Sombras do Medo

Capítulo 20

— Olá, pai! — tinha as mãos nos bolsos da calça escura, e os olhos cinzentos, iguais aos seus, tranquilos. Estava parado ao lado da janela que dava para a sacada.

A expressão calma foi o suficiente para irritá-lo.

— Você desobedece minhas ordens reiteradas vezes por conta de um capricho qualquer e agora retorna como se nada tivesse acontecido?

Os olhos de Arthur estavam gelados, embora sua voz se mantivesse inalterável e afiada.

— Mas nada aconteceu — sorriu Davi. — E, se bem me recordo, o Senhor não pareceu tão contrariado quando me mandou investigar os boatos de rebelião da província. Não hesitou quando sugeri que descobríssemos mais sobre como os ordinários viviam, que ganhássemos sua confiança.

O presidente levantou, quase que imperceptivelmente, o tom de sua voz:

— Deixei de concordar há meses, quando você descobriu que não havia rebelião nenhuma. A minha ordem foi simples então: voltar para a capital. E não admito que ainda agora que está de volta, discorde novamente de mim.

Davi começou a caminhar pelo imenso escritório que há alguns meses não via. Parou muito próximo ao pai. Eram da mesma altura e pareciam-se muito, exceto pela cor do cabelo. Davi havia herdado as madeixas da falecida mãe.

— O Senhor realmente acredita que manda no mundo todo, não é?

— Estou errado?

— Aparentemente sim — a expressão antes desafiadora de Davi relaxou. Desviou o olhar do pai e sentou-se sobre a ponta da mesa em que Arthur recebia suas visitas. Mantinha as mãos firmemente cruzadas. — O senhor tem recebido as notícias que enviei?

A expressão afetada de Arthur tornou-se grave. Davi falava agora com o presidente.

— Sim. Embora irreverente e repreensível, seu comportamento teve uma certa utilidade. Reuni todos os líderes essa tarde e determinei providências. Sacrifícios terão que ser feitos. Espero que saiba que sua ordinariazinha está inclusa.

O rosto de Davi assumiu uma cor gélida.

Havia sido finalmente afetado.