35. Grace

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Afundo o corpo na água, até os ombros. Encosto a cabeça na parede da banheira e as lágrimas escorrem dos meus olhos com mais facilidade. Quando cheguei no Chalé-Mansão, disse para mamãe e Bob a mesma coisa que para meu pai, que eu queria aproveitar os dias que me restavam com ela antes de sua viagem para a Capadócia. Os dois pareceram acreditar e não fizeram perguntas depois que eu disse que iria me deitar porque estava cansada de dirigir.

Depois de uns quinze minutos na banheira, finalmente levanto e enrolo-me na toalha. Vou em direção ao espelho e encaro meu reflexo. Meus olhos e nariz estão vermelhos e a boca inchada de tanto chorar. E sei que eles vão permanecer assim por um tempo. Saio do banheiro, me enxugo e visto um babydoll preto, rendado. Penteio os cabelos e decido os deixar secar naturalmente. Então, me deito na cama. Lembranças de três dias atrás, quando Jake e eu dormimos juntos exatamente nessa mesma cama invadem meus pensamentos e eu volto a chorar novamente, com meu coração pulsando de dor a cada lágrima derramada.

Duas batidinhas na porta me forçam a parar de chorar. Enxugo os olhos com o cobertor e me levanto para abrir a porta, dando de cara com minha mãe segurando um cobertor grosso.

— Oi, mãe. - Finjo um sorriso.

— Oi, querida. Trouxe mais um cobertor para você, o tempo está esfriando. Acho que vai chover. - Diz prestativa.

— Obrigada. - Pego o cobertor de cor bege de suas mãos.

— Está tudo bem? - Ela estreita os olhos, me encarando com atenção. — Você parece deprimida.

— Só estou cansada. E acho que posso estar pegando um resfriado, também. - Minto.

— Ah, então fiz bem em trazer mais um cobertor! É melhor secar o cabelo também. Você trouxe secador? Se não, pode pegar o meu.

— Não, não é necessário. Eu só preciso dormir, só isso. - Insisto, segurando o cobertor com força.

— Tudo bem. Boa noite, docinho. - Mamãe se despede com um beijo em minha testa e sai.

Suspirando, fecho a porta e a tranco também. Deito em minha cama novamente e desdobro o cobertor para me enrolar. Viro o rosto para a janela, observando o céu noturno. Uma fina chuva começa a descer dele e eu encaro as gotículas de água escorrendo pela janela, disputando entre si quem chegará a base primeiro. Aposto em uma, mas ela une-se a outra e depois mais outra e então chega ao fim. Respiro fundo e viro-me para o outro lado em posição fetal e de olhos fechados. Não sei quanto tempo permaneço assim. Três batidas fortes e desesperadas na porta me obrigam a abrir as pálpebras. Mas que droga! Será que não posso sofrer em paz?

Suspiro exasperada e me levanto. Calço minhas pantufas de pinguins e vou em direção à madeira branca. Giro a chave, depois a maçaneta e então finalmente abro a porta. Quando encaro a pessoa em minha frente, meus olhos se arregalam e meu coração dispara. E por um breve momento, perco a fala.

— Jake? - Minha voz sai trêmula.

— Por favor, não chute meu saco. - E antes que eu possa sequer pensar em dizer alguma coisa, sua boca toma a minha com urgência. De repente, é como se eu fosse feita de eletricidade. Levanto meus braços para enlaçar seu pescoço, mas a cena dele e Brittany aos beijos algumas horas atrás me vem à memória, e eu me afasto bruscamente.

— Por que está fazendo isso comigo? - Dou três passos cambaleantes para trás, e ele franze o cenho. — Eu vi você e Brittany hoje à tarde.

— Você estava lá? - Pergunta, surpreso.

— Estava passando de carro. Eu ia conversar com Britt, mas vi vocês dois e... e não quis atrapalhar. - Engulo em seco, segurando a vontade de chorar. Estou me sentindo a Grace de dois anos atrás, quando Brandon partiu meu coração. Eu prometi para mim mesma nunca mais sofrer por garoto nenhum. Mas, aqui estou eu. Sofrendo em dobro.

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