Capítulo 35

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— Saiam daqui! AGORA! berrou Vincent, empurrando Anabele e Amanda em direção à porta da casa.

Eles saltaram para fora no momento em que a estrutura cedeu. Estavam cobertos de pó e muito assustados para reagir.

— Mas que merda foi essa? — perguntou Vincent, histérico. — A força nos tentáculos é suficiente para derrubar casas? — Seu rosto estava contorcido em uma expressão de incredulidade feroz.

— Todas as pessoas machucadas... temos que retirar os escombros... — A voz de Anabele saía com dificuldade, completamente embargada.

Gritos de dor enchiam o ar.

Anabele assistira com horror, após alguns ordinários terem acendido imensas fogueiras, adivinhando seus pensamentos, Venoms aproximarem-se ameaçadoramente das casas onde haviam se reunido.

Pegara uma serra da pilha de armas que conseguiram reunir, vasculhando casas, além das disponibilizadas pelos soldados, na esperança de arrancar o tentáculo de qualquer Venom que tentasse agarrá-los.

Foi com surpresa, contudo, que percebeu que as criaturas não estavam tentando, não naquele momento ao menos, envolver os ordinários com os tentáculos. Estavam os usando, na realidade, contraídos e rígidos, com uma força assustadora, para arrebentar as construções da província.

O ataque pegara-os desprevenidos, resultando em muitos presos nas casas destruídas. Os feridos, do abrigo improvisado, estariam provavelmente mortos. Se não ainda, muito em breve.

— Onde está o Jhou? — perguntou Anabele, aflita, tentando enxergar ao seu redor, onde a correria recomeçava agora ainda mais desordenada do que antes, pois era evidente que não havia para onde fugir.

— Onde está o Jhou??? — Agora ela gritava, correndo desnorteada.

— Ele não saiu da casa, filha, sinto muito... — Amanda tentava pará-la.

— Jhou! JHOOOOOOU! — gritava ela, ensandecida. — Não, não, não...

Caiu de joelhos sobre a frente destruída da casa. Começou a arrancar pedaços da parede e a tirá-los do caminho.

Algumas pessoas faziam o mesmo pelo lado de dentro. Pessoas que haviam sobrevivido e que agora tentavam escapar.

Anabele escutava-as gritar, mas parecia incapaz de compreender. Estava desesperada.

— Ele ficou tanto tempo preso... não merecia, não é justo. Não pode morrer também preso... por favor...

— Ane, você fez mais do que pode imaginar por ele.

Anabele continuava cavando.

— Pare — Amanda agarrou seus ombros, obrigando-a a se virar. — Olhe para mim.

Os olhos verdes refletiam uma dor intensa.

— Ele teve tanta, mas tanta sorte de tê-la encontrado, querida. Fazia tanto tempo... nunca pensei que veria um cachorro novamente. E talvez nem mesmo você entenda a grandiosidade disso. Mas significa tanto... Em um mundo em que a única coisa que importa é a sobrevivência e ela a todo custo, sem maiores considerações a respeito de amor, amizade, companheirismo, você conseguiu tudo isso de um modo tão improvável. Quer dizer, improvável para nós, tão egoístas. Mas a meu ver, você conseguiu, somente com amor, resgatar o que de melhor já existiu nesse mundo. A alegria e a paz que você e Jhou proporcionaram um ao outro me deram esperança de que um dia nós, humanos, possamos fazer as pazes com o restante do mundo, com a natureza, com as outras espécies que há tanto maltratamos. Talvez um dia a gente deixe de alimentar o caos e passe a alimentar a vida.

Sombras do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora