delas vivem ordinários e singulares, pessoas...