Capítulo 7

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— Então, Ane, o que você acha que está acontecendo? Ane? Anabele? Oi, você ainda está neste planeta?

Anabele despertou de seus devaneios com um pulo, esbarrando no amigo que tentava chamar sua atenção.

— Eu acho... Bom, sobre o que mesmo estamos conversando?

Vincent riu. Já estava acostumado com o jeito distraído e com a atenção facilmente dispersa da melhor amiga.

— Nada interessante o suficiente para manter você focada, pelo jeito.

— Desculpe, Vi. Fale de novo, vou prestar atenção.

Ele riu.

— Não vai não. Seus grandes olhos ainda estão longe.

— Meus olhos não são grandes.

— São muito grandes!

Anabele piscou várias vezes rapidamente, brincando com os cílios.

— Vi, o que você acha que é tudo isso que está acontecendo?

— Sério?

— O quê?

— Você vai repetir a pergunta que eu fi z quando não prestava atenção?

Anabele sorriu.

— Bom, nossa sintonia continua excelente.

Ele a puxou para perto e passou os braços sobre os ombros nus dela. Anabele vestia um leve vestido amarelo, surrado, como todos os outros que tinha, e sentava-se encolhida no velho sofá laranja de sua casa.

Era o único móvel de que ainda gostava. Ficava no centro da sala, com uma pequena mesa velha de madeira a frente. Do lado direito, o corredor levava aos dois quartos em que só havia camas, e ao banheiro, e do lado esquerdo a janela dava para a rua.

O cômodo não devia ter mais do que três metros quadrados, já que atrás do sofá, o pequeno balcão de pedra dava início à cozinha improvisada que tinham.

Ainda assim, era como se sentia mais confortável: em casa, com a mãe e com Vincent.

Vincent Ami era seu amigo de infância, um dos poucos que sobrevivera até a vida adulta. Vivia sozinho, já tendo perdido os pais e o irmão mais velho na muralha, na mesma época em que Anabele perdera o seu próprio pai. Agora era o homem da casa, como ele gostava de se auto intitular. Visitava-as com bastante frequência e se preocupava com tudo o que lhes dizia respeito.

Era alto, muito forte e lembrava um dos soldados da muralha, mas tinha os olhos negros mais doces que Anabele já vira. O sorriso extremamente branco contrastava com a pele morena. O cabelo também negro caía em alguns poucos cachos sobre a testa.

Anabele enrolou o fino dedo em um dos cachos do amigo e deixou cair a cabeça sobre seu largo ombro.

Sombras do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora