Capítulo 27

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Arthur andava apressadamente em direção ao seu escritório dentro do palácio. Via singulares sendo acomodados em seus quartos. Ouvia-os lamentar o fim repentino do belo banquete ediscutirem o que poderia ter causado tudo aquilo. 

Apressou-se ainda mais com a preocupação de alcançar o cômodo particular sem ser interpelado por ninguém. Não tinha tempo ou paciência para explicar os eventos da noite.

— Arthur!


O presidente parou e olhou para trás. Marcus corria para alcançá-lo. Começaram então a andar juntos.

— Há muitos mortos no salão, Arthur.

— Algum singular?

— Até onde sabemos, não.

— Tanto melhor.

— Esse fogo, Arthur, nunca vi nada parecido. É realmente obra das criaturas?

— Ao que tudo indica.

Pararam diante da lustrosa porta dupla de madeira branca. Marcus abriu-a.

— Senhores — cumprimentou secamente, o presidente.

Todos os outros líderes estavam no interior da sala, sentados em torno da grande mesa em que estiveram mais cedo. Marcus soube pela irritação contida na expressão do chefe que aquelas visitas não eram esperadas. Não tão cedo.

Arthur entrou e apoiou as mãos na extremidade da mesa, frente a qual sua cadeira estava colocada. Observou com olhos frios todos ali.

Notou a cabeleira vermelha de Yudi perto da janela. Podia jurar que a líder sorria.

— O que significa tudo isso, Arthur? — perguntou Leonard, em tom de cobrança.

O presidente não ficou satisfeito com o tom da pergunta. Respondeu rispidamente:

— Olhem ao redor de vocês. Acham que algum de nós é capaz de explicar o que está acontecendo? Pesadelos no mundo todo, fogo que nos faz sentir frio e criaturas horrendas...

— Ainda isso de criatura? Estamos realmente conformados com essa versão da história? — continuou Leonard, alterando-se.

— O ordinário que me contou não estava mentindo — respondeu Rodrik irritadamente.

— Como você pode saber? Desde quando levamos em consideração declarações de ordinários? — ironizou Leonard.

— Meu filho Davi viu a criatura enquanto estava na província! — gritou Arthur. — De onde acham que recebi a confirmação hoje mais cedo quando nos reunimos? Acham mesmo que eu acreditaria em qualquer conto vindo da província?

Todos estavam em silêncio.

— Caso ainda discordem do presidente de vocês ou queiram continuar fofocando, exijo que se retirem.

Ninguém se moveu.

— Se vão ficar, ajam como o líder que fiz cada um de vocês se tornar!

— Seu lindo filho está de volta, não, Arthur? — Yudi tinha um dedo na boca vermelha e sorria, alheia à explosão do presidente. — Vi-o com o que só podia ser uma ordinária. Bonitinha sim, e corajosa em pisar aqui, a menos, é claro, que você esteja acolhendo pessoinhas pobres aqui na capital — deu uma risadinha estridente.

Arthur enrijeceu o maxilar. Sabia que Yudi era a mais perigosa dentre os líderes, e o tom despreocupado que usava velava um ardente veneno.

— Davi trouxe uma ordinária para a capital? — indignou-se Rodrik.

— Meu filho fez mais do que todos vocês nos últimos meses. Descobriu informações sobre ordinários, certificou-se da inexistência de rebeliões e ainda descobriu a origem do caos que estamos vivendo — o tom de voz de Arthur era áspero. — Deve ter tido seus motivos para trazer a moça com ele. Mas o que interessa é que ela já foi enviada a onde pertence. Agora não vou mais admitir que falem sobre meu filho com esse tom, estamos entendidos?

Yudi gargalhou.

— Não se preocupe, Arthur. A minha preocupação era apenas que a baixinha tomasse meu lugar na família, mas sei que você não deixaria isso acontecer.

Foi Marcus quem interveio.

— A decisão do presidente será mantida: os ordinários de que não precisamos no momento serão colocados para fora da capital e os portões serão terminantemente fechados.

— Sim. E quero que o exército se posicione. Precisamos estar prontos para atacar estes seres assim que derem as caras. Quero também que cada um de vocês entre em contato com seus vices e determinem que o mesmo seja feito em cada uma das capitais. Não espero que nada disso se prolongue, mas se for o caso, somente singulares serão alimentados.

Todos os líderes assentiram e começaram a mover-se, com exceção de Yudi que continuava encostada à janela e agora olhava para fora.

— Olhem só. Não é que Davizinho tinha razão...

— Do que você está falando? — perguntou Vitorio, com a paciência treinada.

A resposta veio com um grito bizarro que os fez sentir frio, mesmo com o agasalho que vestiam.

Yudi virou-se para eles com um estranho sorriso nos lábios.

—Os bebês estão voando no céu! — completou, gargalhando.

Sombras do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora