Capítulo 9

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Anabele esperou que o último saísse e se jogou no sofá ao lado da mãe. 


— Outra noite infrutífera. Acho que precisamos aceitar o fim dessas reuniões.

A mãe tinha no rosto a mesma expressão de frustração que todos os ordinários ali presentes há alguns minutos.

— Mas isso seria aceitar todos esses desaparecimentos — falou baixinho, Anabele. Trajava um vestido simples branco, com alguns desenhos abstratos coloridos, na altura dos joelhos. As alças finas apertavam seus ombros.

— Minha filha, nenhum de nós nunca aceitará e possivelmente alguns de nós também não se recuperarão. Mas a luta deve ser travada contra quem nos faz mal e essas reuniões têm nos colocado uns contra os outros. Precisamos aceitar o fim de uma fase, para finalmente podermos dar início à outra.

Anabele sabia, em seu interior, que a mãe tinha razão. Nas últimas semanas, após o início dos desaparecimentos, os ordinários vinham se reunindo para trocarem informações, falar sobre os recentes eventos e tentar encontrar uma solução para o problema. No início, discutiam o assunto, traçavam planos e finalmente sentiram que suas vidas — apesar de todas as dores — não se resumiam a uma preocupação constante em alimentar o corpo para que este continuasse em pé. Possuíam um propósito. Havia algo a ser feito.

Embora os desaparecimentos continuassem, o medo finalmente chegara até eles. Nada do que planejavam era executado, e começaram a perceber que não tinham uma ideia real de como proceder. O desespero pelo qual foram tomados, fazia com que perdessem de vista o antes tão amado propósito. Quando se reuniam, tentavam discutir como haviam feito nas primeiras reuniões, mas acabavam sempre chorando e brigando entre si ou mudos feito pedras. E era nisso que sentiam que haviam se tornado.

Este último encontro havia sido o mais rápido. Quando Fabian não apareceu, todos perceberam que não havia esperança para continuarem dessa forma. Sentiam-se com as mãos atadas. Haviam ficado em silêncio por alguns minutos. Alguns haviam arriscado algum comentário supérfluo, até que Amanda se levantou, encerrando a noite.

Todos haviam entendido a mensagem. Não haveria uma próxima reunião. Provavelmente, não haveria uma nova esperança. Nada com que já não estivessem acostumados.

— Henry não veio — Anabele comentou, incluindo na voz a maior neutralidade que podia.

Amanda passou a fi na mão nos cabelos da filha.

— Você não me contou que ele esteve aqui ontem à noite.

— Sabia que Vincent contaria.

Amanda sorriu.

— Um não parece gostar muito do outro — comentou Anabele.

— E por que será isso? — perguntou a mãe, do jeito que fazia quando sabia a resposta, mas esperava que alguém a descobrisse antes de revelar.

— Henry é encantador com todo mundo, mas perto de Vincent, seu sarcasmo aflora. Vincent não acha muito engraçado.

Amanda deu uma risadinha.

— E você acha?

Anabele respondeu, com um tom agressivo:

— Não. Ele também me irrita. Odeio não conseguir decifrá-lo. Ontem mesmo ele estava até que agradável, disse que viria hoje. Mas hoje não o vi durante o dia e agora não apareceu na reunião.

— E você se importa? — Os olhos escuros de Amanda interrogavam a alma da fi lha.

— Por que me importaria? — respondeu, bruscamente.

Sombras do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora