— Cuidado, guarda-costas!
Vincent rolou para o lado a tempo de evitar ser massacrado pelo Venom que caía pesadamente, atingido em um dos olhos pelo disparo de Davi.
— De nada — gritou ele sorrindo, o que irritou Vincent.
Ambos haviam se apresentado para ajudarem com a disposição dos explosivos, porém com a baixa significativa no número de soldados capazes de lutar, haviam recebido armas, munição, facas, serras e um colete cada um, em uma tentativa de conterem as criaturas enquanto o plano não fosse realizado.
Vincent atacava Venom atrás de Venoms, com uma arma em uma mão e um facão em outra, despedaçando-os o máximo possível antes de matá-los.
Davi mantinha-se por perto, tirando proveito de sua mira certeira, decorrente de treinamentos intensivos que fizera por puro prazer, para atingir os Venoms nos olhos.
Vincent aproximou-se, berrando:
— Não preciso da sua ajuda, seu filhinho de papai! Ninguém aqui precisa! Por que não volta para seu palácio encantando de onde não deveria ter saído?
Davi chegou bem perto e respondeu com a voz grave:
— Não gosto de você, guarda-costas e bem... O problema é você, não eu — o sorriso sarcástico enfeitava o rosto forte. — Só que gostaria que você se mantivesse vivo pela Anabele.
Davi percebeu a mudança na expressão de Vincent. Ele parecia prestes a chorar somente com a menção ao nome.
— Olha, não é o melhor momento ou lugar para termos essa conversa, mas por algum motivo que foge à minha capacidade de compreensão, ela o ama — o olhar de Vincent endureceu. — Não, não se empolgue. Ela ama nós dois de maneiras diferentes e acho que você sabe.
Vincent deu um passo a frente como se fosse bater em Davi, que não recuou.
— Ela nunca deu qualquer indício contrário a isso, Vincent — o sorriso desaparecera do rosto de Davi. — E eu posso imaginar como deve doer para você.
Vincent sustentou o olhar. O outro continuou:
— Passei as últimas horas pensando que a havia perdido. E a dor não era somente a de quem perde uma namorada, alguém de quem gosta... não. A dor era como se eu tivesse perdido todo o ar, como se eu respirasse, mas não encontrasse alívio para o que estava aqui dentro — Davi bateu no próprio peito. — Ter meus braços e pernas arrancados por um Venom não doeria tanto. Perder Anabele foi como perder meu coração — Davi respirou, controlando a própria voz que começava a dar sinais da emoção que sentia. — E eu sinto muito que você tenha que passar por isso. Sinto realmente. Mas se você puder aceitar que ela nunca fez nada para machucá-lo, e você bem sabe que ela não faz nada para machucar ninguém e aceitar a amizade que ela pode oferecer...
Os olhos de Vincent estavam vermelhos.
— E se você puder não chorar, guarda-costas, não sei consolar marmanjos do meu tamanho.
Vincent deu as costas a Davi e começou a caminhar em direção a um Venom que gritava, atacando um pequeno grupo de homens magros.
Davi preparava-se para xingá-lo pela má educação, quando o ouviu chamar:
— Davi, venha ver uma coisa!
Ele correu até onde Vincent estava parado.
— Vamos ficar assistindo a eles serem atacados? — perguntou secamente.
— Olhe onde estão acertando os tiros.
Davi estudou a cena por um momento. Enxugou o suor do rosto com as costas da mão.
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Sombras do Medo
General FictionEm um futuro pós destruição em massa, provocada pelas guerras humanas e desastres naturais - para os quais os humanos também contribuíram grandemente - o mundo é dividido em 5 grandes regiões. Em cada uma delas vivem ordinários e singulares, pessoas...