10. Jake

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O treino de hoje foi intenso. Pegamos mais peso na musculação, tivemos que dar dez voltas no campo correndo e ir até a endzone em menos de trinta segundos. Também arremessamos a bola um para o outro com uma distância de três metros e fizemos algumas jogadas como o Snap, Handoff e Blitz. Quando enfim o treino foi encerrado, todos os jogadores se dirigiram ao vestiário para tomar banho e se trocarem. Esperei todo o time sair e finalmente tirei minha blusa. Não queria que eles vissem a enorme marca roxa na minha barriga, causada pelo meu pai. Sinto ela começar a latejar novamente e tomo outro remédio, sem água. Se consegui treinar hoje foi graças a esse medicamento.

— Grant? - Ouço a voz do Treinador Dixon, e imediatamente jogo a toalha sobre os ombros, onde seu comprimento cai sobre meu machucado.

— Hey, treinador! - Sorrio animado para ele. — Você deveria avisar antes de entrar, eu poderia estar pelado. É claro que seria uma visão maravilhosa, mas também muito constrangedora.

— O que é isso em sua barriga? - Ele pergunta, sem rodeios.

— Ah, não é nada! Eu passei à noite com uma garota ontem e bem, você sabe. Ela era selvagem. - Pisco para ele, com a intenção de fazê-lo comprar minha mentira.

— Se isso for realmente verdade, sugiro que procure uma garota menos selvagem para passar à noite. Mas se estiver com problemas, saiba que pode falar comigo. - Ele diz, me olhando com empatia.

Por um momento, tenho a impressão de que ele sabe o que realmente aconteceu, mas isso é impossível. Ninguém sabe do que ocorreu sábado e nos últimos anos. Nem mesmo meu melhor amigo. Tudo que David sabe é que meu pai é um alcoólatra, mas não que me esmurra sempre que tem vontade. Não que eu não confie nele, mas eu simplesmente não consigo contar. Não consigo dizer as palavras em voz alta. Já tentei várias vezes, mas elas estão presas em minha garganta, então tudo o que me resta são engoli-las.

— Claro, porque eu sou seu jogador preferido. - Me gabo para ele.

— Eu nunca disse isso. - Ele ergue às sobrancelhas.

— Mas também nunca negou. - Sorrio convencido. O treinador suspira e balança a cabeça negativamente.

— Vá tomar banho, garoto. Você está fedendo a cachorro. - Diz, e se retira em seguida.

Dou uma risada com sua resposta e vou para o chuveiro. Tomo um banho demorado e depois visto roupas limpas que trouxe na minha mochila. Guardo todas as minhas coisas e saio do vestiário. Quando piso no campo, vejo uma comoção de líderes de torcida no final dele, onde elas costumam ensaiar depois do time treinar. Decido me aproximar para saber o que está acontecendo e quando finalmente chego, vejo Brittany sentada no chão com um semblante de dor, e as outras agitadoras de pompons ao seu redor.

— Hey, o que está acontecendo? - Pergunto, e todas me encaram ao mesmo tempo, o que é bastante assustador.

— Brittany torceu o pé. - Diz uma. — Estamos tentando ajudá-la, mas ela não consegue andar.

— Eu posso te carregar até a enfermaria, se você quiser. - Sugiro, e olho especificamente para Brittany. Essa é uma grande oportunidade para mostrar meu lado cavalheiro a ela.

— Eu não quero incomodar. - Responde.

— E não vai. - Sorrio para ela, e a pego no colo.

Ouço as outras líderes de torcida sussurrarem entre si enquanto nós distanciamos, mas não ligo. Eu estou com Brittany nos braços. Não é exatamente do jeito que eu imaginava, mas...

— Então, pode me dizer como conseguiu torcer o pé? - Encaro seus olhos castanhos. Merda, ela é tão bonita. Poderia beijá-la agora mesmo, mas seria como um tiro no próprio pé.

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