Capítulo 14

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Arthur parecia ainda mais poderoso do que o normal em seus trajes para a celebração. Vestia um elegante smoking preto, da mesma cor da gravata borboleta e do sapato de verniz. A camisa por baixo era da cor dos olhos. Estes, muito claros, percorriam todo o ambiente e registravam tudo o que viam.

O presidente estava no alto das majestosas escadas presentes no salão principal do palácio dos singulares, com uma taça de champagne na mão, observando o belo banquete.

Todo o ambiente estava decorado com flores, dos mais diferentes tamanhos e espécies, plantadas e colhidas especialmente para a ocasião. Eram brancas, azuis, vermelhas e amarelas.

Havia no centro do salão uma grande cascata, de onde jorrava água doce cristalina, artificialmente perfumada, o que, combinado ao cheiro das flores, conferia ao ambiente um odor suave e adocicado. O líquido concentrava-se em uma fonte de pedras brancas, com a borda em ouro, e escorria por pequenas aberturas, criando diversos pequenos fios de água sob o chão de vidro.

Espalhadas pelo cômodo, estavam também fontes de chocolate do tamanho de um homem adulto, ao redor das quais muitos singulares reuniam-se, conversando alegremente.

Mesas também de vidro e outras de madeira preenchiam o lugar. Sobre cada uma delas, um diferente tipo de comida era servido, sempre organizada elegantemente.

Arthur percebeu alguns ordinários andando de cabeça baixa pelo local, todos vestidos em marrom para identificação, servindo bebida e comida para os convidados.

Os singulares sorriam e comiam muito. Exceto os líderes de cada uma das capitais. Arthur viu todos eles, com exceção de Yudi, reunidos próximos a uma janela, conversando entre si. Procurou a líder com os olhos e a encontrou pelo cabelo escarlate. Gargalhava e movimentava os braços espalhafatosamente, enquanto conversava com alguns singulares.

Arthur percebeu Marcus subindo as escadas, em sua direção. Os olhos negros do amigo brilhavam, ao aproximar-se e olhar para todo o ambiente.

— É uma bela comemoração — começou Marcus.

— De fato. Davi chegou?

— Ainda não.

— Essa teimosia já passou dos limites. O que está prendendo-o à província? — Arthur tinha a voz carregada de irritação, mas Marcus conseguia detectar a preocupação velada. — Curiosidade nenhuma justifica o que está fazendo após ver o que viu.

— O Senhor estará com ele em minutos. Não deve demorar muito mais, já passam das dez horas. De qualquer forma, solicitei que sejamos informados no instante em que ele adentrar a capital.

Arthur assentiu. Continuaram olhando para o salão abaixo.

— O Senhor tomou sábias decisões hoje mais cedo, no conselho. Marcus percebeu os ombros do presidente ficarem tensos.

— Espero que seja o sufi ciente. Precisamos mandar toda essa gente de volta a suas regiões amanhã.

— Certo. Arthur — começou Marcus mansamente — temos novas notícias.

O presidente voltou os olhos cinzentos para os negros de Marcus.

Esperava pela continuação.

— Aparentemente, as sábias decisões de que falávamos se mostraram ainda mais sábias. Parte das plantações das primeira, segunda e quarta províncias foram reduzidas a pó. Congelaram com o que chamamos de fogo e então quebraram em mil pedaços. 

Arthur cerrou um dos punhos. Manteve a voz calma, contudo, quando perguntou:

— Qual foi a reação dos ordinários?

Sombras do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora