Capítulo 34

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A linha de soldados postava-se rigidamente em torno dos principais pontos da capital. Haviam sido ordenados que atirassem para matar os Venoms no momento em que começassem a sobrevoar a capital.

A preocupação maior do presidente era que as criaturas começassem atacando para enfraquecer a estrutura da região. Assim, o rio, bem como a floresta e as muralhas, deveriam ter proteção especial.

A maior parte dos singulares estava sendo levada para esconderijos subterrâneos construídos para proteção em caso de novos desastres naturais. Era a primeira vez que eram utilizados, ainda que natural não fosse a palavra escolhida para descrever o ataque sob o qual estavam.

O presidente, contudo, insistira em continuar ali, de onde pudesse ter ciência e controle total dos movimentos dos Venoms e de seu exército. Os outros líderes, com exceção de Rodrik, também haviam optado por permanecer nas fortalezas do próprio palácio, de onde poderiam tentar comunicação com suas capitais, que segundo últimas informações, encontravam-se em idêntica situação de caos e ataque.

Arthur observava, com o maxilar rígido, da janela de seu escritório particular do palácio, a destruição que começara a tomar forma, bem ali, no quintal de sua casa.

Podia ver Venoms aumentando a velocidade de voo e partirem árvores ao meio apenas com o impacto de seus tentáculos contraídos. As mansões também eram derrubadas, em uma explosão de cimento, tijolo e poeira.

Imaginou a força que os tentáculos teriam. Concluiu em um cálculo frio de guerra que as muralhas não aguentariam o ataque iminente das criaturas, e por isso era imprescindível que fossem impedidas de se aproximarem o suficiente.

Sua atenção foi despertada pela voz familiar.

— Pai.

Arthur virou-se calmamente, dando as costas às janelas.

— Deixe-os entrar.

O presidente suspirou.

— Tenho impressão de já termos tido essa conversa. Mais de uma vez, inclusive.

— O senhor viu do que essas criaturas são capazes.

Davi tentava manter a voz controlada, o rosto na máscara que aprendera a transformar com o pai, mas seus olhos demonstravam o desespero que sentia.

— Fiquei sabendo que os soldados que ficaram para fora estão defendendo os ordinários. Com sorte, a sua linda Anabele seduza também Nicolas e consiga alguma proteção espe...

Davi avançou com um braço erguido, mas parou repentinamente.

— Não se atreva a falar o nome dela — sua voz tremia.

Arthur impacientou-se:

— Chega, Davi. Deixei que acreditasse nessa historinha de amor que inventou, mas já é o suficiente — sua voz transmitia uma autoridade intimidante. — Ainda que ela sobreviva, o que é improvável, vocês não vivem no mesmo mundo.

— O meu mundo é ela, pai, ainda que exista um outro mundo entre nós dois.

Arthur acenou com a mão, com uma careta de deboche. Antes que Davi pudesse responder, contudo, um barulho ensurdecedor veio de fora. Pai e filho voltaram-se rapidamente para a janela, onde viram um Venom morto, caído perto da muralha. Os soldados de cima dela aparentemente o haviam acertado.

— Vão derrubar a muralha — comentou Davi.

Como se tivessem o ouvido, três outros Venoms aproximaram-se voando das muralhas.

Sombras do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora